quarta-feira, 28 de junho de 2023

The Byrds - Turn! Turn! Turn!

The Byrds - Turn! Turn! Turn!
Em meados dos anos 1960 muitos críticos e especialistas em música decretaram que o Rock americano estava morto e enterrado. Elvis estava afundando em trilhas sonoras pavorosas em Hollywood e os demais pioneiros do gênero como ele tinham decaído na carreira. Ninguém mais na América conseguia fazer frente à invasão britânica promovida por Beatles, Rolling Stones e cia. Durante essa fase apenas os Beach Boys conseguiam colocar a cabeça para fora do buraco. Com o The Byrds finalmente havia um segundo grupo de rock relevante para fazer frente aos britânicos. Esse álbum "Turn! Turn! Turn!" foi um enorme sucesso de público e crítica e até hoje é considerado a verdadeira obra prima dos Byrds. Tem uma sonoridade incrível e letras poderosas que fogem dos temas bobinhos que vinham infestando os discos dos roqueiros americanos. 

De certa forma é um disco que antecipava o que estava prestes a surgir no cenário como os Doors, que levariam à proposta de unir rock, filosofia e poesia às últimas consequências. De certa maneira o grupo só não foi maior por causa dos problemas internos e das próprias personalidades de seu integrantes pois nem sempre é uma boa ideia reunir tantos dândis poéticos em apenas uma formação. Mesmo assim deixamos aqui o registro dessa verdadeira obra de arte do rock americano dos anos 60. Esse é aquele tipo de disco que simplesmente não pode faltar em sua coleção. / The Byrds - Turn! Turn! Turn! (Estados Unidos, 1965) Estúdio: Columbia Records / Produção: Terry Melcher / Músicos:  David Crosby, Gene Clark, Michael Clarke, Chris Hillman, Jim McGuinn

The Byrds - Turn! Turn! Turn! (1965)
Turn! Turn! Turn! (To Everything There is a Season) 
It Won't Be Wrong
Set You Free This Tim
Lay Down Your Weary Tune
He Was a Friend of Mine  
The World Turns All Around Her
Satisfied Mind
If You're Gone 
The Times They Are a-Changin 
Wait and See 
Oh! Susannah.

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de junho de 2023

Eagles - Hotel California

Eu adoro o Eagles. Essa banda tem aquele sonzão poderoso da década de 70 que sempre me agrada. O meu primeiro álbum do Eagles, ainda na era do vinil, foi esse "Hotel California" que traz a música mais conhecida do grupo. Basta começar o excelente dedilhado de introdução para todos os ouvintes saberem de que música se trata. A canção é conhecidíssima e envolta em muitas lendas urbanas por causa de sua letra que para alguns é muito sinistra e sombria. Afinal o que seria o Hotel California? O purgatório? O próprio Hades? Cada um aparece com uma interpretação diferente o que mitifica ainda mais a música que é realmente maravilhosa. O Eagles é um dos grupos mais interessantes do country rock americano pois ao mesmo tempo em que são campeões de vendas de discos nunca perderam seu estilo muito singular, que qualifico tranquilamente como alternativo. Seu som único embala há gerações e eles ainda hoje seguem com o pé na estrada mostrando a vitalidade de seu nome mesmo nos dias de hoje. Sempre tocando em concertos com lotação esgotada por onde se apresentam o Eagles tem um público fiel, só comparado aos grandes nomes da história da música como Beatles, Elvis ou Pink Floyd.

Hoje eles soam bem mais comportados mas na década de 70 os membros do Eagles não eram nada fáceis. Suas histórias extravagantes durante as turnês são lendárias. Formado por grande beberrões e farristas o Eagles surpreende por ter sobrevivido àqueles anos alucinados. Viveram realmente o lema do "Sexo, Drogas e Rock n Roll" em plenitude. Esse álbum foi gravado naquela fase conturbada. Como viviam brigando entre si o Eagles teve muitas formações diferentes ao longo dos anos. Aqui o grupo surge pela primeira sem o membro fundador Bernie Leadon que resolveu deixar a banda para alcançar vôos solos. Sem dúvida uma grande perda pois além de ótimo vocalista era um letrista dos mais capazes. Mesmo com sua saída o grupo seguiu em frente, demonstrando que poderiam seguir sem Bernie.

O som aqui surge mais bem elaborado, com ótimos arranjos. Não há espaços em branco no som do Eagles. Há sempre uma guitarra solando no fundo (às vezes até duas ou mais) o que deixa a sonoridade encorpada e brilhante. Credito a Hotel California o título de um dos mais roqueiros trabalhos do grupo. Seu som ficou mais forte, com muita pegada. Um exemplo é a ótima "Life in the Fast Lane" onde Don Henley consegue uma vocalização extremamente bem integrada com a parte instrumental (há também um dos melhores solos do Eagles).  Don Henley aliás predomina na parte vocal, sendo seguido de perto por Glenn Frey e Joe Walsh, ambos em grande forma. Tanto bom gosto resultou em excelentes números. "Hotel California", o álbum, vendeu 16 milhões de cópias apenas nos EUA, um número fantástico. Junte-se a isso os 3 singles extraídos do disco (todos campeões de vendas) e você entenderá o sucesso do Eagles. Sua coletânea "Eagles Greatest Hits" vendeu inacreditáveis 42 milhões de cópias o que mostra a força do grupo dentro do mercado fonográfico. Isso porém é o de menos. O que vale a pena é sempre ouvir esses loucos maravilhosos e sua sonoridade única. Eagles é realmente tudo de bom.

Eagles - Hotel Califórnia (1976)
Hotel California
New Kid in Town
Life in the Fast Lane  
Wasted Time  
Wasted Time (Reprise)  
Victim of Love
Pretty Maids All in a Row
Try and Love Again
The Last Resort

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Pink Floyd - The Piper at the Gates of Dawn

A genialidade e a loucura são as duas faces de uma mesma moeda e o fundador e líder do Pink Floyd, Syd Barrett, comprovou isso com sua própria vida. Antes de enlouquecer completamente pelo uso abusivo das drogas lisérgicas tão em moda na época, ele teve tempo de registrar seu talento para a posteridade gravando o primeiro álbum de seu grupo chamado The Piper at the Gates of Dawn. O grupo formado em 1965 já tinha longa tradição no underground britânico, explorando um som inovador e de vanguarda, estando à frente de seu tempo com um som extremamente experimental e ousado. Syd Barrett, à frente do Floyd, não teve medo de arriscar, testando sonoridades, acrescentando sons eletrônicos, fazendo com que o Pink Floyd se tornasse uma experiência única, sem paralelos com nenhum outro grupo de rock da época. Tanto experimentalismo fez com o conjunto só tivesse a oportunidade de gravar seu primeiro disco no final de 1967. Nos estúdios, com todas as possibilidades da tecnologia de gravação à disposição, Barrett levou até as últimas consequências suas idéias.

Na maioria das músicas foi extremamente feliz, embora o excesso de psicodelismo e experimentalismo tenha prejudicado algumas das faixas, como por exemplo "Pow R. Toc H.", maluca demais até mesmo para um sujeito com um parafuso a menos como Barrett. Entre os destaques do disco temos "Astronomy Domine" que iria definir para sempre o som do grupo britânico, trazendo influência a todos os seus álbuns posteriores, com destaque para a obra prima Dark Side Of The Moon; "Interstellar Overdrive" que mostraria o virtuosismo instrumental dos membros da banda, "Chapter 24", uma das faixas mais acessíveis aos ouvintes e a ultra psicodélica "Bike", lembrando muito faixas do disco Sgt Peppers dos Beatles como "Being For The Benefit Of Mr Kite". Infelizmente a fase Syd Barrett iria durar pouco. O líder do Pink Floyd logo iria perder o sentido de realidade, sendo afastado do grupo meses depois. Sem a mente pensante de Barrett os membros restantes do Floyd iriam passar por uma fase de transição, sem saber direito que rumo tomar. Com Roger Waters e David Gilmour à frente do grupo, o Pink Floyd só iria reencontrar seu rumo definitivo anos depois, em plenos anos 70, onde se consagraria com alguns dos discos mais essenciais da história da música, gerando o nascimento do Rock Progressivo. Mas essa é uma outra história, que começou bem antes, aqui nesse álbum, fruto dos delírios geniais de Syd Barrett.

Pink Floyd - The Piper at the Gates of Dawn
Astronomy Domine
Lucifer Sam
Matilda Mother
Flaming
Pow R. Toc H.
Take Up Thy Stethoscope and Walk
Interstellar Overdrive
The Gnome
Chapter 24
Scarecrow
Bike

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de junho de 2023

The Beatles - Rubber Soul

O disco que marca o começo da virada na carreira dos Beatles. Não restam dúvidas que até determinado ponto da carreira os Beatles seguiram uma linha comercial onde pouco ou quase nada era permitido em termos de ousadia. Havia essa fórmula certa de sucesso que os Beatles seguiram em todos os seus primeiros discos. Letras falando de amores juvenis, nada de muito ousado ou desafiador. De fato falando sinceramente o grupo seguiu direitinho a cartilha imposta pela gravadora Odeon. “Rubber Soul” não sai muito dessa linha é verdade mas já podemos perceber nitidamente espasmos de criatividade.

Isso se torna perceptível logo na segunda faixa do disco na canção "Norwegian Wood (This Bird Has Flown)" de autoria de John Lennon. Nela ouvimos um arranjo bem original com uso de vários instrumentos orientais, indianos, algo que realmente fugia do esquema Guitarra, baixo, violão e bateria. Além disso a música era muito autoral onde Lennon recordava de um encontro extra conjugal que havia tido com uma garota. Na ocasião ela acabou elogiando os próprios móveis de seu apartamento e Lennon usou isso como tema da canção pois o tipo de madeira era bem comum, ordinário, nada sofisticado como a própria moça que sequer havia se apercebido disso. Esse jogo de ideias seria a tônica de John em suas futuras composições, algumas tão herméticas que muitas vezes apenas John e pessoas próximas compreendiam totalmente do que se tratava.

Outra faixa de “Rubber Soul” digna de nota é a própria “Girl”. Sob uma fachada comercial a baladinha tinha muito mais a dizer do que muitos percebiam. Era sobre a “garota perfeita”, idealizada, que todos nós um dia sonhamos ter como namorada. “Nowhere Man” é outro ponto marcante dessa lista de canções. Novamente Lennon escreve sobre si mesmo numa linguagem à la Bob Dylan (como ele gostava de se referir). John tinha essa personalidade angustiada, com toques depressivos que geravam ótimas letras. De fato ele aqui em “Rubber Soul” realmente começa a se soltar como compositor e criador. Seu lado mais centrado em si mesmo começa a dominar suas criações. A sucessão de clássicos de Lennon se fecha com a linda, maravilhosa mesmo, “In My Life”. Se havia algumas dúvidas sobre os rumos que sua poesia tomavam a partir dessa fase de sua vida “In My Life” vinha para esclarecê-las definitivamente. Aqui Lennon em tom de nostalgia lembra de seus tempos de infância e juventude, em um jogo de palavras muito lírico e evocativo que no final das contas consegue se comunicar com todos. É incrível como John Lennon conseguia escrever sobre si mesmo mas falando sobre temas universais, inerentes a todos nós. Impossível ouvir “In My Life”, por exemplo, sem ficar com imediato sentimento de nostalgia e saudade.

Paul McCartney curiosamente acabou seguindo um caminho bem oposto ao de seu colega de banda. Paul aparece em Rubber Soul com canções genéricas, de personagens criados como “Michelle”, que é meramente ficcional. Sua letra parcialmente em francês é uma curtição de Paul para com o romantismo descabelado das músicas românticas francesas. O resultado certamente ficou muito bonito mas como disse é mais um produto de Paul visando objetivos comerciais em essência. Harrison não produz nada de muito marcante no álbum assim como Ringo que se limita a participar cantando o simpático country "What Goes On". Em suma é isso. “Rubber Soul” é certamente uma mudança de rota, não tão radical quanto o sucessor “Revolver” mas mesmo assim já mostrando mudanças de ares significativas. Nos anos que viriam Paul faria mais canções de personagens e John ficaria cada vez mais autoral e egocêntrico e nesse processo os Beatles acabariam se tornando a maior banda de rock de todos os tempos.

The Beatles - In My Life

John Lennon nunca foi necessariamente um sujeito nostálgico. Na verdade ele pouco ligou para seu passado em Liverpool, tanto que depois que ficou rico e famoso praticamente não voltou mais para sua cidade natal. Quando sua tia Mimi se mudou de lá acabou-se mesmo qualquer motivo para Lennon voltar para o lugar onde nasceu. Ao invés disso ele procurou preservar em sua memória os anos de juventude e infância. Como o próprio John explicou em uma entrevista a canção "In My Life" surgiu dessa necessidade de se olhar um pouco mais para trás, relembrando os velhos tempos. Inicialmente John escreveu a letra, procurando colocar nela lugares e pessoas de seu passado, mas em pouco tempo percebeu que a ideia, embora fosse muito boa, não estava fluindo bem. A primeira versão tinha ficado "chata" em sua opinião.

Assim ele sentou-se com seu amigo Paul para reescrever a canção, que depois seria lançada no disco "Rubber Soul". Paul, que era um mestre em escrever sobre temas ficcionais, sem ligação direta com a realidade (como em "Eleanor Rigby", por exemplo), sugeriu que John seguisse essa linha mais imaginativa em sua letra. Seria como recordar dos velhos tempos para a pessoa amada, deixando claro para ela que que tudo aquilo não significava mais nada perante a importância de a ter encontrado em sua vida. De certa maneira era algo distante da ideia inicial de Lennon, mas como ele próprio havia reconhecido a coisa tinha ficado ruim e era necessário tomar um outro caminho.

A versão final que chegou até nós e que se tornou a gravação original é de uma singeleza ímpar! Lennon conseguiu captar com a melodia um claro sentimento de nostalgia, não apenas particular, referente ao próprio passado dele, mas sim universal, que diz respeito a todos nós. É o velho sentimento de que um dia todos encontraremos nossa alma gêmea que nos fará olhar para trás e reconhecer que apesar de tudo ela era aquilo tudo que todos estávamos buscando! Curiosamente embora estivesse casado há anos John Lennon não se sentia verdadeiramente no espírito da canção, já que ele ainda não havia encontrado a mulher definitiva de sua vida - que aliás acabaria sendo Yoko Ono, algum tempo depois. O mais crucial é que Lennon realmente acabou criando uma bela música, embalada por uma das mais bonitas melodias da carreira dos Beatles e isso, senhoras e senhores, definitivamente não é pouca coisa! 

The Beatles - Rubber Soul (1965)
Lado 1
1. Drive My Car
2. Norwegian Wood (This Bird Has Flown)
3. You Won't See Me
4. Nowhere Man
5. Think for Yourself"
6. The Word
7. Michelle

Lado 2
1. What Goes On
2. Girl
3. I'm Looking Through You
4. In My Life
5. Wait
6. If I Needed Someone
7. Run for Your Life

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de junho de 2023

Nova música dos Beatles?

Nova música dos Beatles?
O Paul McCartney soltou essa informação em uma recente entrevista na BBC. Haveria sim uma música inédita dos Beatles a ser lançada no mercado. Mas afinal que música seria essa? Acredita-se que seja a velha conhecida "Now and Then". Se for mesmo não tem novidade nenhuma nessa questão. 

Pior do que isso, essa canção já havia sido descartada por George Harrison no projeto Anthology. Seria a música trabalhada pelos 3 Beatles sobreviventes a ser lançado no "Anthology 3" nos mesmos moldes de "Free as a Bird" e "Real Love". Só que na época George Harrison achou a música fraca demais e disse que não iria trabalhar nela. Paul ficou desapontado e o CD saiu sem nenhuma novidade. 

Ao meu ver "Now and Then" é uma demo amadora muito mal acabada por John Lennon. Não haveria sentido em lança-la agora. John estava testando músicas para o álbum "Milk and Honey" e essa era uma das músicas que ele tentava finalizar. A questão é que se trata de um esboço, um borrão. Acredito que nem John Lennon estaria disposto a lança-la no mercado do jeito que estava. Era algo muito cru e primitivo. 

No caso acredito que Paul McCartney está pensando somente no lado financeiro da questão. Lançada como "A nova música dos Beatles" certamente iria vender muito e colocar os Beatles na mídia, como aliás já fez nesses últimos dias, sendo anunciada até mesmo no Jornal Nacional. Mas a despeito de tudo isso é bom ficar com as barbas de molho. Não tem muita novidade se formos pensar bem. 

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 15 de junho de 2023

The Beatles - Help!

Eu já peguei muita briga com fãs dos Beatles. Esses são tipos esquisitos que acreditam piamente que o grupo inglês inventou a música e nada existiu antes e nem depois deles. Eu posso falar porque ouço Beatles há mais de 30 anos então bagagem não me falta - nem de audição e nem de literatura pois já li muito sobre os cabeludos (hoje seriam apenas franjinhas, however). Escolhi Help para comentar hoje porque ele é o último álbum da fase chamada Yeah, Yeah, Yeah (ou Ié, Ié, Ié, como queiram). Aliás essa minha classificação já foi inclusive motivo de muita briga com outros fãs. Muitos acham que o disco não pode ser colocado na primeira fase porque é "revolucionário"! Mas revolucionário em quê? Aliás porque os fãs dos Beatles acham que tudo o que eles fizeram é necessariamente um marco? Caiam na real, os Beatles fizeram muita besteira também, canções tosquinhas, letras bobinhas e discos comerciais em essência, feitos para vender muito - como esse aqui, trilha sonora do filme Help! (que aliás é péssimo vamos convir).

Help não é revolucionário em nada, é um disco comercial até a medula (na Holanda sua capa vinha com uma enorme propaganda da Shell). Sim, é um produto para vender - e vendeu. Mesmo assim não deixa de ser um produto bem feito e coeso. As letras são tipicamente ié, ié, ié - "ela ama você, você me ama, todos se amam" conforme foi dito ironicamente pelo próprio John Lennon anos depois. Algumas faixas são tapa buracos mas há também grandes preciosidades no LP, entre eles aquela que talvez seja a melhor música da história do grupo, a bela "Yesterday" que é tão bem composta e executada que resistiu até mesmo à sua hiper-ultra-comercialização com mais de (dizem) mil regravações! Até cantor brega tem sua versão "iesterdei" para tocar em churrasco de casamento. Como sou chato e mala velha destaco como obras primas aqui apenas a já citada "Yesterday", "You're Going to Lose That Girl" (o trabalho de vocalização entre eles é brilhante e os arranjos pra lá de charmosos) e "Dizzy Miss Lizzy" (sim, embora nem seja uma música dos Beatles associo sua presença a um grito de socorro de Lennon pelo fim dessa fase engomadinha). 

 Já "Help" e "Ticket to Ride", bem mais conhecidas, não me empolgam. Alguém ainda aguenta ouvir explicações de que "Help" é um pedido de socorro de Lennon afogado pela fama? Ou seria socorro pelo abuso de drogas pois ele mesmo admitiu que os Beatles por essa época tomavam drogas até no café da manhã! Estava deprimido porque ficou rico e famoso?! Faz-me rir senhor Ono! Lennon era um chorão mesmo vou te contar! Já "Ticker to Ride" me soa repetitiva e sem direção. É uma canção pop para tocar nas rádios e nada mais. Pop comercial descartável. Finalizando quero dizer que "Help" não é revolucionário, não é a sétima maravilha do mundo e nem mudou a vida como a conhecemos. Também não foi o marco zero da história da música como alguns beatlemaníacos querem fazer crer. Faz parte da fase Ié, Ié, Ié. É um álbum pop comercial (com baixo teor roqueiro pra falar a verdade) que vale por algumas pequenas (e grandes) obras primas e só. No final é bem melhor do que o filme que sendo bem sincero nem precisava existir de tão ruim que é.

The Beatles - Help! (1965)
1. Help!
2. The Night Before
3. You've Got to Hide Your Love Away
4. I Need You
5. Another Girl
6. You're Going to Lose That Girl
7. Ticket To Ride
8. Act Naturally
9. It's Only Love
10. You Like Me Too Much
11. Tell Me What You See
12. I've Just Seen A Face
13. Yesterday
14. Dizzy Miss Lizzy

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

The Beatles - Beatles For Sale

John Lennon gostava de brincar dizendo que esse disco poderia ser apelidado de "Beatles Country and Western". A brincadeira tem sua razão de ser. "Beatles For Sale" é um disco um tanto diferenciado dentro da discografia do grupo. Na verdade o álbum foi ideia da gravadora EMI que vendo o fim de ano chegando pensou logo em lançar um novo LP da banda para aproveitar os festejos de fim de ano. O problema é que os Beatles nem tinham material suficiente para completar todo um disco. Eles estavam trabalhando demais, com um show atrás do outro e tinham esgotado todo o material inédito no disco anterior do grupo. Assim a fonte estava seca.

O problema é que George Martin se reuniu com os rapazes e juntos decidiram que sim, era possível gravar algo para ser lançado no natal e ano novo. Meio que na correria o grupo se reuniu e fez um levantamento do que havia á disposição. Havia algumas sobras das trilhas sonoras que não tinham sido utilizados em Help, por exemplo. "Eight Days a Week" era o maior exemplo disso. Entre tantos pedaços de gravações os Beatles ainda poderiam completar canções como "No Reply" e "Baby's in Black" que Paul adorava. No começo das sessões os Beatles ainda não tinham todo o material que precisavam para colocar um álbum de gravações inéditas no mercado, mas isso foi sendo superado com o passar do tempo.

Para tapar o buraco do resto do disco eles escolheram alguns covers que já tinha longo histórico com a banda nos concertos ao vivo durante todos aqueles anos, principalmente nos primeiros anos, nas excursões pela Alemanha. "Rock and Roll Music", por exemplo, fazia parte do repertório dos Beatles desde os tempos pioneiros no Cavern e em Hamburgo. Paul McCartney encaixou a linda "Words of Love" de seu ídolo Buddy Holly e assim o "Beatles For Sale" foi finalmente tomando forma. John Lennon também resgatou um velho tema que ele não havia trazido antes para os estúdios por um certo receio. "I'm a Loser" era autoral demais. A letra em primeira pessoa trazia o pensamento mais íntimo de Lennon. Ele nunca havia gravado antes com os Beatles algo assim tão honesto e verdadeiro. Como as músicas dos Beatles até aquele momento eram canções pop de amor com letras mais genéricas, Lennon tinha um certo temor de jogar algo tão pessoal assim no trabalho da banda. Paul adorou a canção desde a primeira audição e dessa forma ela foi incluída. Essa gravação acabou virando um marco pois Lennon adorou a experiência e a partir daí iria escrever canções cada vez mais pessoais, em primeira pessoa, expondo sem máscaras aquilo que pensava. Era uma evolução em relação aos primeiros discos, onde o tema geralmente girava em torno de romances adolescentes.

"Beatles For Sale" chegou nas lojas em dezembro de 1964, tal como a EMI tanto queria. Desnecessário dizer que foi outro pico de sucesso dos Beatles. Os rostos na capa mostravam quatro jovens com semblantes cansados. Não é para menos, as turnês sem fim tinham finalmente cobrado seu preço. O disco também não tem mais aquele pique todo que sempre caracterizou os primeiros trabalhos da banda. De qualquer modo é um disco dos Beatles em sua fase ié, ié, ié de excelente nível. Eles estavam deixando esse estilo em breve, mas o álbum em si ainda tinha grande qualidade artística. Definitivamente se há uma conclusão de tudo isso é a de que eles poderiam ser tudo, menos "losers" (perdedores) como pregava Lennon em sua imortal canção.

Beatles For Sale (1964)
No Reply
I'm a Loser
Baby's in Black
Rock and Roll Music
I'll Follow the Sun  
Mr. Moonlight  
Kansas City/Hey-Hey-Hey-Hey!
Eight Days a Week
Words of Love
Honey Don't
Every Little Thing
I Don't Want to Spoil the Party
What You're Doing
Everybody's Trying to Be My Baby 

Pablo Aluísio.

domingo, 11 de junho de 2023

The Beatles - A Hard Day's Night

Terceiro disco dos Beatles, a trilha sonora de A Hard Day´s Night chama a atenção por algumas de suas características mais marcantes. É incrível mas todas as músicas do álbum são de autoria de John Lennon e Paul McCartney. As pessoas não param para pensar sobre isso mas o fato é que na época eles eram pouco mais do que garotos, bastante jovens e inexperientes em projetos desse porte. Era uma trilha para um filme de um grande estúdio de Hollywood e mesmo assim os rapazes não se intimidaram. Eram realmente gênios musicais. Se formos analisar bem esse é o trabalho mais marcante da primeira fase da carreira dos Beatles. O pavoroso título nacional (Os Reis do Ié, Ié, Ié) de certa forma mostrava uma realidade dentro da musicalidade do grupo nesse momento de sua carreira.

Todas as faixas, sem exceção, são recheadas de letras sentimentais do amor adolescente perdido. Lennon anos depois faria sátira sobre isso mas o fato é que em essência foi cantando e compondo esse tipo de canção que o quarteto conquistou as paradas de sucesso do mundo. Em termos de arranjo o grupo mostrava seu lado mais influenciado por Bob Dylan e pelo folk americano. Unindo essas influências eles acabaram criando um som único, sem paralelos com a música popular da década de 60. Hoje soa pueril? A intenção deles era essa mesmo. Como bem resumiu Lennon os Beatles de certa forma se comportaram como um verdadeiro cavalo de Tróia. Inicialmente cantando sobre o amor inocente dos jovens da época, os Beatles conquistaram as paradas. Depois disso começaram a cantar sobre drogas e sexo. Dentro da seleção musical do disco os Beatles selecionaram sete das canções que eles consideravam as melhores para cantar no filme. As demais seriam usadas para preencher o lado B dos antigos vinis. É curioso que apesar das canções mais famosas e conhecidas estarem no lado A – como é natural – o outro lado do álbum também era recheada de belas canções, em especial "Any Time at All"  e "I'll Be Back"  que Lennon particularmente não gostava muito mas  que ainda hoje se sobressai pela pegada mais roqueira.

Entre as faixas mais conhecidas, que foram talhadas mesmo para estourar nas rádios, o destaque vai para a bela balada "And I Love Her", uma canção que já demonstra o grande talento de Paul McCartney para escrever inspiradas músicas de amor com arranjos ternos e delicados. A música foi feita por Paul para sua namorada na época, Jane Asher. Esse foi um dos casos mais sérios e compromissados que Paul se envolveu em sua vida. Os demais membros do grupo pensavam que ele se casaria com certeza com Jane nos anos que viriam mas infelizmente a união não foi em frente. Pelo menos deixou belas músicas como essa pelo caminho. Nada como uma grande paixão para compor grandes declarações de amor em forma de música. Outra canção da seleção que se destaca por seu lirismo romântico é "If I Fell" mostrando que Lennon não era apenas o Teddy Boy do grupo e que poderia facilmente liderar vocalmente uma bela balada sem problemas.

Anos depois, principalmente na década de 70, John iria fazer pouco caso de gravações como essa, querendo passar uma imagem de roqueiro durão mas não enganou ninguém. Esse disco foi escrito face a face entre ele e Paul e Lennon era tão romântico quanto o colega no que diz respeito a letras como essa. Seu cinismo característico talvez se sobressaía mais em faixas como “Can´t Buy Me Love” mas a canção mostrava que Lennon era excelente baladeiro (algo que iria se aproveitar e muito em sua discografia solo). Assim “A Hard Day´s Night” surge hoje em dia como exemplo típico do som que os Beatles desenvolveram em sua primeira fase. Letras românticas, pueris, arranjos tendendo para o folk americano, com uso inclusive de instrumentos tradicionais como gaita e um nítido sabor de namoro adolescente. Afinal os Beatles por essa época eram em essência um grupo amado pelos adolescentes da década de 1960 e sua música refletia isso. Só depois, dentro de alguns anos, é que eles chutariam o balde entrando de cabeça no movimento psicodélico mais porra louca dos 60´s. Mas isso é uma outra história que falaremos depois por aqui. Até lá.

The Beatles - A Hard Day's Night (1964)
A Hard Day's Night
I Should Have Known Better
If I Fell
I'm Happy Just to Dance with You
And I Love Her
Tell Me Why
Can't Buy Me Love
Any Time at All
I'll Cry Instead
Things We Said Today
When I Get Home
You Can't Do That
I'll Be Back

Pablo Aluísio.

terça-feira, 6 de junho de 2023

The Beatles - With The Beatles

A primeira composição de George Harrison a entrar em um álbum dos Beatles foi justamente essa gravação de "Don't Bother Me" que ouvimos nesse disco. Claro que com os anos George iria melhorar muito em termos de melodia e letra, mas aqui já demonstra bons sinais de seu talento. Não é uma grande canção, diria que é até mesmo uma criação básica, mas que serviu para quebrar o gelo. Além disso trazia em sua letra aspectos da própria personalidade do "Beatle quieto", afinal uma música que tinha uma mensagem de "Não me perturbe" não poderia ser mais característica do Beatle. Enquanto Paul sempre trazia o lado mais romântico e otimista e John surgia com o rock mais ácido e pessimista, George fazia contrabalanço aos dois, tentando aparecer e se esconder ao mesmo tempo no meio dos dois gênios.

"All My Loving" provavelmente seja uma das canções mais populares desse álbum. Embora muitos a associem a Paul exclusivamente, essa foi uma criação a quatro mãos, com Paul e John trocando ideias face a face. Claro que a letra foi criada quase que exclusivamente por McCartney, baseada em seu relacionamento com a atriz Jane Asher, porém John apareceu dando importantes dicas no desenvolvimento da melodia em si. Para John a canção tal como fora apresentada pela primeira vez por Paul nos estúdios Abbey Road ainda não tinha o pique necessário. Foi John então que a acelerou um pouco, trazendo mais vida para a música. Ficou excelente após a colaboração de Lennon. George Martin decretou após ouvir o primeiro ensaio: "É isso, está perfeita, vamos gravar!". Voltando para a letra seria interessante dar uma olhada em seus versos: "Feche os olhos e eu te beijarei / Amanhã sentirei sua falta / Lembre-se que sempre serei verdadeiro / E quando eu estiver longe / Vou te escrever todo dia / E mandar todo meu amor pra você / Vou fingir que estou beijando / Os lábios dos quais sinto falta / E torcer para meus sonhos virarem realidade".

Eu poderia classificar esse tipo de sentimento presente na letra como um amor adolescente, algo que poderia ter sido escrito por um colegial apaixonado pela garota da escola. Não estou escrevendo isso para desmerecer Paul como letrista, mas sim para salientar como é também arriscado escrever canções de amor para o público jovem. Paul, como bem demonstrou o sucesso da balada, acabou acertando em cheio. Até porque o público dos Beatles por essa época era formado basicamente por jovens histéricas que gritavam pelos membros do grupo nos shows. Foi justamente para essas fãs que Paul escreveu essas palavras. Nada mais complicado do que captar o sentimento dessas garotas em versos e melodia.

Desde o primeiro álbum os Beatles sempre deixavam uma música, geralmente a mais simples, para o baterista Ringo Starr cantar. Virou uma tradição que foi sendo seguida até o último disco. Embora Ringo não tivesse um grande talento vocal, seu timbre de voz era interessante, ideal para rocks mais agitados ou então músicas com sabor country and western. No caso do "With The Beatles" Paul e John reservaram para ele a agitada "I Wanna Be Your Man" que inclusive acabou virando um ponto alto também nos concertos ao vivo do grupo. Ringo sempre muito animado criava um verdadeiro frisson entre as fãs quando mandava ver na apresentação dessa canção. O interessante é que os Beatles não foram os primeiros a gravarem a canção. John Lennon havia dado de presente aos Rolling Stones a música. Eles a gravaram e a lançaram em fins de 1963.

O single com "Not Fade Away" no Lado A foi um dos primeiros sucessos do grupo de Mick Jagger. Talvez esse sucesso todo tenha incomodado um pouco John que resolveu que os Beatles iriam colocá-la em seu novo álbum, algo que os Stones não esperavam. Em entrevistas feitas anos depois John Lennon deixou escapar um certo ressentimento pelo fato dos Rolling Stones terem feito sucesso com uma canção escrita por ele. Chegou até mesmo a desmerecer a música, dizendo que nunca daria algo realmente bom para os Stones gravarem. Foi algo meio rude de sua parte.

"Roll Over Beethoven" era um cover dos Beatles para um velho sucesso de Chuck Berry. Não era surpresa para ninguém que os Beatles adoravam a primeira geração do rock americano, com destaque para Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly e claro o próprio Chuck Berry. A letra era uma gozação de Berry para com os críticos da época que diziam que o Rock ´n´ Roll era um tipo de música muito simples, com letras fracas e melodias primárias. Tudo isso era compensado com a vibração da canção. O interessante é que os Beatles poderiam ter incluído nas faixas do disco dois dos maiores sucessos da banda na época como "She Loves You" e "I Want To Hold Your Hand". O problema é que as gravadoras não incluíam músicas lançadas em singles nos álbuns, nos LPs. Um erro que atingiu a discografia não apenas dos Beatles, mas de outros grandes artistas do rock também. Uma forma de pensar equivocada. Sem ter músicas originais inéditas para tantos lançamentos o jeito foi mesmo gravar esse cover, que aliás ficou excelente, recebendo elogios do próprio Chuck Berry.

"Little Child" era uma composição de Paul McCartney, ou como gostava de dizer John Lennon "Uma filha de Paul". O tema romântico, com temática adolescente, era bem a marca registrada do baixista dos Beatles por essa época. Inicialmente Paul pensou em dar a música para Ringo cantar, mas depois desistiu. A letra começa simples, com o autor em primeira pessoa pedindo para dançar com uma garota. Letra simples, bem derivativa dos temas da época. Poderia ter contado com alguma contribuição de John, mas para falar a verdade ele era cínico demais para temas tão pueris como esse."Hold Me Tight" tinha uma pegada bem mais forte. Outra faixa que muitos autores atribuem ao próprio Paul McCartney, muito embora aqui John Lennon também tenha contribuído mais intensamente. Nessa época os Beatles estavam preocupados mesmo em escrever sucessos de rádio, por isso as músicas seguiam uma certa fórmula. Nessa faixa em particular eles repetiram o uso de palmas pontuando o ritmo da canção. O vocal de Paul intercala com John, dividindo o mesmo microfone. Uma música que sempre me agradou, tendo inclusive feito parte também do raro disco "Beatles Again".

"You Really Got a Hold on Me" era um cover. Nesses primeiros álbuns do grupo havia mesmo a necessidade de cantar canções de outros artistas já que os Beatles não tinham tantas músicas prontas para fazer parte do repertório. Paul e John eram até muito produtivos, o que significavam que compunham muitas músicas juntos, mas também tinham um senso crítico muito forte o que deixavam muitas delas fora dos discos. Só entrava o que eles consideravam ter qualidade. A faixa começa com George solando sua guitarra. O ritmo é cadenciado, com toques mais românticos. Algo até esperado já que a música original dos Miracles vinha da safra de artistas negros da Motown, um verdadeiro celeiro de talentos de Detroit, uma gravadora que os Beatles particularmente gostavam muito. A letra é praticamente uma carta de amor de alguém apaixonado por uma garota que não corresponde a esse sentimento (bem adolescente). "Você realmente me pegou" é uma frase que resume. Eu não deveria amar você por tudo, mas quem controla as próprias emoções? Pois é... complicada a situação.

Esse álbum "With The Beatles" tem uma sonoridade tão agradável de se ouvir. Mesmo após tantos anos ainda considero um prazer colocar esse álbum para apreciar as músicas. O grupo também parecia extremamente entrosado, efeito, é claro, de uma banda que vivia na estrada fazendo shows ao vivo. A prática, já dizia o sábio, leva à perfeição. A excelente qualidade do conjunto, do repertório das músicas, começava já desde a primeira faixa. Bastava colocar a agulha no LP, no vinil, para começar a ouvir os primeiros acordes. "It Won't Be Long" é um reflexo desse entrosamento do quarteto. Eles gravaram essa música, que pode até ser considerada um pouco complicada de tocar, em poucos takes. Sua estrutura rítmica sui generis levou um crítico americano a dizer que a canção tinha "cadências elóicas"

A estranha designação virou uma piada dentro da banda, entre os próprios Beatles. John e Paul, autores da música, não tinham a menor ideia do que isso significava. Brincando sobre o fato Paul ironizou, muitos anos depois, dizendo que a crítica não fazia o menor sentido e que ele, mesmo após anos de carreira, continuava sem saber do que se tratava! Brincadeiras à parte, é inegável reconhecer que se trata de uma excelente gravação do grupo. Eles estavam tinindo nos estúdios Abbey Road quando gravaram essa canção. Já "Please Mister Postman" era um cover do som da Motown. Quem diria, os ingleses brancos revisitando a música negra americana. Eles curtiam muito a sonoridade dos artistas da gravadora de Detroit. A música já vinha sendo apresentada pelo grupo desde os primeiros shows na Alemanha, em Hamburgo, sendo por isso uma opção natural para compor esse segundo álbum dos Beatles. Seria mais fácil de gravá-la após tantos anos e era uma maneira de agradar os americanos, pois o empresário Brian Epstein já estava de olho no mercado dos Estados Unidos. Se os Beatles conquistassem seu lugar ao sol dentro da terra do Tio Sam nada mais poderia parar seu sucesso. Algo que se confirmaria no ano seguinte quando o grupo finalmente aterrissou no país de forma gloriosa para dar o pontapé inicial na Beatlemania que conquistaria o mundo.

Essa canção "All I've Got To Do" fez parte do disco "With The Beatles", o segundo álbum do grupo na Europa. Já nos Estados Unidos ela foi lançada como parte do LP "Meet The Beatles". Como se sabe no começo da carreira dos Beatles havia uma diferença entre a discografia inglesa e americana. Só tempos depois é que tudo foi unificado, sendo os discos lançados na Inglaterra considerados os oficiais. A canção conta com o vocal principal de John Lennon, com aquela voz bem característica que todos os fãs conhecem. O curioso é que Lennon explicaria anos depois que a música tinha sido uma influência do chamado "som da Motown", a gravadora americana especializada em música negra. John diria que ele estava tentando trazer um pouco da sonoridade de Smokey Robinson, do grupo The Miracles, para os discos dos Beatles. Penso que embora tenha sido esse o objetivo, essa canção romântica tem identidade própria, que resultou igualmente numa boa gravação por parte do quarteto. É simples, romântica e muito eficiente, funcionando muito bem dentro do repertório do disco.

De autoria do compositor Meredith Willson temos "Till There Was You". Ele era conhecido na época de sua auge de sucesso como o "The Music Man" pois era conhecido por escrever grandes sucessos musicais para a Broadway em Nova Iorque e para a indústria do cinema americano na costa oeste. Ele era talentoso e muito solicitado. Acabou se tornando um dos compositores mais ricos da indústria fonográfica americana. Quem trouxe essa bela balada para o disco dos Beatles? Certamente foi Paul McCartney que adorava seu estilo mais Old School. Lembrando que ela ganhou também um belo arranjo nos estúdios Abbey Road, com destaque para o inspirado violão solado por George Harrison e a percussão providenciada por Ringo Starr.

De certa maneira tem um estilo que nos lembra os antigos boleros caribenhos, que naquela época, não podemos deixar de lembrar, estavam em alta, inclusive na Europa e Estados Unidos. Havia muitas boates de sucesso que apelavam justamente para esse lado mais hispânico, caliente, algo que se pode ver em qualquer registro cinematográfico daquele período. Basta lembrar de casas noturnas de sucesso por todos os Estados Unidos como a Tropicana. a Copacabana e a Tropical de Nova Iorque. Será que os Beatles estavam de olho nesse tipo de mercado? Afinal eles vinham de Hamburgo onde trocaram em muitos locais parecidos. É de se pensar nessa hipótese.

Esse segundo disco dos Beatles foi gravado em uma época que o grupo estava cumprindo uma série de obrigações contratuais. Além dos shows havia um contrato onde os Beatles tocavam na rádio BBC de Londres. Assim, para que tudo coubesse dentro dessa agenda apertada, os Beatles decidiram facilitar as coisas. E isso significava usar algumas músicas covers que eles estavam tocando na BBC em seu novo disco. Afinal essas músicas já estavam ensaiadas e os Beatles devidamente familiarizados com essas faixas, poderiam gravar tudo de forma mais rápida. No estúdio não haveria tanto problema em finalizá-las.

"Devil in Her Heart" era um cover nessa linha. Quem sugeriu a gravação foi Paul McCartney. Esse tipo de música os Beatles utilizavam em suas apresentações, pois tinha aquele jeitão de bolero, ideal para os clubes em que os Beatles se apresentavam em seus primeiros anos de carreira. Era aquele tipo de baladona usada para que todos dançassem de rostinho colado. Bem de acordo com os clubes noturnos por onde eles passavam. Tempos duros, mas também de aprendizado nesse tipo de palco. Se a música anterior era romântica e nostálgica, essa "Money" era puro rock ´n´roll, ideal para John Lennon desfilar sua marra de rebelde ao estilo James Dean. Com letra cortante e direta, era aquele tipo de som usado nos shows em inferninhos, quando os Beatles queriam incendiar a apresentação, colocando todos para dançar. Curiosamente "Money" acabou sendo comparada a "Twist and Shout" do primeiro disco. Realmente havia muitas semelhanças. Além de ser um rock pra cima, ainda contava com uma vocalização bem parecida com John Lennon cantando com a voz bem rouca e surrada.

"Not a Second Time" era uma original dos rapazes, com autêntico selo de originalidade da dupla Lennon e McCartney. Houve uma certa discussão dentro do estúdio sobre qual seria o melhor arranjo para a música. Nesse caso George Martin, o produtor das sessões, foi figura importante, dando dicas e contribuindo pessoalmente na seleção de instrumentos, inclusive ajudando em um belo solo no meio da música, algo que a marcou muito. Basta ouvir essas notas, seja tocada em piano ou violão, para reconhecer imediatamente a faixa. O vocal principal ficou com John Lennon, embora a música também fosse ideal para Paul McCartney, caso ele quisesse cantar a música no estúdio.

Panlo Aluísio.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

The Beatles - Please Please Me

No inicio os Beatles só queriam ser aceitos. Quando chegaram na EMI para suas primeiras gravações eles apenas queriam ser aprovados. O grupo vinha de uma experiência infeliz na Decca onde um executivo mal humorado lhes tinham dito que “Ninguém mais está interessado em grupos de rock como o de vocês!”. Desanimados mas não derrotados os Beatles continuaram sua saga atrás de alguma gravadora que lhes aceitassem. Eles já tinham gravado profissionalmente na Alemanha como o grupo de apoio de Tony Sheridan mas não era a mesma coisa. Eles queriam ser reconhecidos por seus próprios talentos, cantando suas próprias músicas. Na EMI conheceram o educado e simpático George Martin que resolveu dar uma chance ao grupo. Ele comandava o selo Parlophone, especializado em discos de comédias e gravações sem muita importância comercial. Querendo diversificar Martin acabou vendo naqueles rapazes uma promessa. Após as primeiras audições ele percebeu que havia muito trabalho a fazer. Os rapazes eram muito crus ainda. Suas composições eram bem  interessantes mas tinham que ser melhoradas dentro do estúdio. Martin também não gostou muito de seu baterista, o tímido Pete Best. Sugeriu que o usassem apenas nos shows e que dentro do estúdio fosse utilizado o baterista da própria EMI, um músico contratado. John e Paul acreditavam que seria melhor trazer outro músico melhor. Foi assim que Ringo Starr entrou na história dos Beatles.

Please Please Me foi o primeiro álbum da banda. Fruto de muito empenho pessoal de Brian Epstein, o disco de estréia daqueles quatro rapazes de Liverpool finalmente se materializava. A seleção musical misturava covers de outros grupos e cantores com composições próprias de John Lennon e Paul McCartney, os líderes da banda. A música título era uma variação da musicalidade de Roy Orbison pois Lennon era fã do cantor americano. Na primeira vez que ouviu a música George Martin acho seu ritmo muito fora de tom. Depois de conversar com Paul e John finalmente chegou numa boa versão, com ótimo ritmo. No total foram registradas 14 canções, sendo sete delas composições de Lennon / McCarney, uma dupla que criaria nos anos seguintes algumas das canções mais populares do século XX. O disco foi gravado praticamente ao vivo dentro de estúdio. Tudo se resumia em ligar os instrumentos diretamente nos equipamentos de gravação e mandar ver. Por isso não prospera a velha tese de que os Beatles não eram bons ao vivo, que erravam e tocavam mal. Não é verdade. Para entender basta ouvir essas gravações e os registros que os Beatles fariam depois na rádio BBC. Material gravado ao vivo, de ótima qualidade. Na última gravação do dia, “Twist and Shout” a voz de John Lennon estava em frangalhos, o que trouxe uma vocalização única na faixa. Essa aliás acabou sendo uma das mais famosas canções do disco, um símbolo da primeira fase dos Beatles. O disco chegou nas lojas em março de 1963 e logo se destacou nas paradas. O próprio empresário Brian Epstein deu uma forcinha adquirindo um lote completo de cópias para suas lojas de discos, assim os Beatles começariam a aparecer entre os mais vendidos logo nos primeiros dias de lançamento. O resto é história. “Please Please Me” marcaria o começo de uma nova fase na história da música mundial. Uma revolução de proporções épicas. E pensar que tudo isso começou naquela tarde em que os Beatles só desejavam ouvir um “sim” da poderosa EMI.

1. I Saw Her Standing There  (Lennon / McCartney) - Os Beatles abrem seu primeiro disco com essa composição própria. Esse foi um diferencial importante para o quarteto inglês já que desde os primórdios sempre fizeram questão de compor suas próprias canções. Claro que sendo seu primeiro álbum ainda havia uma certa insegurança em lidar apenas com material escrito por eles mesmos, por isso há entre as faixas do disco alguns covers de outros artistas que os Beatles gostavam (fórmula inclusive que se repetiria em seu segundo álbum e que de certa forma seria descartada no disco "A Hard Day´s Night"). Em relação a "I Saw Her Standing There" o que mais importante temos a dizer é que se trata daquilo que gosto de chamar de "música de palco". Aquele tipo de rock feito para levantar o público durante os concertos. Por isso a sequência númerica em sua introdução e a extrema vibração ao longo de todo o número.

2. Misery (Lennon / McCartney) - Durante um certo tempo o grupo pensou em colocar "Besame Mucho" nesse disco, mas a ideia foi afastada por Paul pois em suas próprias palavras isso o retratava como um "músico de cabaret". De uma forma ou outra a sugestão foi colocada de lado, até porque os Beatles já a tinham gravado em outra ocasião, com um resultado abaixo do esperado (falaremos mais sobre isso em outra ocasião). "Misery" foi composta face a face entre Paul e John, porém Lennon a considerava uma criação mais dele do que de Paul. A letra com sabor até mesmo country, já trazia alguns aspectos sombrios e pessimistas que iriam caracterizar bastante a obra de John Lennon nos anos seguintes. Ele aliás costumava brincar dizendo que Paul sempre surgia com otimismo e pensamentos positivos, enquanto ele gostava de adotar posturas mais pessimistas, isso quando não era completamente sarcástico e mordaz.

3. Anna (Go to Him) (Alexander) - Primeiro cover dos Beatles no disco. Essa canção gravada originalmente pelo próprio autor Arthur Alexander no selo Dot Records era apenas uma das dezenas que os Beatles usavam em seus shows. É nitidamente uma balada de bailinho, para se dançar com o rosto colado. Numa época em que o quarteto fazia longas apresentações na Alemanha, algumas delas durante quase quatro horas, era necessário fazer e lançar mão de praticamente tudo que estivesse nas paradas. Como eles tinham tocado muito a música nessas ocasiões resolveram encaixar no álbum, já que seria facilmente gravada - afinal eles já estavam mais do que afiados na execução da canção. Um belo momento romântico do disco que acabou fazendo um considerável sucesso no Brasil já que a canção se chamava "Anna", um nome comum em nosso país.

4. Chains (Goffin/King) - Outra que segue a lógica da gravação anterior. Era mais uma balada que os Beatles já estavam calejados de tanto que a tocaram ao vivo. Para mudar um pouco deram parte da vocalização principal para George Harrison que nessa época ainda não compunha, se limitando a ser apenas o talentoso guitarrista solo do grupo. Também conviver com a enorme sombra de Paul e John não deveria ser muito fácil. Para piorar Lennon o considerava quase como apenas um pupilo, já que a diferença de idade entre eles sempre pesou muito na relação. Mais tímido do que os demais membros do grupo, se assumindo como um Teddy Boy consumado, sem pretensão de bancar o intelectual, Harrison levaria ainda alguns anos para se firmar como mais um elo criativo dentro dos Beatles.

5. Boys (Dixon / Farrell) - Ringo Starr nunca foi o melhor cantor do mundo. Na verdade ele destruiu algumas canções dos Beatles, como por exemplo, "Good Night" do White Album, que exigia uma voz mais suave e melódica. Lá infelizmente Ringo não tinha o timbre adequado. Na verdade seus talentos como cantor se enquadravam bem em countrys e rocks mais agitados. Em "Boys" deu certo. A música, um rock com muita vibração, caiu como uma luva para sua voz rústica da classe operária de Liverpool. Curiosamente, por causa da pressa em que o álbum foi gravado (afinal tempo era dinheiro para a EMI), "Boys" ficou pronta em apenas um take, gravado ali, ao vivo, com todos tocando juntos. Por isso muitos qualificam esse primeiro disco dos Beatles como um "disco ao vivo gravado em estúdio" (por mais contraditória que essa expressão possa parecer). 

6. Ask Me Why (Lennon / McCartney) - Por muitos anos, por ser uma baladinha, "Ask Me Why" foi considerada uma filha de Paul. Afinal ele sempre foi o grande compositor de músicas românticas dos Beatles. Anos depois porém o mistério foi decifrado pois ao que tudo indica a canção foi escrita quase que noventa por cento por John Lennon. Paul apenas deu retoques finais em sua melodia. Uma surpresa encontrar uma música tão terna provindo do áspero John Lennon. Por ter uma boa sonoridade e vocação para as paradas o produtor George Martin a colocou como lado B do single "Please, Please Me". Uma decisão acertada já que a outra canção que os Beatles queriam colocar no segundo lado do compacto era muito fraca mesmo. Essa música chamada "Tip of My Tongue" foi assim deixada de lado pelo grupo.

7. Please Please Me (Lennon / McCartney) - Inicialmente essa música tinha uma pegada à la Roy Orbison. Era chorosa e com ritmo bem delicado, quase parando. George Martin ouviu a música nesse estilo e não gostou. Na verdade ele queria que os Beatles gravassem outra música naquele dia. Os rapazes porém insistiram em gravar uma composição própria e não "How Do You Do It", a preferida do produtor. Sob sugestão de George Martin finalmente chegaram um consenso. Os Beatles aceitavam acelerar mais a velocidade da música e em contrapartida George Martin topava colocar a canção como carro-chefe do próximo single dos Beatles. E assim foi feito. É um dos grandes clássicos do grupo, embora o tempo a tenha deixado um pouco datada hoje em dia.

8. Love Me Do (Lennon / McCartney) - Essa música abria o antigo lado B do disco. "Love Me Do" é o verdadeiro estopim da carreira dos Beatles, a canção que os colocou no mapa. John e Paul a criaram ainda na Alemanha, por volta de 1958 ou 1959 (nem eles sabiam direito). Por anos a canção fez parte do repertório de shows do conjunto, afinal eles sempre tiveram especial orgulho de suas próprias composições. Quando pintou a primeira grande oportunidade de gravar em uma grande gravadora (a EMI) eles nem pensaram duas vezes e sugeriram a George Martin sua "obra prima" Love Me Do. A primeira gravação contou com Pete Best na bateria, mas Martin achou seu desempenho medíocre - o que indiretamente abriria o caminho para Ringo Starr entrar nos Beatles. Revista hoje em dia talvez possa ser considerada a mais pueril música do grupo, afinal de contas eles eram apenas garotos quando a criaram.

9. P.S. I Love You (Lennon / McCartney) - Esse é aquele tipo de música que você tem a clara impressão que já ouviu antes, com outros artistas. Paul e John eram acima de tudo grandes fãs de música americana e assim eles de certa forma compilaram nessa canção alguns clichês que faziam parte do repertório dos principais grupos que gostavam e ouviam. Derivativa, mas muito charmosa, "P.S. I Love You" vence a luta contra o lugar comum por causa de sua bela melodia e pelos bons arranjos vocais que a acompanham desde o começo. Aqui não há muito o que discutir pois é uma composição de Paul McCartney que já demonstrava desde muito cedo ser um letrista excepcional para canções e baladinhas românticas. Também é uma velha conhecida dos fãs do grupo já que os Beatles a usaram de forma exaustiva nos palcos de Liverpool antes de sua gravação. Acabou sendo escolhida por isso para ser o lado B do single inglês "Love Me Do" por George Martin.

10. Baby It's You (David / Williams / Bacharach) - Esse é um cover dos Beatles para um sucesso do The Shirelles, um grupo vocal negro formado por maravilhosas cantoras que conseguiram se tornar o primeiro grupo feminino afro-americano a atingir o topo de sucessos da Billboard Hot 100, um feito incrível para os anos 1960, principalmente em uma sociedade com tantos problemas raciais como a norte-americana na época. A versão dos ingleses cabeludos segue praticamente passo a passo a gravação das garotas do Shirelles. Não há grandes diferenças entre as duas versões. Foi colocada no álbum por sugestão de John Lennon que estava muito interessado no som de grupos negros, principalmente os que faziam parte do elenco de artistas da gravadora Decca.

11. Do You Want To Know A Secret? (Lennon / McCartney) - Uma canção escrita por Paul e John baseado no famoso clássico Disney "Branca de Neve e os Sete Anões". Fazia parte das memórias afetivas de Lennon, pois sua mãe Julia costumava cantar as canções do filme para ele quando ia dormir. Embora seja tão pessoal, Paul também contribuiu muito, criando inclusive o pegajoso refrão. No estúdio eles acabaram por se decidir em dar a música para George Harrison cantar. Inicialmente Paul a gravaria, mas John achou por bem que todos os membros do grupo tivessem ao menos uma música como vocalista principal nos discos dos Beatles. Muitos anos depois, um pouco irritado com George Harrison por causa dos problemas com a Apple, John afirmou com sua conhecida veia mordaz que havia dado a música para Harrison cantar como uma "espécie de esmola" já que ele não era considerado um bom cantor pelo restante do grupo. Segundo Lennon: "Do You Want To Know A Secret tinha apenas três notas e ele (George Harrison) não era o melhor cantor no mundo".

12. A Taste of Honey (Scott / Marlow) - Talvez seja a pior faixa do álbum, com um arranjo vocal muito pretensioso que hoje em dia soa desconfortável aos ouvidos. Seu exótico ritmo talvez se explique pelo fato da mesma ter sido composta baseando-se em uma peça teatral de sucesso na época. Daí vem sua dramaticidade. A versão dos Beatles é apenas ok. Provavelmente foi colocada no disco para preencher mais espaço e tempo, afinal o álbum foi planejado para ser lançado com quatorze músicas, o que era acima da média na indústria fonográfica daqueles tempos. O mais comum eram discos com dez ou no máximo doze faixas. Muito provavelmente George Martin tenha lotado o disco de canções como forma de convencer o consumidor a comprar o LP de estréia daqueles jovens novatos.

13. There's A Place (Lennon / McCartney) - A última canção composta por Paul e John em seu disco de estréia. Mais uma que foi inspirada no cinema. Aqui Lennon apenas aproveitou uma frase da música "Somewhere" do filme West Side Story que dizia: "Somewhere there's a place for us". Já que havia em algum lugar um cantinho para esses jovens apaixonados viverem felizes, John completou a ideia com uma afirmação de que, sim, havia mesmo um lugar para eles. Não seria necessariamente um lugar físico, poderia ser apenas uma abstração na própria mente, onde eles viveriam felizes, mas de fato esse lugar existiria. Gosto muito dessa letra pois já mostra um lado de John em que ele imagina um lugar ideal (ecos da futura Imagine? Pode ser). Ele provava assim que desde jovem já tinha uma visão bem abstrata do mundo ao seu redor. 

14. Twist and Shout (Medley / Russell) - A sessão de gravação do disco já estava em seu final quando os Beatles puxaram um último fôlego para finalizar essa música. A voz de John Lennon já estava em frangalhos, o que de certa forma acabou combinando com a essência da música em si. Além disso a forma como John canta a música acabou lhe dando sua característica mais conhecida. Depois que foi utilizada na trilha sonora do filme "Curtindo a Vida Adoidado" acabou ficando ainda mais conhecida e famosa para as novas gerações. No geral é aquele tipo de rock mais visceral que John Lennon queria trazer para os discos dos Beatles, afinal de contas ele próprio se auto intitulava "uma velha orquestra de rock ´n´ roll".

The Beatles - Please Please Me (1963) - John Lennon (vocal, guitarra e gaita) Paul McCartney (vocal, backing vocal e baixo) George Harrison (guitarra, vocal e backing vocal) Ringo Starr (bateria, vocal e percussão) / Produzido por George Martin / Data e Local de Gravação: Abbey Road Studios - 11 de Setembro de 1962, 26 de Novembro de 1962 e 11 de Fevereiro de 1963 / Data de Lançamento:  22 de Março de 1963 (mono) 26 de Abril de 1963 (estéreo) / Singles extraídos desse Álbum: 1."Love Me Do" Lançamento: 5 de Outubro de 1962 / 2."Please Please Me" Lançamento: 11 de Janeiro de 1963 / 3."Twist and Shout" Lançamento: 2 de Março de 1964 / 4."Do You Want To Know A Secret" Lançamento: 23 de Março de 1964 / 5."Baby It's You" Lançamento: 20 de Março de 1995.

Pablo Aluísio.