sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Queen - Queen (1973)

Queen - Queen (1973)
Esse foi o primeiro disco do Queen. Completou 50 anos de seu lançamento original nesse meio de ano de 2023. O tempo passa voando mesmo, meus caros! Ouvir esse disco é também ouvir um grupo iniciante tentando encontrar um caminho a seguir. A metade das faixas foram compostas pelo próprio Freddie Mercury. Inclusive ele resolveu adotar esse sobrenome artístico por causa de uma das músicas do LP que evocava uma senhora, a mãe do Mercury. Não era necessariamente sobre sua mãe, mas uma personagem de ficção. O Freddie havia criado esse mundo imaginário, esse reino da fantasia, onde a maioria de suas canções se passava. Sem dúvida era um artista com muita imaginação e criatividade. 

Não há maiores hits nesse primeiro disco. Quem é marinheiro de primeira viagem na sonoridade do Queen vai passar por todo o álbum, da primeira à última faixa, sem reconhecer nenhuma canção. Normal, pois o sucesso deles nessa época foi mesmo limitado à Inglaterra. Só muitos anos depois, após a consagração mundial do grupo é que finalmente esse álbum seria premiado com disco de ouro nos Estados Unidos, por exemplo. Enfim, embora ainda um tanto crus e inexperientes no estúdio, os membros da banda já mostravam muito potencial nesse primeiro trabalho. O caminho do sucesso já estava começando a ficar bem pavimentado por aqui, nessa estreia. 

Queen - Queen (1973)
Keep Yourself Alive
Doing All Right
Great King Rat
My Fairy King
Liar
The Night Comes Down
Modern Times Rock 'n' Roll
Son and Daughter
Jesus
Seven Seas of Rhye

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Eagles - One of These Nights

Assim como aconteceu com o Pink Floyd o auge dos Eagles se deu nos 1970. Em meados daquela década o grupo estava super entrosado e afiado. As inúmeras turnês trouxeram uma maestria sonora ao grupo que jamais seria alcançada em nenhum outro momento de sua história. Some-se a isso o fato dos membros do conjunto estarem no auge de sua juventude, vivendo pelas estradas empoeiradas dos Estados Unidos o sonho de ser um rockstar. O bom momento se reflete justamente nesse excelente disco, "One of These Nights", que seria o quarto álbum do grupo e o antecessor imediato da obra prima deles, "Hotel California".

E basicamente o que temos aqui? Uma coleção primorosa de belos arranjos e letras acima da média. Assim que chegou nas lojas o público correu para transformar o vinil em um dos mais vendidos da história, com quatro milhões de cópias consumidas em poucas semanas. Isso abriu as portas do sucesso internacional ao Eagles que saiu em sua primeira turnê fora dos Estados Unidos. O resto é história. Embora hoje em dia o Eagles seja considerada apenas uma banda de rock country blues ao estilo jurássico, o fato é que o som das águias atravessou o tempo, comprovando a extrema qualidade de suas gravações, que resistiram bravamente ao teste do tempo. / Produção: Bill Szymczyk / Formato Original: Vinil / Músicos: Don Felder, Glenn Frey, Don Henley, Bernie Leadon, Randy Meisner

Eagles - One of These Nights (1975)
One of These Nights
Too Many Hands
Hollywood Waltz
Journey of the Sorcerer
Lyin' Eyes
Take It to the Limit
Visions
After the Thrill Is Gone
I Wish You Peace.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Pink Floyd - Atom Heart Mother

Para muitos “Atom Heart Mother” foi verdadeiramente o primeiro disco de rock progressivo da história. Uma tentativa do grupo inglês Pink Floyd em levar o rock a patamares sequer imaginados em seu modesto inicio. De uma música simples, com poucos acordes, tocada por apenas quatro ou cinco músicos para uma perfeita junção com a grandiosidade da música clássica. O que mais impressiona o ouvinte aqui é o grau de experimentalismo e ousadia da banda que não teve receio nenhum de inovar, buscar outros caminhos, trilhar uma sonoridade ainda inédita dentro do rock mundial. Nesse aspecto o Pink Floyd foi completamente revolucionário. Os membros do grupo usaram tudo o que tinham em mãos, sua experiência na fase Syd Barrett e as tentativas posteriores de criar um som próprio, único. O álbum é um impacto ao ouvinte. A primeira faixa (que ocupava todo o lado A do vinil) é uma overdose de arranjos, sons e peças instrumentais. São 23 minutos de perfeita união entre conceitos eruditos e rock! Aqui o Pink Floyd usou de tudo, desde instrumentos clássicos a vocais de ópera. Posso afirmar sem receios que nenhum conjunto de rock tinha sido tão inovador, nem mesmo os Beatles. Genialidade em notas musicais.

Já o Lado B do antigo vinil era um pouco mais familiar e convencional aos ouvidos. “If”, por exemplo, é uma linda balada com melódico dedilhado de violão. Tudo muito suave em ótima vocalização, quase sussurrada. Soa quase como uma proposta de relaxamento após o monumental Lado A do disco. Sendo sincero se não fosse as guitarras ao fundo, “If” poderia ser até mesmo classificada como uma doce cantiga de ninar, tamanha sua suavidade. O tom segue na faixa seguinte, “Summer 69” onde Richard Wright mostra todo o seu talento de compositor, pianista e vocalista. Uma canção evocativa que nos transporta imediatamente para aqueles anos maravilhosos. Considero Wright um subestimado dentro da música do Pink Floyd. Não teve o reconhecimento devido. A última canção mais, digamos, convencional do álbum é “"Fat Old Sun" onde quem dá as cartas é o guitarrista David Gilmour. Encerrando esse grande disco temos a psicodélica e cinematográfica "Alan's Psychedelic Breakfast”, uma canção que só poderia ser lançada pelo Pink Floyd mesmo. A palavra chave aqui é vanguarda. Curiosamente o disco passa por uma revisão atualmente. Gilmour e Waters divergem sobre o resultado do álbum em determinados pontos. Para Gilmour o conceito era de fato fantástico mas faltava maior experiência para o Floyd naquele momento histórico. Em sua forma de pensar poderia ter saído melhor. Para Waters o disco é um marco mas não atendeu as suas expectativas. No fundo isso é um exercício de retórica vazia. O disco é um dos mais fantásticos da história do rock, dando inicio a toda uma nova era no gênero. Todo o resto se torna secundário.

Pink Floyd - Atom Heart Mother (1970)
Atom Heart Mother
If
Summer '68
Fat Old Sun
Alan's Psychedelic Breakfast

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Led Zeppelin - Led Zeppelin (1969)

Led Zeppelin - Led Zeppelin (1969)
Eu tenho uma relação musical de amor e ódio com o Led Zeppelin. Gosto muito de alguns de seus álbuns e odeio, na mesma proporção, alguns outros trabalhos do grupo. Dito isso, jamais subestimaria a importância dessa banda na história do rock mundial. Eles foram mesmo extremamente marcantes e pelos motivos certos. Um deles ouvimos aqui em seu disco de estreia. Quando comprei esse álbum e o ouvi pela primeira vez, há muitos anos, fiquei com a primeira impressão de que se tratava de um disco de rock dos anos 70. Não era, o disco era dos anos 60!

A conclusão é óbvia. O grupo antecipou a sonoridade que iria prevalecer na década seguinte, se tornando pioneiros nesse estilo de fazer rock. Aliás aqui vai uma verdade que não se pode negar, o Led Zeppelin é uma das bandas de rock mais influentes de seu tempo. Depois que seus discos começaram a chegar no mercado os outros roqueiros foram seguindo seus passos. Eles foram mesmo inovadores nessa que eu costumo chamar de terceira geração do rock. E nessa fase de transição também preservaram os antigos estilos musicais que deram origem ao próprio rock, como o blues que nesse primeiro álbum é muito valorizado. Enfim, fica mais do que bem explicado porque eles marcaram tanto o seu tempo. Estavam mesmo na frente de sua época. 

Led Zeppelin - Led Zeppelin (1969)
Good Times Bad Times
Babe I'm Gonna Leave You
You Shook Me
Your Time Is Gonna Come
Black Mountain Side
Communication Breakdown
I Can't Quit You Baby
How Many More Times

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Raul Seixas - Krig-ha, Bandolo!

Não foi o primeiro disco de Raul, como muitos escrevem por aí. Na realidade ele já havia tentando antes em pelo menos três discos, um com os Panteras e outro com um quarteto maluco que ele próprio formou e que não deu certo. Esse é sim o primeiro disco solo de sua carreira e também o primeiro em que sua proposta como artista único ficou ainda mais visível. A capa é um horror estético, mas fazia parte do espírito da contracultura daquela época. É incrível notar como a gravadora Phillips deu total liberdade para as maiores maluquices do Raul. Não houve amarras. Talvez por isso esse LP tenha sido tão genial.

Olhando hoje em dia o disco mais parece uma seleção de grandes sucessos. Isso porque vendeu muito e tocou bastante nas rádios. A parceria com Paulo Coelho rendeu clássicos eternos do rock nacional. Os maiores hits do disco sem dúvida foram "Ouro de Tolo", uma paródia em cima da classe média boboca brasileira e "Mosca na Sopa", com toda a baianice inerente do Raul Seixas. Outra faixa marcante foi "Metamorfose Ambulante" que ele havia sido escrito na adolescência e "Al Capone" onde ele usava personagens históricos para ironizar a seriedade da história. Enfim, grande disco do grande Raul Seixas. Esse aqui é uma obra prima da música brasileira.

Raul Seixas - Krig-ha, Bandolo! (1973)
Mosca na Sopa
Metamorfose Ambulante
Dentadura Postiça
As Minas do Rei Salomão
A Hora do Trem Passar
Al Capone
How Could I Know
Rockixe
Cachorro Urubu
Ouro de Tolo

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

The Beach Boys - Surfin´ Safari

O primeiro single da carreira dos Beach Boys foi "Surfin' / Luau" lançado em novembro de 1961. Na verdade muitos consideram quase uma demo, gravado de forma praticamente amadora e lançado pelo pequeno selo X Records. Nada, mas nada relevante. O bom foi que o disquinho acabou caindo nas mãos de um executivo da poderosa Capitol Records, Murry Wilson, que viu potencial naquele som. Afinal o Surf era uma moda entre os jovens e aquele som ideal para rolar nas praias estava vendendo como nunca. As gravadoras porém queriam grupos de surf music em que houvesse belos vocais pois o gênero sobrevivia praticamente apenas de músicas instrumentais. Aquele som daqueles jovens desconhecidos poderia suprir esse vazio que o mercado queria ocupar. Os garotos do Beach Boys não faziam média, não queriam criar nenhuma obra prima musical, só desejavam mesmo cantar sobre praias, garotas e surf! Claro que a indústria há muito tempo procurava por algo assim. Foi mesmo uma excelente parceria que renderia ótimos frutos comerciais. Contratados, o grupo se reuniu no ótimo World Pacific Studios e deu origem propriamente em sua carreira profissional. O resultado foi melhor do que esperado.

Apesar de ter sido apenas o primeiro single nacional dos Beach Boys "Surfin' Safari" imediatamente caiu no gosto de seu público alvo, os jovens californianos, que passavam o dia na praia pegando onda, namorando e vendo o sol se por. A incrível vocalização alcançada pelo grupo, aliado a um delicioso acompanhamento instrumental acertou em cheio nas paradas. Para uma banda jovem que era completamente desconhecida, o décimo quarto lugar alcançado na primeira semana de lançamento na prestigiada Billboard Hot 100 representou uma vitória e tanto para os rapazes. A Capitol tinha grandes planos para os Beach Boys, principalmente a gravação de um álbum e esse single serviu como um termômetro do mercado, para sentir até onde aquele som poderia ir. Os meses que viriam demonstrariam a força comercial dos Beach Boys. Aliás quando ocorreu a invasão britânica nas paradas americanas com a chegada dos Beatles foram eles, os Beach Boys, a única esperança do rock americano em combater os ingleses, luta essa em que eles se apresentaram muito bem, mostrando que o bravo rock Made in USA ainda sobrevivia e era forte o suficiente para bater com os quatros cabeludos de Liverpool de frente! E pensar que no começo os Beach Boys só queriam mesmo um lugar ao sol...

Pablo Aluísio.

 

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Paul Anka - Diana

Paul Anka - Diana
Paul Anka fez parte da geração pasteurizada que tomou de assalto às paradas americanas com a crise que o rock ´n´ roll enfrentou em fins dos anos 1950. De repente todos os grandes ídolos estavam afastados de suas carreiras de roqueiros (Elvis no exército, Chuck Berry na cadeia, Buddy Hole morto em acidente de avião, etc, etc). Para cobrir a lacuna deixada as gravadoras apostaram numa série de jovens brancos de boa aparência, todos de classe média, sem postura rebelde ou ameaçadora. Simbolizavam os namorados perfeitos das garotas de meia soquete que frequentavam o high school. Era a forma que o rock (se é que podemos chamar isso de rock) encontrou para sobreviver à sua própria crise. 

De todos os hits que Paul Anka gravou esse é certamente um dos mais populares (inclusive no Brasil onde ganhou versão de sucesso na voz do excelente cantor brasileiro Carlos Conzaga). A canção foi escrita de forma modesta, sem qualquer pretensão, em um caderno escolar. Existem duas versões para a inspiração de sua composição. A primeira foi divulgada pelo cantor Don Costa que disse ter sido inspirada em uma amiga de escola do próprio Paul Anka chamada Diana Ayoub. Já o próprio Anka afirmara certa vez que a verdadeira Diana era uma garota linda que ele mal conhecia e que frequentava sua igreja. Ele teria nutrito uma paixão platônica por ela que durou anos e anos, mas quando finalmente teve a chance de conversar com a garota ficou tão nervoso que mal conseguiu falar meia dúzia de palavras. 

Já que não conseguiu falar o que sentia por ela pessoalmente, cara a cara, resolveu desabafar na própria música, que é muito bonita e tem linda melodia. Claro que por se enquadrar em determinados limites comerciais da época "Diana" passa longe de ser revolucionária ou inovadora. É bem na média do que era produzido e gravado naquela virada de década, principalmente por essa geração de bons rapazes modelos com seus ternos impecáveis e sorrisos Colgate. Como Anka não tinha ainda um grande nome dentro da indústria a música foi lançada antes com Don Costa nos vocais em maio de 1957. Paul Anka ficou tão mal em ver sua querida música na voz de outro cantor que se apressou em também gravar sua própria versão que chegou nas lojas americanas apenas dois meses depois do lançamento original. 

Para sua sorte foi justamente o seu single que caiu no gosto popular, chegando ao incrível number one da parada Billboard em poucos dias, transformando Paul Anka em astro literalmente da noite para o dia. De repente o jovem desconhecido estava se apresentando em programas de rádio, TV e cinema. Quando atingiu a incrível marca de nove milhões de cópias vendidas Paul Anka se convenceu que iria se tornar o novo Elvis Presley, mas para seu azar ele logo perceberia também que era apenas mais um dos "maiores cantores de todos os tempos da última semana", ou seja, artistas que surgiam tão rapidamente quanto sumiam. Os novos tempos acabavam de inventar o astro descartável de plástico.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

The Doors - The Soft Parade

Na segunda metade dos anos 60 os Beatles lançaram um disco que abalou o mundo da música: "Sgt.Pepper's Lonely Hearts Club Band", já ouviu falar? Se sua resposta for não, então você é definitivamente um tapado em termos de Rock'n'Roll. O Rock, antes considerado uma arte menor, ganhou status de arte maior com esse trabalho, levando todos, inclusive os mais conceituados críticos musicais a ouvirem esse marco da história mundial. Criou-se assim, pela primeira vez, o conceito de grande arte ao mais popular gênero musical do planeta. De uma hora para outra todas as bandas de rock do mundo se sentiram desafiadas a aprimorar e tentar, se não a superar, ao menos se igualar ao revolucionário disco do grupo inglês.

Os Doors, principalmente Krieger e Manzarek, chegaram a conclusão que deveriam enriquecer seu próximo disco com orquestrações e arranjos mais bem elaborados. Então o grupo se trancou em estúdio e durante mais de um ano tentou todas as combinações e experimentos possíveis. O estúdio gastou uma fortuna, todo mundo ficou esgotado, principalmente Jim que não gostava de super produções. Gravado em oito canais entre novembro de 1968 e junho de 1969, no Elektra Sound Studios (Hollywood, CA) o disco só foi lançado oficialmente nos EUA no dia 18 de julho de 1969. Novamente o grupo foi produzido por Paul A. Rothchild. The Soft Parade foi o disco dos Doors que teve a mais longa e cara produção. Foi lançado em julho de 1969 (depois de quase um ano de preparo), mas não foi bem acolhido pela crítica, talvez motivado pelo escandaloso show de Miami, ocorrido poucos meses antes.

O público também estranhou o resultado, dizendo que a banda não era mais a mesma, que havia se vendido. Mas a verdade é que esse é realmente um disco bem diferente do que os Doors já haviam lançado anteriormente, com arranjos orquestrados e repletos de instrumentos estranhos à banda, como trombone, conga e violino (que aparecem logo na espalhafatosa introdução de Tell All the People). Além disso, uma outra voz é ouvida, já que o guitarrista Robby Krieger canta o refrão da canção Runnin' Blue. Um outro detalhe intrigou os fãs: a autoria das canções, antes creditadas a todos os integrantes, dessa vez era dividida entre Morrison e Krieger. Estariam os Doors passando por uma crise interna? Não era possível dizer. Mas logo o episódio de Miami foi (parcialmente) esquecido e o single "Touch Me" invadiu as rádios e elevou as vendas dos álbum, que se tornou mais um sucesso. Singles nas Lojas : Touch me / Wild child - Em dezembro de 1968 a banda lançou o primeiro single deste disco, aliás o primeiro de quatro, o que foi um recorde para o grupo.

O lado A trazia "Touch Me". Quem ouviu já sacou: Jim estava levemente embriagado quando gravou essa faixa, mas tudo acabou dando um toque especial a música. Outro dado: esta canção é na verdade, uma mistura de muitos takes diferentes, por isso se nota também uma certa diferenciação no vocal de Jim ao longo da canção. "Wild child" é um boa canção, principalmente pela introdução envenenada da guitarra de Krieger e mais uma vez Jim aparece com seu estilo vocal dúbio, de quem acabou de sair de um bar. Em suma: Blues etílico.

Wishful, Sinful / Who scared you? - Em fevereiro de 69, os Doors lançam um novo single, deixando todo mundo surpreendido. "Wishful, Sinful" é uma balada triste, puxada para blues (mais uma vez!). O grande problema dessa canção e das outras do disco, é que há tantos instrumentos ao mesmo tempo que a voz de Jim acabou ficando ofuscada, sendo afogada numa verdadeira overdose musical. No Lado B do compacto foi colocada uma canção fraquinha que acabou não entrando no disco, "Who scared you?" é tudo o que um lado B é: totalmente descartável. Tell all the people / Easy ride - Tá legal, todo mundo fala mal de "Tell all the people", mas absolutamente não concordo com esse tipo de opinião. Gosto muito da canção, aliás a considero a melhor de todo o disco. De todas é a que apresenta a melhor harmonia entre a orquestra. Além disso Jim está em ótima fase vocal, tudo aliado a bonita melodia. Nota 10! "Easy ride" é uma música rápida que cola na sua mente com força. Facilmente assobiável e tudo o mais, ela também é um ótimo momento do disco, por isso dos quatro singles extraídos do disco, este é disparado o melhor de todos.

Running Blue / Do it - Mas quem diabos é este que canta com Jim durante "Running blue"? Ora é Robbie, que como vocalista é um ótimo guitarrista! Essa foi a única vez que Jim dividiu o microfone com alguém da banda (graças a Deus!). Talvez a existência desse quarto single (um exagero!) tenha sido uma forma de homenagear o guitarrista e compositor da banda. Mas sinceramente, Krieger acabou com sua própria música, sendo muito ruim sua participação. Ponto final. No lado B do single "Do it" com algumas inovações durante a execução, mas que nada mais são do que fruto do complexo de Lennon/McCartney de Krieger. O single foi lançado em agosto de 1969.

Enquanto isso, fora dos estúdios...
Nesta fase de gravação de "The Soft Parade" o single "Hello, I Love You" estourou na Europa, levando os Doors à sua primeira e única grande turnê internacional, que passou por países como Inglaterra, Alemanha, Holanda, Dinamarca (foto) e Suécia. Foi uma das excursões mais alucinadas da história do Rock, com muitos escândalos promovidos por Jim Morrison, com muito excesso de drogas, mulheres e bebedeiras, levando o vocalista a bater seus próprios recordes de extravagâncias. Em Londres eles se apresentaram no Roundhouse, uma tradicional casa de shows da Inglaterra. Os britânicos definitivamente não estavam preparados para Jim, ele entrou no palco totalmente narcotizado e bêbado, mas mandou ver em um dos melhores shows da banda. Depois o grupo foi para a Alemanha, em Frankfurt e Jim se sentiu em casa. Conhecida como uma das cidades mais sofisticadas da Europa, aqui a banda fez um show que entrou para a história da cidade. Jim terminou a noite em um bar de strip tease da cidade e a imprensa alemã não deixou este fato passar em branco.

Em Amsterdam aconteceu o pior: Jim estava totalmente fora de controle, O Jefferson Airplane abriu o show dos Doors naquela noite, mas no meio de sua apresentação, Jim apareceu no palco, para surpresa de todos, com uma garrafa de whisky na mão, totalmente embriagado, tentando acompanhar o Airplane que totalmente atônico, ficou sem saber o que fazer! Jim continuou dançando ao som da música da banda, num espetáculo trágico e engraçado ao mesmo tempo! Na verdade ele deu um vexame daqueles, na frente de todo mundo! No final ele mal conseguiu deixar o local, de tão chapado que estava, sendo carregado para o hospital mais próximo. Mas nem por isso os Doors deixaram de realizar o show, a banda entrou sem Jim mesmo, pediu desculpas e interpretou todas as canções sozinhos. Jim estava sempre bêbado e drogado e depois confidenciou a um amigo que "Não se lembrava dos shows dos Doors na Europa"!

Essas apresentações viraram um especial para a TV inglesa chamado The Doors Are Open, que mais tarde também foi lançado em vídeo. Antes do lançamento do quarto disco da banda, o orquestrado e exagerado The Soft Parade, ocorreu o que é tido como o começo da queda de Jim Morrison. Dia 1 de março de 1969 é a data do famoso show de Miami, onde Jim, completamente bêbado, foi acusado de exibir seu pênis para a plateia, incitar baderna e proferir discursos obscenos. Ninguém sabe ao certo se tudo isso ocorreu ou não, mas o vocalista foi a julgamento e acabou condenado a seis meses de detenção. Além disso, praticamente todos os shows agendados foram cancelados e a banda se tornou "persona non grata" em todo o território americano.

Enquanto os advogados apelavam da decisão judicial, tentando abrandar a pena do vocalista, aos poucos os shows foram se tornando mais frequentes outra vez, e a banda começou a gravar suas apresentações para o lançamento de um álbum ao vivo. Esse material foi lançado em 1970 como um LP duplo chamado Absolutely Live, que misturava canções já conhecidas com algumas inéditas. Em seguida, mais um de estúdio, batizado com o nome Morrison Hotel. Os que achavam que os Doors haviam entrado em decadência com The Soft Parade encontraram muito vigor no novo trabalho, que deixava as orquestras totalmente de lado para fazer um rock cru e mais blues do que nunca. Mas essa é uma outra história que vamos contar no mês que vem... até lá.

The Doors - The Soft Parade
Existem pessoas que não gostam desse disco dos Doors. Chegam a dizer que é o disco do grupo que menos se parece com sua sonoridade habitual. Ora, esse tipo de mentalidade é bem equivocada. A verdade é que uma banda de rock sempre deve procurar por inovação e não ficar na mesma tecla, álbum após álbum. Assim se esse disco foi inovador na carreira dos Doors, então palmas para eles. A busca por inovação sempre será muito bem-vinda.

O disco abre com uma faixa que até considero bem convencional. Trata-se de "Tell All the People". O único maior diferencial digno de nota é o abrasivo arranjo de metais logo em seu começo. Certamente não era algo que um fã dos Doors estava esperando encontrar. Porém tirando esse pequeno detalhe tudo o mais parece bem de acordo com o tipo de música da banda em seus álbuns anteriores.

Jim Morrison não gostou muito dessa letra que foi escrita totalmente pelo guitarrista Robbie Krieger. Aliás a música é inteiramente dele, desde sua letra, até sua melodia. Morrison, como já era óbvio naquela fase da carreira, preferia mesmo cantar seu próprio material. A maioria de suas músicas apenas adaptavam sua poesia. Era uma poesia cantada. De qualquer forma como Jim gostava muito de Robbie, ele procurou dar o melhor de si na gravação, em sua performance vocal. E ficou muito bom, temos que reconhecer.

A canção inclusive foi escolhida para ser lançada depois também como single, o terceiro extraído das faixas do disco. Não fez muito sucesso, é verdade, ficando apenas na posição 57, mas de qualquer forma foi um espaço a mais dentro da discografia dos Doors para o trabalho composto por Krieger, que era um músico talentoso, mas também uma pessoa bem tímida, que nunca procurava se impor aos demais membros do grupo.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Rolling Stones - Out of Our Heads

Nem adianta negar. Na década de 1960 os Rolling Stones andaram lada a lado com os Beatles. Sonoridade, letras, arranjos, os Stones realmente seguiam o modelo padrão das bandas de rock daquela época e quem determinava esse padrão era justamente o quarteto de Liverpool. Veja o caso desse Out of Our Heads, terceiro disco dos Stones. O álbum segue os passos dos Beatles, mesmo que alguns centímetros atrás. Enquanto os Beatles começavam a mudar ainda que discretamente seu som, os Stones também procuravam trazer inovações para o grupo. Esqueça os Stones de hoje em dia. Aquilo ali é uma empresa multinacional, uma corporação S.A. e não mais um conjunto de Rock mas em 1965 eles ainda eram de fato um grupo de rock. Hoje em dia Jagger e Keith Richards se odeiam tanto que mal se falam mas na época do lançamento desse trabalho eles eram realmente amigos e trabalhavam em harmonia. Por falar em amizade aqui os Stones surgem com sua formação clássica completa, a saber: Mick Jagger (vocal, harmónica, percussão), Brian Jones (guitarra eléctrica e acústica, harmónica, orgão), Keith Richards (guitarra), Charlie Watts (Bateria e percussão) e Bill Wyman (baixo). Essa aliás é a formação perfeita dos Stones, sem tirar nem colocar mais ninguém. Curiosamente é que para melhorar ainda mais a qualidade musical do disco eles ainda chamaram outros craques: Ian Stewart no piano e o produtor maluco beleza Phil Spector para dar algumas canjas de baixo.

O resultado é dos melhores. Considero o álbum um dos mais pertinentes do grupo em termos de melodia e arranjos. Os primeiros discos dos Stones deixavam muito a desejar nesses aspectos mas aqui a sonoridade melhora muito. Um exemplo perfeito do que digo surge logo na primeira canção, "She Said Yeah" com suas linhas de guitarras furiosas. Apesar de ser um cover é uma das melhores gravações dos Stones. No quesito garra e pique poucas vezes eles fizeram algo melhor do que isso. É interessante perceber que nessa fase inicial eles ainda não estavam muito seguros como compositores, preferindo se apoiar em material escrito por outros compositores. Assim temos apenas três canções escritas pela dupla Mick Jagger e Keith Richards: "Gotta Get Away", "Heart of Stone" e "I'm Free". Note que a versão do disco britânica que estamos comentando aqui foi bastante diferenciada da americana pois nos EUA a gravadora ianque incluiu o megasucesso "(I Can't Get No) Satisfaction", que não fez parte da seleção musical inglesa. Era como se o Help dos Beatles saísse com "Yesterday" em sua versão americana mas não na inglesa. Deu para sentir o drama? É óbvio que por essa razão a edição USA é bem superior à britânica mas como sou tradicionalista ainda prefiro a discografia original do grupo para ouvir (e na minha opinião a discografia original é exatamente a de seu país de origem, ou seja, Made in England). Assim lhe deixamos a dica. Esqueça esses Stones que estão aí celebrando 50 anos de carreira ou mais. Isso tudo é puro marketing. Prefira os caras em seus primórdios, quando eram apenas cinco amigos tentando dar o melhor de si para vencer no mundo da música. Isso aconteceu antes da morte de Brian Jones e da saída de Bill Wyman. "Out of Our Heads" é perfeito nesse sentido.

Rolling Stones - Out of Our Heads (1965)
She Said Yeah
Mercy, Mercy
Hitch Hike
That's How Strong My Love Is
Good Times
Gotta Get Away
Talkin' 'Bout You
Cry to Me
Oh Baby (We Got a Good Thing Goin'
Heart of Stone
The Under Assistant West Coast Promotion Man
I'm Free

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

Muita coisa já foi dita sobre Sgt Pepper´s. Muito provavelmente esse seja o disco mais analisado, comentado e destrinchado trabalho musical da história. Rotular o álbum de revolucionário, impactante seria redundante. Nem os Beatles tinham plena consciência no gigante que esse disco iria se tornar. Depois de tantos anos essa obra ainda continua sendo citada com frequência. Mas afinal de contas o que a torna tão especial? Uma obra de arte não consegue ser totalmente compreendida sem se levar em conta o contexto histórico em que foi produzida. Sgt Pepper´s só é entendido em essência se o ouvinte entender que quando o álbum chegou nas lojas havia todo um clima psicodélico no ar, toda uma busca e um sentimento que hoje muitos associam ao velho chavão hippie “Paz e Amor”. Certamente havia esse sentimento mas também havia mais, existia uma efervescência nas artes em geral e mudanças estavam na ordem do dia. Os Beatles nunca foram ingênuos, eram rapazes inteligentes e antenados com o que acontecia ao redor. Foi assim que o disco nasceu. Em essência era algo que todos esperavam mas que ninguém realmente havia ainda colocado em prática. Havia uma série de pressões comerciais e de estilo em cima de grupos que vendiam muito como os Beatles. O grande mérito deles foi realmente darem a cara à tapa e arriscar. Isso porque Sgr Pepper´s tanto poderia ser um marco como um fracasso monumental. O grupo assumiu uma postura, teve coragem e lançou o álbum e o mundo musical nunca mais foi o mesmo.

Na época muitos críticos e analistas musicais classificaram o disco como “conceitual”, uma denominação que os próprios Beatles desconheciam. Na verdade não foi bem assim. O próprio Paul McCartney, que teve a ideia original do disco, jamais o arquitetou dessa forma. De fato como o próprio Paul explicou mais tarde apenas as 2 primeiras faixas tem algo em si, inclusive são interligadas. Depois disso Lennon apresentou suas canções ao grupo, músicas que tinham sido compostas em separada, sem a concepção do álbum em mente. O curioso é que em termos de sonoridade e avanço realmente havia uma tênue linha ligando todo o material mas isso surgiu de forma bem espontânea, pois John ao compor temas como “A Day in The Life” jamais havia pensado na ideia de Paul para o disco em si. Foi de certa forma um feliz encontro de ideias que resultou em um disco realmente genial, que resistiu a tudo, inclusive ao tempo. Recentemente promovi mais uma audição atenta do conjunto da obra. Realmente as canções, todas psicodélicas, soam seguindo uma proposta, algo indefinido entre o mundo circense, a grande arte da Londres da década de 60, peças de vaudeville, nostalgias dos anos 20 e muito mais. É um caleidoscópio de influências que os Beatles receberam ao longo da vida. O diferencial aqui é que eles jogaram tudo de uma vez, numa só obra musical. Por isso assustou, por isso revolucionou tanto.

Entre as faixas novamente se sobressai o talento de John Lennon como compositor. Não se sabe ao certo a razão, se foram as drogas, se foi seu encontro com Yoko, não sei, o que se pode perceber nitidamente é que ele está numa fase extremamente inspirada por essa época. As três canções mais marcantes do álbum levam sua assinatura pessoal, de digital mesmo. "Lucy in the Sky with Diamonds" não é uma música psicodélica como cantam em prosa e verso por aí. Vou mais além e afirmo que ela é o psicodelismo. Como todos sabem Lennon foi acusado de estar promovendo o ácido lisérgico com a canção pois suas inicias formavam a sigla LSD. Lennon rebateu as acusações dizendo que era mera coincidência pois a letra havia sido inspirada em um desenho de seu filho Julian. Será mesmo? Quem tem a razão? Não importa, LSD, digo, "Lucy in the Sky with Diamonds", é realmente fantástica. Outra faixa forte e marcante é a já citada "A Day in the Life", na verdade uma coleção de músicas inacabadas de Lennon que resolveu unir tudo sob um arranjo extremamente inovador. Paul dá sua contribuição nos arranjos orquestrais. Por fim temos a circense "Being for the Benefit of Mr. Kite!". A letra foi toda inspirada em um velho cartaz que Lennon comprou em um sebo. Vejam como ele era criativo. Compôs toda uma canção apenas utilizando os nomes e eventos que estavam nesse velho comercial de um circo do século passado. O arranjo é um primor e nesse aspecto temos que bater palmas para George Martin, o talentoso maestro que tanto contribuiu para o sucesso do quarteto britânico.

Deixei para falar de Paul por último porque queiram ou não ele é o grande nome por trás desse projeto. Ele concebeu esse conceito de os Beatles surgirem no disco como se fossem um outro grupo musical, justamente o que dá nome ao álbum. Em sua cabeça Paul queria que o consumidor levasse para casa um disco do "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e não dos Beatles. Essa metalinguagem desse trabalho eu realmente acho genial. Também é importante frisar que ao contrário de Lennon, sempre instigante, ácido e mordaz, McCartney trazia belas melodias aos discos do conjunto. Aqui não foi diferente. De fato as melhores linhas melódicas levam sua marca registrada. "She's Leaving Home", por exemplo, é belíssima. Evocativa e nostálgica a canção é beleza rara em notas musicais. "When I'm Sixty-Four" segue seus passos. O som lembra o melhor das antigas big bands americanas das décadas de 20 e 30. Paul com nostalgia de um tempo não vivido. Genial. George Harrison, mais envolvido do que nunca com a religião e cultura indianas surge com "Within You Without You". Eu confesso que essa é a única música do disco que não me agrada muito. É um tipo de musicalidade muito específica, não digo que é ruim, apenas que não faz o meu estilo. Enfim, eu poderia ficar dias e noites escrevendo sobre as qualidades de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" mas isso é realmente desnecessário. A obra fala por si mesma. Não adianta ficar procurando o conceito ou a falta dele entre as faixas. O importante é ouvir seu som atemporal. É isso que faria o Billy Shears. Quem é o Billy Shears? Bom, essa é uma outra estória que a gente vai contar por aqui... faixa a faixa:

1. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Lennon / McCartney) - Paul McCartney sempre foi um gênio criativo. Durante uma viagem a negócios nos Estados Unidos nos anos 60 ele rascunhou em um guardanapo dado pela empresa aérea uma nova ideia. Imagine que os Beatles não mais existissem. Imagine que Paul, George, Ringo e John fossem apenas membros de uma banda ao estilo do século XIX chamada "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"! Algo bem Old School, era Vitoriana, Vaudeville, do velho teatro inglês do século passado, algo misturado também com o conceito das antigas fanfarras que cruzavam o interior durante as festas regionais, as feiras de produtores rurais de Liverpool e redondezas. Quando retornou a Londres, Paul apresentou a ideia inicialmente para John Lennon. Ele demorou um pouco a pegar o conceito, mas quando finalmente entendeu as intenções de Paul, adorou! Era algo inédito dentro da indústria fonográfica, realmente revolucionário. No começo a gravadora dos Beatles, a EMI, ficou com receios, principalmente depois que Paul disse que não queria a marca "Beatles" nem na capa do disco e nem na propaganda de lançamento do novo álbum. A EMI deveria promover apenas a bandinha do Sgt Pepper. É claro que depois de muitas reuniões Paul voltou atrás, mas o conceito artístico inicial iria prevalecer. Os Beatles basicamente iriam fingir (ou interpretar) que eram parte de um outro grupo musical.

2. With a Little Help from My Friends (Lennon / McCartney) - "With a Little Help from My Friends" é uma das canções mais emblemáticas do álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band". O curioso é que não havia muita pretensão sobre ela quando Paul a compôs. Na verdade ele queria utilizar a música como meramente um link, um elo de ligação entre a faixa principal e as demais canções do disco. Para isso chamou Ringo para os vocais, por causa da simplicidade melódica da faixa. Outro fato muito curioso é que Paul criou uma figura imaginária chamada Billy Shears que depois foi usado pelos fãs de teorias da conspiração como uma das pistas deixadas pelos Beatles após a morte de Paul em 1966! Tem coisa mais maluca do que essa? O sósia de Paul, colocado em seu lugar, seria justamente o tal de Billy Shears! Bizarro! De qualquer forma nada disso impediu uma bela gravação dos Beatles. Hoje em dia também é impossível citar essa música sem falar de Joe Cocker. Ele fez aquele que talvez seja o cover mais famoso de uma canção dos Beatles. Sucesso em Woodstock virou um símbolo dos anos 60, conseguindo ganhar inclusive personalidade própria, algo que surpreendeu os próprios Beatles.

3. Lucy in the Sky with Diamonds (Lennon / McCartney) - Sem dúvida uma das canções mais lembradas desse clássico álbum dos Beatles é a maravilhosa "Lucy in the Sky with Diamonds", uma verdadeira obra prima de John Lennon. Assim que o disco foi lançado começaram as especulações sobre o significado de sua estranha letra. Afinal a frase "Lucy no céu com diamantes" não fazia muito sentido. Várias versões surgiram até que um crítico de Nova Iorque escreveu um artigo dizendo que havia entendido a mensagem cifrada de Lennon. As iniciais da canção formavam a sigla LSD! Bingo! Isso mesmo, John havia composto uma música em homenagem à droga lisérgica que estava se tornando moda na época. Não era segredo para ninguém que John estava consumindo LSD em grandes quantidades nesse período em sua vida. Só que assim que soube dessa interpretação John chamou a imprensa e disse que sua criação psicodélica nada tinha a ver com LSD. Ela havia sido criada após seu filho Julian lhe mostrar um desenho feito na escola. Quando John perguntou a Julian o que aquilo significava o garoto respondeu: "Essa é Lucy, no céu, com diamantes". Ora, isso para uma mente criativa como John foi o bastante. Assim ele acabou criando a música. Para provar seu ponto de vista Lennon chegou até mesmo a mostrar o desenho do garoto para a imprensa.

4. Getting Better (Lennon / McCartney) - "Getting Better" por outro lado nunca foi um grande sucesso dos Beatles. De certa forma é um típico lado B da banda, uma canção que apesar de ser bem gravada só servia mesmo para completar cronologicamente o disco como um todo. Nunca gostei muito dessa composição de Paul McCartney. Sempre achei inclusive uma criação um pouco preguiçosa, que usava e abusava de clichês musicais em praticamente todas as suas linhas. McCartney certamente poderia fazer melhor, porém acredito que ele estava simplesmente exausto depois de meses e meses de estúdio, trabalhando em cada detalhe de cada gravação. Com isso um certo ar de cansaço iria mesmo surgir em algum momento. Para não dizer que era um momento de puro desperdício vale elogiar o trabalho dos vocais secundários, que nos fazem lembrar inclusive dos Beatles de "Please, Please Me" e "Rubber Soul". A letra também fugia bastante do estilo enigmático que John Lennon vinha imprimindo nos discos da banda. É bem simples, quase pueril, falando sobre melhorar a cada ano, a cada dia, procurando sempre ser uma pessoa melhor do que havia sido no passado. Nada filosófico, nada obscuro, nada simbólico, apenas uma mensagem de positividade por parte de Paul, que era um otimista incorrigível.

5. Fixing a Hole (Lennon / McCartney) - Para aliviar um pouco tantas sonoridades estranhas e diferentes, Paul McCartney resolveu trazer uma baladinha bem mais simples chamada "Fixing a Hole". O curioso é que Paul decidiu gravar a faixa fora dos estúdios Abbey Road onde o álbum foi praticamente todo gravado. Outro fato digno de nota é que a canção, tal como havia acontecido com "Lucy in the Sky With Diamonds", também foi alvo de interpretações equivocadas. A letra levou alguns a entenderem que ela se referia a heroína, algo que Paul de pronto negou! Ele disse: "Minha inspiração não foi a heroína, droga que não usava na época. Sempre tive medo de agulhas e a heroína era hardcore demais para mim. Na verdade eu me inspirei em alguns trechos do evangelho de Mateus para criar a canção! Foi algo completamente diferente do que depois chegaram a pensar!".

6. She's Leaving Home (Lennon / McCartney) - Outra gravação extremamente bela em termos de arranjos foi "She's Leaving Home". Já fazia alguns anos que Paul e John realizavam trabalhados próprios, bem autorais, dentro dos discos dos Beatles. Eles nunca mais tinham se sentado juntos para criar em conjunto, como havia acontecido nos primeiros discos dos Beatles. Pois bem, aqui John e Paul voltaram a de fato trabalharem juntos na composição de uma música. Paul escreveu as primeiras linhas e John completou. Isso ficou bem claro inclusive na gravação, com Paul cantando sua parte e John as harmonias que escreveu. O resultado ficou belíssimo. É seguramente um dos momentos mais maravilhosos de todo o disco. Uma legítima composição Lennon e McCartney, com tudo de genial que isso significava.

7. Being for the Benefit of Mr. Kite (Lennon / McCartney) - Outra canção do disco que chamou muito a atenção da crítica e do público foi a estranha (e circense) "Being For The Benefit Of Mr. Kite!". Que loucura era aquela? Na verdade a canção veio da cabeça imaginativa do próprio Lennon. Colecionador de antiguidades o Beatle viu esse cartaz antigo de circo em uma exposição. Ele acabou comprando a peça e a pendurou em sua casa nos arredores de Londres. Quando estava sob pressão para compor novas músicas para o novo álbum dos Beatles,  Lennon simplesmente olhou para o poster e ali viu toda uma letra, todo um universo próprio, com seus artistas, números de circo, enfim, um poster comercial que tinha um belo sabor de nostalgia de um tempo que não existia mais. Com a ajuda do maestro (e quinto beatle) George Martin, Lennon criou uma sonoridade única na discografia dos Beatles. Sons originais, nunca antes usados em discos de grupos de rock, foram adicionados. Um clima de picadeiro, com malabaristas, palhaços, mágicos e tomadores de leões, como bem resumiu Lennon, tomou conta da faixa. Lindamente produzida, cheia de efeitos sonoros, "Being For The Benefit Of Mr. Kite!" demonstrava que a velha reclamação de Lennon, onde afirmava que suas músicas não eram bem trabalhadas em estúdio pelos outros Beatles, simplesmente não tinha razão de ser. Essa faixa, cem por cento Lennon, era a prova de que sua afirmação não se baseava em fatos verdadeiros. É certamente uma das faixas mais trabalhadas e bem produzidas de toda a discografia do grupo.

8. Within You Without You (Harrison) - Outra canção que causou surpresa foi "Within You Without You". Essa era uma criação de George Harrison que parecia bem determinado em trazer para os discos dos Beatles a sonoridade da Índia, terra que o havia fascinado desde que a conheceu alguns meses antes. Por ser tão específica e tão sui generis, com arranjos e instrumentos orientais, John, Ringo e Paul acabaram não participando da gravação. Apenas George e um grupo de músicos indianos tocaram nela. É uma faixa interessante, por seu valor cultural, porém inegavelmente estranha para os nossos ouvidos ocidentais.

9. When I'm Sixty-Four (Lennon / McCartney) - É consenso praticamente geral que o álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" é um dos maiores discos da história do rock mundial. Mesmo assim é interessante notar que o grupo e seu produtor George Martin não estavam necessariamente focados em gravar um álbum convencional do gênero que investisse em arranjos tradicionais baseados no trio de instrumentos formado por guitarras, baixo e bateria. Eles jogaram as regras e as fórmulas para o alto e inovaram completamente na sonoridade do trabalho. De certa maneira os próprios Beatles não queriam mais seguir o que a gravadora achava melhor para o grupo. Aquela velha história de ser "comercialmente viável". Os Beatles não queriam mais saber disso. Pensando assim acabaram criando uma obra prima. Uma das canções que retratam essa ruptura é justamente essa "When I'm Sixty-Four". Mesmo assinada pela dupla Lennon e McCartney a música foi composta praticamente sozinha por Paul. Isso foi reconhecido pelo próprio John. Durante uma entrevista após o fim do grupo ele respondeu quando perguntado sobre essa faixa: "Essa foi completamente composta por Paul. Jamais sonharia em compor algo parecido". E como vinha acontecendo nas composições de McCartney para esse álbum um arranjo orquestral foi criado, tentando trazer de volta a sonoridade dos anos 20 - afinal a letra era nostálgica. George Martin escreveu também um lindo arranjo de clarinete, pois esse instrumento eram um dos mais populares do começo do século XX. Por fim, depois de tanto trabalho dentro do estúdio, se cogitou lançá-la como single, porém essa ideia foi abandonada. Ela apenas faria parte do álbum Sgt. Peppers. Como era uma música de complexa execução ela jamais foi tocada ao vivo pelo grupo, até porque eles tinham também decidido dar por encerrados os concertos na época de gravação desse disco.

10. Lovely Rita (Lennon / McCartney) - Outra música que foi também uma criação exclusiva de Paul McCartney foi "Lovely Rita". De todas as faixas do álbum essa é considerada uma das mais singelas. Em um disco tão revolucionário do ponto de vista musical e em termos de letras, essa canção é surpreendentemente convencional e pueril. A sonoridade é bem simples e sua letra evoca a figura de uma guarda de trânsito chamada Rita! A letra, em primeiro pessoa, narra essa singela estorinha de amor de alguém que acaba se encantando pela policial. Esse tipo de composição, tão tipicamente selada com o rótulo "McCartney", iria virar alvo de Lennon após o fim dos Beatles. John estaria sempre se irritando com essas baladas românticas escritas por Paul. Para John era um retrocesso, uma perda de tempo.

11. Good Morning Good Morning (Lennon / McCartney) - Talvez para fugir desse tipo de banalidade, John Lennon tenha surgido no estúdio com "Good Morning Good Morning". Sob uma fachada também banal, contando com um momento cotidiano na vida de qualquer um (o acordar pela manhã, o café antes de ir para a escola ou o trabalho, etc), John critica o consumismo e a banalização dos comerciais de TV. Seu alvo era certeiro, pois a canção era praticamente uma sátira aos comerciais televisivos da indústria de cereais Kellogg 's, da marca Corn Flakes. Inclusive durante os anos 70 John iria rasgar o verbo contra o que ele chamava de "indústria do açúcar" que viciava as crianças no consumo de produtos com excesso de açúcar, destruindo a saúde de todos lentamente, ao longo dos anos. Com a explosão dos casos de diabetes que vemos hoje em dia, podemos perceber que ele não estava longe da verdade em sua visão. Coisas de John Lennon, enfim.

12. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise) (Lennon / McCartney) - Para que tudo saísse perfeito Paul McCartney e o produtor George Martin trabalharam muito juntos dentro dos estúdios. A canção  "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" iria aparecer duas vezes no disco. Abrindo o álbum e depois, quase no final, como uma espécie de ligação entre todas as faixas do disco. Essa segunda versão foi chamada por Paul de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)", Era basicamente a mesma música, só que com algumas mudanças sutis na melodia. Paul obviamente queria um arranjo primoroso, com uma grande orquestra por trás de seus vocais. Foi uma gravação extremamente trabalhosa, que levou semanas de gravação árdua dentro do estúdio Abbey Road em Londres.

13. A Day in the Life (Lennon / McCartney) - Durante uma entrevista John Lennon perguntou, com certo cinismo: "Então Sgt Peppers pegou você de surpresa?". Na verdade pegou o mundo musical inteiro de surpresa. A ideia inicial partiu de Paul McCartney. Que tal gravar um novo álbum que não fosse necessariamente dos Beatles, mas de uma banda imaginária chamada Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band? Claro que era algo fora do comum, ainda mais em se tratando de Beatles e toda a sua fama e sucesso mundial. Uma das canções que fez parte desse álbum conceitual (rótulo aliás renegado pelo próprio Paul) foi "A Day in The Life". Essa é uma criação praticamente toda de Lennon. A letra, dividida em três partes, era obviamente uma referência ao período lisérgico pelo qual John passava na época. Longe de ser banal, a canção era aberta a inúmeras interpretações e algumas delas causaram problemas para os Beatles. Há um trecho da letra que diz: "Agora eles sabem quantos buracos são necessários para encher o Albert Hall". A direção da BBC interpretou aquilo como uma referência ao uso de drogas, os buracos seriam os deixados nos braços dos viciados. Lennon reclamou, mas não houve jeito, a música foi banida da programação da emissora.

The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967) - John Lennon (guitarra, violão, piano, vocais) / Paul McCartney (baixo, piano, violão, vocais) / George Harrison (guitarra, violão, vocais) / Ringo Starr (bateria, vocais) / Sounds Incorporated (saxofones) / Neil Aspinall (harmônica) / Geoff Emerick (efeitos sonoros) / Mal Evans (piano, efeitos sonoros) / Neill Sanders, James W. Buck, John Burden, Tony Randall (trompas) / Robert Burns, Henry MacKenzie e Frank Reidy (clarinetes) / Arranjos: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, George Martin / Produção: George Martin / Data de gravação: 6 de dezembro de 1966 a 21 de abril de 1967 / Data de Lançamento: 26 de maio de 1967 (Reino Unido) / 2 de junho de 1967 (Estados Unidos) / Melhor posição nas paradas: 1 (Reino Unido) 1 (Estados Unidos).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Gene Vincent And The Blue Caps - Hound Dog / Be-Bop-A-Lula

O Gene Vincent foi uma das figuras mais curiosas da história do rock americano. Era um autêntico Teddy Boy, sem preocupação nenhuma em parecer mais inteligente do que era. Não fazia média, não posava de intelectual e não estava nem aí para o que pensavam dele. Também não estava lá muito preocupado em ser original demais. Seu grande sucesso, "Be-Bop-A-Lula", era praticamente uma paródia do estilo de cantar de Elvis Presley (até a mãe do próprio Elvis o confundiu quando ouviu pela primeira vez a música no rádio). Ao lado dos Blue Caps (agora entendeu de onde vem o nome "Renato e Seus Blue Caps"?), o jovem cantor se tornou um grande sucesso no momento mais febril do nascimento do rock nos Estados Unidos. Suas perfomances também eram bem agitadas, sem regras, antecipando de certa forma a atitude que seria copiada anos depois pelo movimento punk na Inglaterra (aliás é bom salientar que os roqueiros americanos dos anos 50 eram ídolos da garotada punk que iria tentar ressuscitar o velho espírito rocker daquela época nos anos 70).

O que temos aqui nesse EP é um registro ao vivo de Gene Vincent se apresentando no programa de rádio do DJ Alan Freed em agosto de 1956. O que se ouve é um som sujo mesmo, praticamente trash, bem ao gosto dos roqueiros mais rebeldes e insanos dos anos 50. Gene Vincent ao lado de seus Blue Caps apresentam duas canções. A primeira, para surpresa geral, é o grande sucesso de Elvis Presley, a conhecida "Hound Dog". Escrita por Leiber e Stoller e imortalizada pelo Rei do Rock, aqui temos um som bem mais cru e visceral. Gene e seu grupo mais parece uma banda de garagem para falar a verdade (e isso não é nada mal, vamos esclarecer). Depois, no lado B, ele volta ao palco para estraçalhar com seu maior hit, a imortal "Be-Bop-A-Lula" que seria regravada por praticamente todos os grandes nomes do rock mundial nos anos que viriam (era inclusive uma das preferidas de John Lennon). Gene parece chutar algo no meio da faixa, provavelmente o microfone, só para você ter uma ideia do caos completo que eram seus shows! Mais punk rocker do que isso, impossível!

Pablo Aluísio.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Carl Perkins - Dance Album

Carl Perkins - Dance Album
Esse foi o primeiro álbum de Carl Perkins. Isso, por si só, já seria suficiente para colocá-lo em destaque em qualquer seleção de discos da história do rock. Entretanto há mais. É um LP lançado e produzido pela Sun Records. Uma raridade, já que a Sun não tinha estrutura e nem dinheiro suficientes para produzir e lançar um álbum completo como esse. A pequena gravadora de Sam Phillips lançava mesmo singles, compactos simples, que eram mais baratos e fáceis de vender no mercado. E para infelicidade de Phillips esse disco não conseguiu pagar seus custos porque Carl Perkins sofreu um acidente e ficou impedido de promover o álbum devidamente. Com isso o prejuízo veio certo para a pequena companhia de Sam. 

Por outro lado basta dar uma olhada na lista das músicas para bem entender a importância desse trabalho musical. Elvis Presley iria gravar "Blue Suede Shoes" transformando a canção em um dos maiores sucessos de sua carreira. Já os Beatles, nos anos 60, iriam gravar nada mais, nada menos, do que 3 músicas desse álbum em sua discografia oficial. Trata-se das canções Everybody's Trying To Be My Baby, Honey Don't (gravadas e lançadas no álbum "Beatles For Sale" de 1964) e Matchbox (lançada em um EP especial do grupo contendo apenas clássicos do rock). Sure To Fall também ganharia uma versão dos Beatles em seu programa na BBC de Londres, na primeira metade daquela década. Então é isso, mesmo não fazendo o sucesso que merecia, esse LP acabou consagrado com os anos, pois suas faixas foram imortalizadas por outros grandes nomes da história do rock. 

Carl Perkins - Dance Album (1956)
Blue Suede Shoes
Movie Magg
Sure To Fall
Gone, Gone, Gone
Honey Don't
Only You 3:16
Tennessee
Wrong Yo Yo
Everybody's Trying To Be My Baby
Matchbox
Your True Love
Boppin' The Blues

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Johnny Cash - The Fabulous Johnny Cash

Johnny Cash - The Fabulous Johnny Cash
Esse foi o segundo disco da carreira do Johnny Cash. Assim como Elvis Presley, ele havia começado na Sun Records de Sam Phillips. E assim como Elvis também largou o pequeno estúdio de Memphis para ir gravar em uma das grandes gravadoras da época, no caso aqui a Columbia, que tinha Sinatra em seu elenco. Muitos qualificam esse álbum como sendo de folk e rockabilly. Discordo completamente. Esse é um disco de country music, sem tirar e nem colocar nada em seu lugar. É um tipo de country que fugia um pouco do que era feito em Nashville, por causa das próprias peculiaridades do Cash, mas ainda assim Country em sua mais pura essência. 

As letras das músicas giravam em torno de um tema básico, onde o personagem principal poderia ser identificado como um homem pobre, trabalhador e honesto, do meio rural, vivendo no sul dos Estados Unidos, com dificuldades inerentes à sua condição social para dar uma certa segurança para sua família. O Cash retratava mesmo o homem simples do campo e seu ambiente familiar, lutando para viver dignamente. Um aspecto curioso é que Cash trouxe para esse disco o grupo vocal The Jordanaires, o mesmo que fazia o apoio vocal para os discos de Elvis. Não combinava muito com o estilo seco de Cash, mas funcionaram perfeitamente bem nas músicas em que atuaram. Estão presentes em apenas 5 faixas. Enfim, um retrato em crônicas musicais de Johnny Cash sobre o seu povo, seu tempo e suas amarguras. Muito bom de se ouvir. 

Johnny Cash - The Fabulous Johnny Cash (1958)

Lado A:
1. Run Softly, Blue River
2. Frankie’s Man, Johnny
3. That’s All Over
4. The Troubadour
5. One More Ride
6. That’s Enough

Lado B:
1. I Still Miss Someone
2. Don’t Take Your Guns to Town
3. I’d Rather Die Young
4. Pickin’ Time
5. Shepherd of My Heart
6. Supper-Time

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Chuck Berry - One Dozen Berrys

Segundo álbum da carreira de Chuck Berry e o primeiro a ser lançado oficialmente na Europa - uma prova de seu sucesso comercial. Esse disco tem alguns dos maiores clássicos da carreira do cantor e compositor. Duas delas são ícones absolutos que merecem estar em qualquer lista de melhores rocks de todos os tempos, são elas "Sweet Little Sixteen" que estouraria nas paradas assim que foi lançada e "Rock and Roll Music" que anos depois seria regravada pelos Beatles em seu disco "Beatles For Sale". Em tempos politicamente corretos em que vivemos uma letra como a de "Sweet Little Sixteen" certamente traria problemas para Berry, afinal imagine a paranoia que iria se formar ao se deparar com uma canção que falava de uma doce garota de dezesseis anos! Seria o caos em cima do pobre Chuck. Já "Rock and Roll Music" tem uma grande letra, algo bem típico de Chuck Berry pois ele usava de uma linguagem quase cinematográfica para passar seu recado. Obra Prima!

"One Dozen Berrys" faz parte da primeira fase da carreira do cantor. Por essa época ele ainda gravava seus álbuns em Chicago, sob supervisão dos próprios irmãos Chess (Leonard e Phil Chess) que dominavam todo o processo de gravação com mãos de ferro, algo que em pouco tempo os colocaria contra as ideias de Chuck Berry que não ficaria muito tempo no selo - ele saiu batendo a porta literalmente, dizendo que estava sendo roubado pelos donos da Chess na cara dura! De uma forma ou outra não há como negar que é um grande trabalho. Não importam muito as brigas de bastidores quando o ouvinte se delicia com esse repertório. Berry até procura inovar um pouco ao considerar gravar ousadias como "Rockin' at the Philharmonic", uma óbvia tirada de sarro dele para cima dos críticos do Rock ´n´ Roll que não paravam de qualificar as primeiras canções de rock como imbecis e destituídas de valor musical. O tempo, senhor de tudo, porém iria dar o devido reconhecimento para Berry e todos os pioneiros do rock uma vez que esse disco hoje é considerado um verdadeiro clássico! Nada mal...

Chuck Berry - One Dozen Berrys (1958)
Sweet Little Sixteen / Blue Feeling / La Jaunda / Rockin' at the Philharmonic / Oh Baby Doll / Guitar Boogie / Reelin' and Rockin / In-Go / Rock and Roll Music / How You've Changed / Low Feeling / It Don't Take But a Few Minutes.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Bill Haley & His Comets - Rockin' the Oldies

Mais um álbum do assim chamado "Glenn Miller do Rock". Gosto bastante desse disco, principalmente pela proposta de Haley de fazer releituras de antigas canções, em um processo que lembrava inclusive seus hits mais recentes como "Shake, Rattle and Roll" e "See You Later Alligator". Seria o primeiro de três lançamentos de Bill Haley que procuravam seguir temas ou conceitos na seleção musical. Seria uma espécie de predecessor dos famosos álbuns conceituais da década de 1960? Olhando sob um ponto de vista bem imparcial essa seria uma afirmação positiva, sim, Bill Haley foi o primeiro roqueiro da história a "amarrar" várias músicas sob um plano, um conceito de trabalho, podemos dizer assim. Curiosamente, apesar da temática inteligente e da ousadia do artista e do produtor (o ótimo Milt Gabler) o lançamento não foi muito bem acolhido pelo público. Também pudera, os garotos roqueiros da época, um monte de teddy boys, provavelmente não estavam interessados em canções antigas, mesmo que viessem sob um rótulo completamente novo e inovador.

Bobagem dos jovens, o disco é tão dançante como qualquer outro de Haley. A faixa que abre o disco, uma versão de um antigo clássico do  bandleader Larry Clinton chamada "The Dipsy Doodle", tem um balanço irresistível, com ótimo arranjo. As paradinhas e os ótimos solos de guitarra e sax são até hoje muito atuais e empolgantes. Rock ´n` Roll de primeira qualidade. "You Can't Stop Me From Dreaming" vai pelo mesmo caminho. Outra que usa e abusa das paradinhas típicas da primeira geração do rock americano. O piano se mostra mais presente, forte até! Grande arranjo em uma versão saborosa. Em "Apple Blossom Time" o destaque vai para o contrabaixo ao velho estilo (aqueles mesmo que você está pensando, enormes, pesadões, que tomavam quase todo o palco). A melodia é tão simpática que o ouvinte não pode deixar de se encantar. A fórmula "letra - solos de sax e guitarra - refrão pegajoso - e clímax para cima" se repete, o que não deixa de ser algo saborosamente nostálgico. O disco segue nesse esquema musical até se encerrar com a ótima "I'm Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter", muito embora aqui já sintamos um certo cansaço na interpretação do cantor. Se a intenção do velho Bill era demonstrar que o novo gênero chamado Rock ´n´ Roll poderia ser adaptado para qualquer tipo de standart da música americana, ele certamente comprovou seu ponto de vista.

Bill Haley & His Comets - Rockin' the Oldies (1957)
The Dipsy Doodle
You Can't Stop Me from Dreaming
Apple Blossom Time
Moon Over Miami
Is it True What They Say About Dixie?
Carolina in the Morning
Miss You
Please Don't Talk About Me When I'm Gone
Ain't Misbehavin'
One Sweet Letter from You
I'm Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter
Somebody Else is Taking My Place

Pablo Aluísioe.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Louis Armstrong - What a Wonderful World

Com os Estados Unidos afundando cada vez mais na lama da Guerra do Vietnã surgiu nas lojas em Outubro de 1968 esse modesto single do cantor Louis Armstrong. A letra de um lirismo e mensagem positiva fora do comum contrastava enormemente com o quadro político e social que a América vivia naquele momento conturbado de sua história. Havia a tensão racial latente, principalmente em estados sulistas, uma forte oposição à intervenção dos Estados Unidos no distante Vietnã, a morte de jovens soldados americanos nas selvas daquele país e um clima de que a democracia americana estava fraquejando diante dos interesses do complexo militar.

Diante de tudo isso não é de se admirar que o pessimismo tomasse conta de tantos setores. Para Louis Armstrong sua nação estava perdendo a esperança no futuro, na busca de um mundo melhor. Ele procurava por uma mensagem positiva, de fé e confiança de que as coisas iriam melhorar. Assim quando os autores Bob Thiele e George David Weiss lhe apresentaram a canção em uma mesa de bar em New Orleans, Armstrong se convenceu de que tinha encontrado o que tanto procurava.

"What a Wonderful World" é uma das mais belas canções da música americana de todos os tempos. Essa afirmação pode até soar um pouco banal para alguns mas não tenho receio de reforçar isso. O cantor com seu timbre de voz inconfundível dá um sabor todo especial ao resultado final. A letra, que naquela época foi inclusive acusada de ser pueril e ingênua demais, hoje em dia soa como um antídoto contra os pessimistas e alarmistas de plantão. Apesar de todas as ótimas intenções de Louis Armstrong em seu lançamento o fato é que o clima era tão pesado nos Estados Unidos naquela época que a canção foi praticamente ignorada nas paradas. O single vendeu uma quantidade de cópias irrisória e mesmo Louis Armstrong fazendo força para promovê-la as coisas comercialmente não foram bem nem para ele e nem para a canção.

Na Inglaterra e Austrália porém ela se tornou um sucesso. Os britânicos de uma maneira em geral conseguiram captar melhor a mensagem subliminar que a música trazia. De uma forma ou outra o tempo é senhor de tudo. Muitos anos depois da morte de Louis Armstrong a música finalmente encontraria o caminho da consagração em seu país natal. Ao ser colocada na trilha sonora do ótimo filme "Bom Dia Vietnã" a canção finalmente estourou nas paradas de sucesso americanas. Um reconhecimento tardio, é verdade, mas muito merecido. No final das contas o grande Louis Armstrong e sua sensibilidade sobre o mundo ao seu redor, tinha toda a razão.

What a Wonderful World (Thiele - Weiss) - I see trees of green... red roses too / I see em bloom... for me and for you / And I think to myself... what a wonderful world. / I see skies of blue... clouds of white / Bright blessed days... dark sacred nights /  And I think to myself...what a wonderful world /  The colors of a rainbow... so pretty ..in the sky / Are also on the faces... of people going by / I see friends shaking hands... sayin.. how do you do /  They're really sayin... I love you /  I hear babies cry... I watch them grow / They'll learn much more... than I'll never know / And I think to myself... what a wonderful world / The colors of a rainbow... so pretty in the sky / Are there on the faces... of people going by / I see friends shaking hands... sayin how do you do / They're really sayin... I love you / I hear babies cry... I watch them grow / you know their gonna learn / A whole lot more than I'll never know / And I think to myself...what a wonderful world / Yes I think to myself ... what a wonderful world.

Pablo Aluísio.

domingo, 12 de novembro de 2023

Bing Crosby - White Christmas

Época de natal! De repente você sente aquela vontade de ouvir músicas natalinas. Certo, muitas pessoas (com razão) não aguentam canções de natal por achar o material de maneira em geral muito brega e piegas. De certa forma praticamente noventa por cento é ruim de doer mesmo. Deixemos essa porcariada de lado. Vamos nos focar nos grandes clássicos de natal. Dentre eles talvez nenhuma música supere em importância e relevância a imortal "White Christmas". Essa canção é tão importante do ponto de vista cultural e comercial que é impossível não a ouvir sendo tocada em algum lugar durante esse período de festas. Do ponto de vista puramente musical ela tem um pedigree incrível pois foi escrita pelo genial Irving Berlin. Sua inspiração veio dos natais de sua infância, quando passou momentos inesquecíveis ao lado de seus pais. Aquele sentimento que provou quando era apenas um garoto jamais o abandonou. Curiosamente ele não tinha planos de compor a canção. Ele estava há dias compondo músicas para um editor de Nova Iorque quando parou para tomar um pouco de café. Entre um gole e outro, as notas foram surgindo em sua mente. Era época de natal então foi mesmo um encontro entre uma casualidade e uma época especial que acabou dando origem a uma obra prima.

A partitura acabou caindo nas mãos de Bing Crosby. Era 1942 e o mundo passava pelo trauma da II Guerra Mundial. Crosby queria gravar algo para os militares que estavam longe de casa, em trincheiras congeladas na Europa. Assim que ouviu "White Christmas" decidiu que aquela era a música que tanto procurava. No estúdio Crosby colocou o coração na ponta do microfone e criou um registro único e inesquecível. Ao seu lado músicos talentosos fizeram também sua parte. O acompanhamento vocal ficou com as delicadas garotas do Ken Darby Singers. E na parte instrumental brilhou o talento de todos os grandes músicos da John Scott Trotter and His Orchestra. Crosby acreditou que estava prestando uma singela homenagem aos soldados que estavam lutando na guerra e não tinha a menor ideia do que iria acontecer. O single com duas canções no lado B ("Let's Start the New Year Right" e "God Rest Ye Merry Gentlemen") pintou nas lojas americanas no natal do mesmo ano e foi um fenômeno de vendas. Pela primeira vez na história da indústria fonográfica dos Estados Unidos um disco conseguia vender mais de cinco milhões de cópias. Depois com as reedições a canção foi batendo recordes e mais recordes de vendagens, todos os anos, e hoje estima-se que no total "White Christmas" vendeu mais de cem milhões de cópias ao redor do mundo (sim, você não leu errado, cem milhões!!!). Uma linda música que merece servir de trilha sonora para a noite de natal de cada lar formado por pessoas de bom gosto musical.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Glenn Miller - In the Mood

Há quem ainda hoje desmereça o grande bandleader Glenn Miller. Na era das grandes Big Bands ele era acusado de ser comercial demais, de se vender para os interesses das grandes gravadoras. Uma visão cheia de preconceito e esnobismo. Na realidade Miller foi genial ao popularizar o som das grandes orquestras americanas. Um exemplo disso temos nesse single imortal de "In the Mood". Pare para pensar um pouco, essa gravação realizada há mais de 70 anos ainda soa completamente jovial e empolgante. Até nos dias de hoje seus acordes são facilmente reconhecidos por quem entenda minimamente de música.

Além disso se tivéssemos que eleger uma sonoridade que representasse toda aquela época, sem dúvida "In the Mood" seria a escolhida. Glenn Miller havia assinado um contrato com a RCA Victor e estava disposto a ter seu primeiro grande hit nas paradas. Depois de muito procurar acabou encontrando essa composição antiga, cujos primórdios eram creditados ao músico de jazz Wingy Manone. Ao lado de Joe Garland e Andy Razaf, Glenn Miller escreveu um arranjo mais empolgante, para levantar os ânimos nos salões de festa por onde sua big band se apresentasse. Uma vez arranjada ele a gravou em 1939 e o sucesso foi enorme!

Sob o selo da Bluebird, uma subsidiária da própria RCA, o disquinho 45RPM logo se tornou um dos primeiros da história da indústria fonográfica dos Estados Unidos a vender mais de um milhão de cópias, consolidando a banda de Glenn Miller como a mais popular da América. Depois disso o mundo ficou realmente pequeno e Miller e seus músicos tocaram pelos palcos internacionais, sucesso infelizmente interrompido pelo surgimento da Segunda Guerra Mundial na Europa. Por um desses caprichos trágicos do destino como todos sabemos a história de Glenn Miller não teve um final feliz. Mesmo já tendo passado da idade ele resolveu se alistar como homem patriótica que era.

Entrou para o esforço de guerra, tocando para os soldados americanos no exterior. Em uma dessas viagens de avião, no dia 15 de dezembro de 1944 sua aeronave sumiu dos radares e nunca mais foi encontrada. O desaparecimento de Miller e toda sua tripulação acabaram dando origem a estórias bizarras ao longo do tempo, como a que ele teria sido sequestrado por UFOs e coisas do tipo. De uma forma ou outra é de fato uma pena que um gênio da música como ele tenha saído de cena, tão cedo, com apenas 40 anos de idade. Sua música porém viverá eternamente nos corações daqueles que amam uma bela melodia.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Dean Martin - Dream with Dean: The Intimate Dean Martin

Dean Martin - Dream with Dean: The Intimate Dean Martin
Dean Martin tinha uma voz maravilhosa. Aqui o cantor resolveu apostar em algo bem intimista. Ele gravou o álbum com apenas quatro  músicos ao seu lado, Ken Lane ao piano, Irv Cottler na bateria, Red Mitchell no baixo e Barney Kessel na guitarra (Kessel chegou a trabalhar com outros grandes nomes como Elvis Presley na década de 1960). Nada de orquestras e nada de arranjos mais sofisticados como era praxe em seus discos anteriores, já que Martin sempre seguiu os passos de Sinatra nesse aspecto. A ideia era mesmo mudar um pouco, produzindo algo bem intimista (o que fica bem claro na própria capa do álbum, com Martin ao lado da lareira com um cigarro em mãos, fazendo todo o charme possível, bem de acordo com sua imagem de Mr. Cool). Para produzir o disco na Capitol, Martin trouxe o produtor Jimmy Bowen, praticamente uma lenda do meio musical americano, tendo trabalhado com dezenas de cantores ao longo da carreira, entre eles o próprio Frank Sinatra, além de produzir grandes sucessos para Sammy Davis, Jr., Kenny Rogers, Hank Williams, Jr., The Oak Ridge Boys, Reba McEntire e George Strait. Era tão competente que Frank Sinatra o escalou para produzir os primeiros discos de sua filha, Nancy.

Esse álbum traz aquele que talvez seja o maior sucesso de toda a carreira de Dean Martin, a faixa "Everybody Loves Somebody". A história dessa canção é bem interessante pois quebrou a supremacia que os Beatles tinham nas paradas de sucesso da época. Foi uma das poucas canções americanas a tirarem do número 1 da Billboard gravações do grupo inglês que naquela época vivia a febre da Beatlemania. Reza a lenda que o próprio Dean Martin teria ligado para Elvis e dito em tom de piada que aquele era o jeito certo de enfrentar a invasão britânica nas rádios e paradas de sucesso. Tirando esses aspectos comerciais de lado, o que podemos dizer é que esse é certamente um disco maravilhoso, sob qualquer ângulo que se analise. A sonoridade em geral é de uma beleza ímpar, muito suave e delicada. O que sempre se sobressai é a excelente vocalização de Martin, com intervenções sutis da guitarra de Kessel, acompanhada da melodia do piano de Ken Lane, tudo intercalado por um baixo quase inaudível do talentoso Mitchell (que vinha do jazz). Nos Estados Unidos o álbum ganhou uma recente edição de luxo, simplesmente excepcional.

Dean Martin - Dream with Dean: The Intimate Dean Martin
1. I'm Confessin' (That I Love You) 
2. Fools Rush In 
3. I'll Buy That Dream 
4. If You Were The Only Girl 
5. Blue Moon 
6. Everybody Love Somebody 
7. I Don't Know Why (I Just Do) 
8. "Gimmie" A Little Kiss 
9. Hands Across The Table 
10. Smile 
11. My Melancholy Baby 
12. Baby Won't You Please Come Home.

Pablo Aluísio. 

sábado, 4 de novembro de 2023

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers
Esse foi o primeiro álbum de Sinatra na Capitol Records. Não era apenas uma mudança de gravadora, pois Sinatra havia deixado para trás um belo legado musical na Columbia. Era também uma mudança de ares importante para o cantor. Ele já não vinha se dando bem nos últimos anos na Columbia, por causa de brigas com certos executivos. Na Capitol haveria possibilidade dele recomeçar um novo caminho na sua carreira e foi justamente isso que aconteceu. Sinatra decidiu que iria basicamente gravar as músicas que apresentava no Cassino Sands em Las Vegas. O mesmo repertório, as mesmas músicas e a mesma orquestra que o acompanhava no palco. O tema das canções era geralmente o mesmo, o coração partido de jovens apaixonados. Então não foi mesmo muito complicado de se achar o título ideal para o álbum. 

O disco acabou sendo comercialmente muito bem sucedido se tornando um dos mais vendidos naquele ano. Foi também um dos últimos em que Sinatra não precisou enfrentar a concorrência do rock, que estava prestes a explodir nas paradas musicais. A partir do surgimento da primeira geração do rock americano Sinatra iria enfrentar dificuldades para alcançar as primeiras posições dos mais vendidos. De qualquer forma é um grande trabalho. E como curiosidade final esse era o disco preferido de James Dean, conforme ele mesmo confessou em uma entrevista poucos dias antes de morrer. Quem diria, com sua imagem tão identificada ao rock, James Dean curtia mesmo um belo disco romântico do bom e velho Sinatra. 

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers (1954)
My Funny Valentine (Richard Rodgers, Lorenz Hart)
The Girl Next Door (Ralph Blane, Hugh Martin)
A Foggy Day (George Gershwin, Ira Gershwin) 
Like Someone in Love (Jimmy Van Heusen, Johnny Burke)
I Get a Kick Out of You (Cole Porter) 
Little Girl Blue (Rodgers, Hart) 
They Can't Take That Away from Me (George Gershwin, Ira Gershwin) 
Violets for Your Furs (Tom Adair, Matt Dennis)

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Norah Jones - Come Away With Me

Quando Norah Jones surgiu em 2002 o mundo da música necessitava desesperadamente de uma cantora como ela. Com as paradas americanas dominadas completamente pelo Rap e Hip Hop, Norah conseguiu um feito extraordinário: ressuscitar um gênero musical que para muitos estava morto e enterrado, o jazz. Obviamente a sonoridade de Norah não se assemelha ao jazz clássico, dos grandes ídolos do passado, mas sim uma nova roupagem, que não se envergonha de fundir ritmos diversos, como Folk e Soul em uma só mistura, resultando em um produto final belíssimo. O sucesso foi imediato. Norah foi consagrada pela crítica mundial, ganhando cinco prêmios Grammy (Entre eles o de melhor álbum do ano e melhor canção para Don't Know Why) e coroou sua estreia com chave de ouro ao vender mais de 22 milhões de cópias ao redor do mundo, um número realmente assustador para os dias de hoje, onde a pirataria corre solta e os artistas sofrem para vender material oficial. Nada mal para um gênero musical que era dito como coisa do passado, ultrapassado e sem perspectivas futuras.

Muito se teorizou para se procurar a razão de tanto sucesso e impacto. Talvez a resposta seja tão simples que não precise de tese alguma. Norah Jones fez sucesso com Come Away With Me simplesmente porque gravou excelentes canções, embaladas por arranjos de maravilhoso bom gosto, tudo aliado a uma sonoridade ímpar e cativante, que bateu fundo aos ouvintes que àquela altura já estavam fartos de tantos grupos sem consistência, divas fabricadas pelas gravadoras e cantores descartáveis. Norah trouxe qualidade musical em uma época em que isso estava simplesmente em extinção. O resultado dessa equação não poderia ter sido diferente e seu grande sucesso comprovou apenas que as pessoas queriam simplesmente ouvir boa música novamente. Norah também rompeu com velhas fórmulas. No ano em que surgiu a moda era venerar as grandes divas, com explosões de ego, estrelismo e excessos de todos os tipos. As cantoras que estavam em evidência na mídia ou eram estrelas deslumbradas com seu próprio sucesso (como Mariah Carey, que recentemente mostrou toda a sua falta de talento desafinando no funeral de Michael Jackson) ou ídolos teen que, para sobreviverem no meio musical, tiveram que adotar uma postura de vulgaridade explicita (como Britney Spears e similares). Norah, com sua timidez quase patológica rompeu com tudo isso.

Sua carreira evoluiu bastante após o lançamento de Come Away With Me. Norah lançou mais dois CDs, o segundo denominado Feels Like Home flertou apaixonadamente com a Country Music e seu último trabalho, Not Too Late, trouxe o lado compositora da cantora, com faixas compostas pela própria ao lado do produtor Lee Alexander. Mas sem a menor sombra de dúvida foi com Come Away With Me e sua parceria vitoriosa com o chamado Jazz contemporâneo que Norah alcançou suas melhores notas. Uma obra irretocável certamente.

Norah Jones - Come Away With Me
01. "Don't Know Why" (Harris)
02. "Seven Years" (Alexander)
03. "Cold, Cold Heart" (Williams)
04. "Feelin' the Same Way" (Alexander)
05. "Come Away with Me" (Jones)
06. "Shoot the Moon" (Harris)
07. "Turn Me On" (Loudermilk)
08. "Lonestar" (Alexander)
09. "I've Got to See You Again" (Harris)
10. "Painter Song" (Alexander, Hopkins)
11. "One Flight Down" (Harris)
12. "Nightingale" (Jones)
13. "The Long Day Is Over" (Harris, Jones)
14. "The Nearness of You" (Carmichael, Washington)

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Snow Patrol - Eyes Open

Revirando velhos CDs me deparei novamente com esse álbum do Snow Patrol. Sempre gostei muito do som desses escoceses, mas parei de acompanhar a carreira deles há algum tempo (por onde será que andam nesse momento?). Esse "Eyes Open" foi meu primeiro CD da banda. Comprei assim que saiu, por volta de 2006. O som melódico das canções continua tão bom quanto antes. O Snow Patrol tem uma sonoridade que poderia definir como um Stereophonics mais romãntico, com menos guitarras estridentes, o que é ideal para quem gosta do lado mais suave do Britpop. Aqui temos onze faixas que podem ser definidas como, de forma bem singela, agradáveis. As baladas predominam, até porque são ideais para a voz de Gary Lightbody. A faixa inicial "You're All I Have" sempre foi a minha preferida. Começa quase como um trenó no meio da neve. É curioso que depois desse começo calmo a canção dá uma levada alto astral, com vocais pra cima, empolgantes, quase como se estivessem vibrando com alguma notícia animadora, alegre. Esse som feliz demais pode ser meio complicado para os fãs do Travis, outros escoceses excelentes, mas vale a pena pela intensa alegria que tentam passar. Para ouvir numa fase mais relaxante, curtindo a vida. Por falar em Travis a balada "Chasing Cars" poderia se encaixar perfeitamente em qualquer CD deles que ninguém iria notar a diferença. Snow Patrol querendo dar uma de depressivos. Não é bem a praia dos caras, vamos ser sinceros.

Em termos de arranjos vale também a menção de "Shut Your Eyes". O dedilhado atravessa toda a faixa. O refrão pegajoso não é unanimidade entre os críticos do rock britânico, mas está valendo, até porque o Snow Patrol sempre teve mesmo vocação para tocar nas rádios (pelo menos nas rádios inglesas, claro!). Isso ficou bem claro em "It's Beginning to Get to Me". Se bem que eles não deveriam exagerar tanto. Ficou óbvio demais. E essa caixinha de ninar que ouvimos em "You Could Be Happy"? Provavelmente seja feita para tocar para os seus filhos pequenos dormirem de noite. Para uma banda escocesa que não quer ser tão depressiva como o Travis vai soar tudo um pouco fora do lugar! A última grande faixa do álbum vem com "Headlights on Dark Roads". Suas linhas ansiosas e nervosinhas bateram muito bem com a proposta do grupo nesse CD.

Snow Patrol - Eyes Open (2006)
1. You're All I Have
2. Hands Open
3. Chasing Cars
4. Shut Your Eyes
5. It's Beginning to Get to Me
6. You Could Be Happy
7. Make This Go On Forever
8. Set the Fire to the Third Bar
9. Headlights on Dark Roads
10. Open Your Eyes
11. The Finish Line

Pablo Aluísio.