terça-feira, 31 de outubro de 2023

Norah Jones - Come Away With Me

Quando Norah Jones surgiu em 2002 o mundo da música necessitava desesperadamente de uma cantora como ela. Com as paradas americanas dominadas completamente pelo Rap e Hip Hop, Norah conseguiu um feito extraordinário: ressuscitar um gênero musical que para muitos estava morto e enterrado, o jazz. Obviamente a sonoridade de Norah não se assemelha ao jazz clássico, dos grandes ídolos do passado, mas sim uma nova roupagem, que não se envergonha de fundir ritmos diversos, como Folk e Soul em uma só mistura, resultando em um produto final belíssimo. O sucesso foi imediato. Norah foi consagrada pela crítica mundial, ganhando cinco prêmios Grammy (Entre eles o de melhor álbum do ano e melhor canção para Don't Know Why) e coroou sua estreia com chave de ouro ao vender mais de 22 milhões de cópias ao redor do mundo, um número realmente assustador para os dias de hoje, onde a pirataria corre solta e os artistas sofrem para vender material oficial. Nada mal para um gênero musical que era dito como coisa do passado, ultrapassado e sem perspectivas futuras.

Muito se teorizou para se procurar a razão de tanto sucesso e impacto. Talvez a resposta seja tão simples que não precise de tese alguma. Norah Jones fez sucesso com Come Away With Me simplesmente porque gravou excelentes canções, embaladas por arranjos de maravilhoso bom gosto, tudo aliado a uma sonoridade ímpar e cativante, que bateu fundo aos ouvintes que àquela altura já estavam fartos de tantos grupos sem consistência, divas fabricadas pelas gravadoras e cantores descartáveis. Norah trouxe qualidade musical em uma época em que isso estava simplesmente em extinção. O resultado dessa equação não poderia ter sido diferente e seu grande sucesso comprovou apenas que as pessoas queriam simplesmente ouvir boa música novamente. Norah também rompeu com velhas fórmulas. No ano em que surgiu a moda era venerar as grandes divas, com explosões de ego, estrelismo e excessos de todos os tipos. As cantoras que estavam em evidência na mídia ou eram estrelas deslumbradas com seu próprio sucesso (como Mariah Carey, que recentemente mostrou toda a sua falta de talento desafinando no funeral de Michael Jackson) ou ídolos teen que, para sobreviverem no meio musical, tiveram que adotar uma postura de vulgaridade explicita (como Britney Spears e similares). Norah, com sua timidez quase patológica rompeu com tudo isso.

Sua carreira evoluiu bastante após o lançamento de Come Away With Me. Norah lançou mais dois CDs, o segundo denominado Feels Like Home flertou apaixonadamente com a Country Music e seu último trabalho, Not Too Late, trouxe o lado compositora da cantora, com faixas compostas pela própria ao lado do produtor Lee Alexander. Mas sem a menor sombra de dúvida foi com Come Away With Me e sua parceria vitoriosa com o chamado Jazz contemporâneo que Norah alcançou suas melhores notas. Uma obra irretocável certamente.

Norah Jones - Come Away With Me
01. "Don't Know Why" (Harris)
02. "Seven Years" (Alexander)
03. "Cold, Cold Heart" (Williams)
04. "Feelin' the Same Way" (Alexander)
05. "Come Away with Me" (Jones)
06. "Shoot the Moon" (Harris)
07. "Turn Me On" (Loudermilk)
08. "Lonestar" (Alexander)
09. "I've Got to See You Again" (Harris)
10. "Painter Song" (Alexander, Hopkins)
11. "One Flight Down" (Harris)
12. "Nightingale" (Jones)
13. "The Long Day Is Over" (Harris, Jones)
14. "The Nearness of You" (Carmichael, Washington)

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Snow Patrol - Eyes Open

Revirando velhos CDs me deparei novamente com esse álbum do Snow Patrol. Sempre gostei muito do som desses escoceses, mas parei de acompanhar a carreira deles há algum tempo (por onde será que andam nesse momento?). Esse "Eyes Open" foi meu primeiro CD da banda. Comprei assim que saiu, por volta de 2006. O som melódico das canções continua tão bom quanto antes. O Snow Patrol tem uma sonoridade que poderia definir como um Stereophonics mais romãntico, com menos guitarras estridentes, o que é ideal para quem gosta do lado mais suave do Britpop. Aqui temos onze faixas que podem ser definidas como, de forma bem singela, agradáveis. As baladas predominam, até porque são ideais para a voz de Gary Lightbody. A faixa inicial "You're All I Have" sempre foi a minha preferida. Começa quase como um trenó no meio da neve. É curioso que depois desse começo calmo a canção dá uma levada alto astral, com vocais pra cima, empolgantes, quase como se estivessem vibrando com alguma notícia animadora, alegre. Esse som feliz demais pode ser meio complicado para os fãs do Travis, outros escoceses excelentes, mas vale a pena pela intensa alegria que tentam passar. Para ouvir numa fase mais relaxante, curtindo a vida. Por falar em Travis a balada "Chasing Cars" poderia se encaixar perfeitamente em qualquer CD deles que ninguém iria notar a diferença. Snow Patrol querendo dar uma de depressivos. Não é bem a praia dos caras, vamos ser sinceros.

Em termos de arranjos vale também a menção de "Shut Your Eyes". O dedilhado atravessa toda a faixa. O refrão pegajoso não é unanimidade entre os críticos do rock britânico, mas está valendo, até porque o Snow Patrol sempre teve mesmo vocação para tocar nas rádios (pelo menos nas rádios inglesas, claro!). Isso ficou bem claro em "It's Beginning to Get to Me". Se bem que eles não deveriam exagerar tanto. Ficou óbvio demais. E essa caixinha de ninar que ouvimos em "You Could Be Happy"? Provavelmente seja feita para tocar para os seus filhos pequenos dormirem de noite. Para uma banda escocesa que não quer ser tão depressiva como o Travis vai soar tudo um pouco fora do lugar! A última grande faixa do álbum vem com "Headlights on Dark Roads". Suas linhas ansiosas e nervosinhas bateram muito bem com a proposta do grupo nesse CD.

Snow Patrol - Eyes Open (2006)
1. You're All I Have
2. Hands Open
3. Chasing Cars
4. Shut Your Eyes
5. It's Beginning to Get to Me
6. You Could Be Happy
7. Make This Go On Forever
8. Set the Fire to the Third Bar
9. Headlights on Dark Roads
10. Open Your Eyes
11. The Finish Line

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Stereophonics - Word Gets Around

Quem pensa que o melhor som do Britpop vem do Oasis e da Inglaterra está redondamente enganado. Esse título pertence aos galeses do Stereophonics. Esse trio formado no começo dos anos 90 vem colecionando uma série de sucessos, fazendo com que cinco de seus seis álbuns chegassem ao topo da parada inglesa nos últimos anos. Não é para menos, fazendo um som honesto e sem firulas o Stereophonics prova que o Britpop não é composto apenas por bandas pretensiosas e sem conteúdo. Obviamente Kelly Jones e cia escrevem sobre o cotidiano de suas vidas, de forma simples e comum, porém o forte desse trio realmente é a melodia de suas canções; poucos grupos conseguem compor músicas tão interessantes como eles nesse aspecto.

Words Get Around, seu álbum de estreia (o único que não chegou ao topo da parada britânica) traz uma coleção de belos momentos. A voz de bebum de pub de Kelly Jones se enquadra perfeitamente nas harmoniosas linhas das melhores canções do álbum: Traffic, Local Boy in The Photography e A Thousand Trees. Ao contrário do Oasis, que muitas vezes prefere um som estrondoso e no último volume, o Stereophonics aposta nas entrelinhas de uma musicalidade mais cadenciada e bem executada, reforçando por letras bem compostas, retratando as experiências de um jovem comum vivendo nos dias de hoje no outrora glorioso império Britânico. Além de conseguirem apresentar músicas mais consistentes o Stereophonics consegue tudo isso sem perder a garra que se espera de toda banda de rock. Isso está bem claro em faixas como a ótima Too Many Sandwiches, onde as guitarras ecoam ao fundo sem ofender ou machucar nossos tímpanos. Aqui o som pesado está a serviço de uma balada que deixaria um Paul McCartney orgulhoso. Enfim, o CD é essencial para quem quiser conhecer o melhor do movimento Britpop, mostrando a todos que se o Rock está em crise ao redor do mundo, certamente a apatia e a falta de talento ainda não atingiram as ilhas britânicas, pois o grande número de bandas inglesas, escocesas, irlandesas e galesas está aí para comprovar que o bravo Rock´n´Roll vive e vai mundo bem na terra da Rainha.

Stereophonics - Word Gets Around
1. A Thousand Trees
2. Looks Like Chaplin
3. More Life in a Tramps Vest
4. Local Boy in the Photograph
5. Traffic
6. Not Up To You
7. Check my Eyelids for Holes
8. Same Size Feet
9. Last of the Big Time Drinkers
10. Goldfish Bowl
11. Too Many Sandwiches
12. Billy Davey's Daughter

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Oasis - Definitely Maybe

Hoje o Oasis é muito lembrado pelas declarações dos irmãos Gallagher na imprensa. No meio de muita lorota e brigas internas o Oasis vai sobrevivendo ano após ano, apesar dos inúmeros boatos que vão se separar de vez. Não é para tanto. Embaixo da polêmica e da falta de educação dos irmãos (o que destoa totalmente da imagem de povo super educado dos britânicos) está a música que eles produzem e isso é o que realmente importa no final das contas. Definitely Maybe é muito provavelmente o melhor álbum de estreia de um grupo de rock britânico nos últimos vinte anos. Embalados pelo sucesso do single Live Forever que chegou ao primeiro lugar poucos dias antes do lançamento do álbum o Oasis rapidamente chegou ao topo da parada britânica vendendo milhões de cópias desde então. O CD realmente é inovador, hoje seu impacto está um pouco amenizado pois tantas bandas seguiram os passos do Oasis que o frescor de novidade de quem o ouviu em 1994 se dissipou bastante, de tão imitados o Oasis acabou virando banal. De qualquer forma a jovialidade e a inovação de canções como Up in the Sky, Live Forever, Slide Away e Rock´n´Roll Star permanecem firmes, mesmo após passados mais de dez anos de sua gravação.

O disco foi aclamado pela imprensa especializada inglesa na ocasião de seu lançamento sendo considerado uma espécie de salvação do rock britânico, que vinha muito mal nas paradas na época. Embora ninguém ainda soubesse prever o que iria acontecer, se o grupo iria confirmar o talento de sua disco de estreia ou desaparecer como tantos outros, os críticos resolveram apostar no novo som que surgia naquele momento. Ao longo dos anos o grupo não iria decepcionar quem tinha apostado em sua sucesso. Eles iriam evoluir ainda mais musicalmente. Infelizmente também iriam como poucos brigar internamente (e publicamente), trocar ofensas com outros artistas, demitir antigos membros, passar por novas formações e aparecer com frequência nos tablóides britânicos. No saldo final nada disso importa. A única coisa que se mantém e é realmente relevante é o talento do Oasis, que se assemelha a um bom vinho, quanto mais tempo passa melhor fica.

Oasis - Definitely Maybe (1994) / 1. Rock 'n' Roll Star / 2. Shakermaker / 3. Live Forever / 4. Up in the Sky / 5. Columbia / 6. Supersonic / 7. Bring It on Down / 8. Cigarettes & Alcohol / 9. Digsy's Dinner / 10. Slide Away / 11. Married with Children"

Pablo Aluísio.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Nirvana - Bleach

Esse é o primeiro álbum da carreira do Nirvana, a banda que revelou para o mundo o talento de Kurt Cobain. O cantor e compositor já mostra em seu primeiro disco toda a essência de sua obra musical: arranjos crus, com letras pessimistas e suicidas, com pique de apresentação ao vivo. Kurt gostou do resultado final de seu primeiro disco mas ficou com muita raiva do selo Sub Pop que nada fez para divulgar o som do grupo fora do pequeno circuito de cidadezinhas ao redor de Seattle no frio, feio e distante Estado de Washington – o berço do chamado movimento Grunge, essa nova linguagem musical que faria a cabeça dos jovens roqueiros na década de 1990. Não há grandes hits na seleção musical. Apenas “About a Girl” segue mais conhecida. As letras foram praticamente todas compostas enquanto Kurt Cobain vivia uma existência simplesmente caótica. Após sair de casa o cantor passou a vagar pela cidade, indo de casa em casa, dormindo de favor na casa de conhecidos e amigos, dormindo pelas ruas ou até mesmo debaixo da ponte. Essa vida errática e pobreza extrema talvez justifiquem as palavras de um irritado DJ de Seattle que após insistentes pedidos para tocar o Nirvana definiu sem piedade Kurt Cobain como um “mendigo de guitarra”!

A verdade porém era outra. Kurt adotou como lema em sua vida a máxima que afirmava que “Punk é liberdade!”. Coisas materiais não faziam sua cabeça nessa fase de sua vida. Ele pouco se importava com roupas, carros e outros bens que faziam a cabeça dos jovens de sua idade. Na verdade ele estava mais preocupado em vencer na carreira musical, até porque esse parecia ser seu único talento na vida. Kurt havia abandonado a escola, vagava de antro em antro e levava uma existência sem muito propósito. Para piorar começou a abusar de drogas pesadas como heroína, que dizia usar para aliviar uma dor de estomago que o deixava louco e muito deprimido. Quando o Nirvana gravou Bleach, Kurt estava muito longe dos anos de glória que viriam com o disco seguinte, “Nevermind”, esse sim um grande sucesso de vendas. Vivendo pelas ruas ou então sendo despejado de um apartamento vagabundo atrás do outro, Kurt foi compondo as canções que fazem parte desse CD. Diante dessa situação não me admira em nada o tom pessimista ao extremo da maioria das letras. Era uma catarse pois Cobain despejava suas frustrações, decepções e medos em suas letras que eram extremamente autorais e viscerais. Agora o curioso é que Bleach pode ter sido gerado e concebido no meio desse caos mas analisando friamente é um álbum bem tocado, bem executado. O som da banda soa muito redondinho e bem gravado, o que contradiz de certa forma o próprio Kurt que achava que um verdadeiro disco punk deveria ser o mais pessimamente tocado e gravado. Bleach é o extremo oposto disso. Como não poderia deixar de ser o disco foi um fiasco de vendas em seu lançamento e de fato só venderia bem mesmo após o Nirvana estourar com seu segundo álbum. No conjunto é uma excelente oportunidade para conhecer e entender o Kurt Cobain antes da fama e do sucesso – um cara desesperado tentando se expressar da única forma que sabia. O resultado é simplesmente excelente, sem fazer favor nenhum ao grupo. Não me admira em nada que o Nirvana tenha sido considerado o melhor grupo de rock dentro daquele movimento que nascia. Nada mal para um mero “mendigo de guitarras”!

Nirvana – Bleach (1989)
Blew
Floyd the Barber
About a Girl
School
Love Buzz
Paper Cuts
Negative Creep
Scoff
Swap Meet
Mr. Moustache
Sifting

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de outubro de 2023

A-ha - Scoundrel Days

Segundo disco do A-ha. O primeiro álbum como todos sabemos fez bastante sucesso mas nada se compararia ao que aconteceria nesse segundo disco. Lançado nos EUA em 1986 o grupo logo estourou novamente nas paradas, abrindo mais portas na América para eles. Não é para menos pois "Scoundrel Days" está cheio de grande sucessos com destaque para a simbólica e nostálgica "Cry Wolf", que até hoje arrepia por seu refrão pegajoso e marcante. Outro ponto que ajudou muito o A-ha por essa época foi o advento da popularidade do canal MTV.

Hoje em dia ela está em baixa por uma série de fatores (inclusive no Brasil está literalmente fechando suas portas) mas na década de 80 a MTV era o canal que todo jovem sintonizava. O A-ha assim surgiu como algo exótico e diferente, afinal os americanos não sabiam (como ainda hoje não sabem) o que era a Noruega ou onde ela ficava no mapa. Só sabiam que era um país muito frio e distante que conquistava as paradas americanas através desse trio de caras de nomes pra lá de esquisitos. Com as portas abertas o grupo aproveitou cada espaço, cada programa na TV americana para ganhar fama e divulgar de quebra sua música. Tanta divulgação surtiu efeitos bem positivos pois esse é seguramente um dos discos do A-ha com o maior número de hits FM da história do grupo.

Todas as faixas são destaques, de uma forma ou outra. A canção título é uma balada muito bem escrita, seguindo a tendência de dar nome ao disco como aconteceu em seu primeiro álbum. Gosto muito dos arranjos inspirados de "October" e "The Swing of Things". O mesmo pode-se dizer da simpática e cativante "Maybe, Maybe" que me lembra e muito o clima descontraído e levemente despretensioso das músicas dos anos 50. A canção mais marcante é certamente "Cry Wolf" mas gostaria de chamar a atenção para a diferente "Manhattan Skyline" que em minha opinião é uma das gravações mais simbólicas do som que se fazia na década de 80. Arranjos, letras, tudo nos remete para aqueles anos. Sinal que o som do A-ha ficou datado? Não diria isso, na verdade é apenas a prova que a música que eles fizeram cativou bastante, mesmo após tantos anos, afinal de contas você só se lembrará daquilo que realmente ficou gravado em sua memória não é mesmo? Maior prova que o A-ha não é uma banda descartável como se diz por ai não há.

A-ha - Scoundrel Days (1986)
Scoundrel Days
The Swing of Things
I've Been Losing You
October
Manhattan Skyline
Cry Wolf
We're Looking for the Whales
The Weight of the Wind
Maybe, Maybe
Soft Rains of April

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

U2 - War

Em relação ao U2 existe uma verdade absoluta: não se pode entender o grupo, seu som e suas letras sem entender suas origens. O U2 é um grupo de rock político desde sempre, mesmo em seus primeiros álbuns já se nota claramente esse aspecto. Embora os anos 80 tenham dado origem a excelentes artistas não há como negar que aquela década também foi o auge do Pop. E o mundo Pop é aquela coisa: se investe muito mais no visual e na imagem dos artistas do que em qualquer outra coisa. O artista pop é uma celebridade por excelência, vide os maiores ícones daqueles tempos, Michael Jackson e Madonna. Ser político, tratar de assuntos sérios naquela época não era fácil, mas o U2 salvou a lavoura daqueles tempos relativamente bem fúteis. Eles deixaram as futilidades de lado e resolveram falar dos problemas políticos de seu país, da barra enorme que era ser um jovem na Irlanda durante a opressão inglesa aos seus cidadãos e à sua liberdade. Não havia espaço para baboseiras, o assunto era sério. 

Um exemplo você pode conferir nesse "War", cujas intenções do grupo ficam evidenciados logo no título. Que artista pop adolescente dos 80´s iria dar o nome de "Guerra" a um disco? Absolutamente nenhum. Assim o U2 rompeu realmente barreiras. O som do grupo e principalmente as letras fugiam do feijão com arroz, das melodias cheias de sintetizadores e dos temas banais do tipo adolescente ama garota, mas garota não o ama. Na época havia também outro fator importante: O Bono ainda não era tão pretensioso e nem queria salvar o mundo como vemos hoje em dia! Ele apenas fazia um som honesto ao lado de seu conjunto e se considerava apenas um membro da classe trabalhadora irlandesa que conseguiu se destacar no cenário musical - e isso era o ápice da vida deles, não salvar o planeta Terra da destruição como vemos agora. Deixando isso um pouco de lado "War" ainda é muito bom musicalmente e não perdeu a força, mesmo depois de tantos anos. O Rock como gênero musical talvez seja um dos únicos que resiste muito bem ao tempo, praticamente nunca ficando datado (com exceções, é óbvio). De qualquer maneira se você não está nem aí para esse tipo de discussão e quer apenas matar as saudades de sua juventude o disco ainda cai muito bem pois está cheio de hits radiofônicos da época, afinal de contas onde mais você iria ouvir o hino "Sunday Bloody Sunday"?

U2 - War (1983)
Sunday Bloody Sunday / Seconds / New Year's Day / Like a Song../ Drowning Man / The Refugee
Two Hearts Beat as One / Red Light / Surrender / 40 / U2 - War (Irlanda, 1983) Produção: Steve Lillywhite / Selo: Island / Data de gravação: 17 de maio, 20 de agosto de 1982 / Data de Lançamento: Fevereiro de 1983 / Músicos: Bono (vocal, guitarra), The Edge (guitarra, piano), Adam Clayton (baixo), Larry Mullen Jr (bateria), Kenny Fradley (trompete), Steve Wickham (violino), The Coconuts (vocais).

"Sunday Bloody Sunday" talvez seja a música mais politizada do U2. Uma letra relembrando o domingo sangrento, quando os soldados ingleses abriram fogo contra manifestantes irlandeses desarmados, parte da população civil que apenas estava reivindicando seus direitos. Um absurdo completo. A harmonia da música inclusive lembra uma marcha militar para destacar ainda mais a indignação dos membros da banda. E pensar que apenas ditaduras atiravam contra pessoas inocentes... a democrática Inglaterra também carregou essa mancha em seu história.

"Seconds" é a segunda canção do disco. Aqui o teor da letra também é político. Nessa mensagem Bono tenta chamar a atenção para o perigo da corrida armamentista entre as grandes potências nucleares da época (Estados Unidos e União Soviética), cada uma construindo mais e mais armamentos nucleares de alta potencialidade destrutiva. Aonda tudo aquilo iria terminar? O ritmo da canção é muito boa, lembrando inclusive a primeira faixa "Sunday Bloody Sunday". O ritmo se desenvolve como uma marcha militar. Outro recado de Bono sobre os problemas que o mundo vivia naquele momento.

A terceira música desse disco acabou se tornando também seu maior hit nas rádios dos anos 80. Se trata de "New Year's Day". Aqui os arranjos já são bem mais caprichados, com destaque para a guitarra duplicada ao fundo. A gravadora farejou sucesso nessa gravação e lançou como single em janeiro de 1983 com a faixa "Treasure (Whatever Happened to Pete the Chop)" no lado B. O sucesso se confirmou. Foi a primeira música do U2 a ter destaque na parada da Billboard nos Estados Unidos. Também foi a primeira música do grupo a entrar na seletiva lista "Top 10" do Reino Unido. Para jovens irlandeses praticamente desconhecidos foi um avanço e tanto na carreira.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Duran Duran - Rio

Outro dia lendo uma publicação inglesa vi uma lista que colocava o Duran Duran como um dos mais influentes grupo de rock da Inglaterra! Como é?! Eu sempre me recusei a considerar o Duran Duran uma banda de rock. Em minha opinião esse grupo era uma transição entre o pop mais plástico e uma variação bunda mole de um tipo de rock mais inofensivo (perdão por usar a palavra rock), uma categoria que costumo chamar de rock de FM (quem viveu os anos 1980 e a era de ouro das estações de frequência modulada irá entender de imediato o que estou querendo dizer). 

Além de implicar com o som mela cueca do "Duran Duran" ainda nunca fui com a cara do Simon Le Bon! Na boa, nada tenho contra gays em geral; mas o Le Bon sem dúvida foi o astro pop rock mais gay da música inglesa - nem Boy George e nem muito menos George Michael, símbolos da musicalidade GLS British, conseguiram chegar perto. Também foi o músico mais cara de pau que já vi, usando roupinhas pra lá de bregas, mesmo na época. Coisas de oncinha que entregavam completamente o Le Bon. E ainda chamavam o sujeito de charmoso e elegante! Please... Lixo cultural é isso aí, my friend! Tantas primas donas reunidas em um mesmo grupo só poderia dar mesmo em brigas com luvas de pelica e o Duran Duran logo se implodiria, dando origem a outros grupos, igualmente farofas, mas isso é uma outra história que depois contarei por aqui... 

Título Original: Rio
Artista: Duran Duran
Ano de Produção: 1982
País: Inglaterra
Estúdio / Selo: Capitol / EMI
Produção: Colin Thurston
Formato Original: Vinil
Músicos: Simon Le Bon, Nick Rhodes, John Taylor, Roger Taylor

Faixas: Rio / My Own Way / Lonely In Your Nightmare / Hungry Like the Wolf / Hold Back the Rain / New Religion / Last Chance on the Stairway / Save a Prayer / The Chauffeur.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Madonna - Like a Virgin

Like a Virgin é o álbum da vida de Madonna. Seu primeiro disco é interessante mas ela ainda surgia muito crua e inexperiente. Em Like a Virgin porém veio a grande transformação em superstar. Era os anos 80 e quando mais exagerado fosse o visual e os sintetizadores melhor. Uma dose de polêmica também era muito bem-vinda. Pois bem, Like a Virgin tinha tudo isso em doses generosas. Madonna se aliou ao produtor Nile Rodgers e ele conseguiu com raro brilhantismo transformar as ideias de Madonna para o disco em um LP muito bem produzido, com raro faro para estourar nas paradas. Cada música foi exaustivamente trabalhada por Rodgers. A intenção era obviamente alcançar um estouro de vendas e ele ao lado de sua artista conseguiu isso. Like a Virgin vendeu 35 milhões de cópias, um número praticamente inimaginável para as cantoras de hoje em dia. Na época não havia pirataria, nem internet, assim quem quisesse ouvir Madonna tinha que necessariamente comprar o vinil nas lojas. Hoje em dia o tal LP é algo estranho para as novas gerações mas para os jovens da década de 80 ele era a única alternativa para ouvir seus ídolos.

Como não poderia deixar de ser o álbum Like a Virgin é lotado de hits. "Material Girl", "Like a Virgin", "Into the Groove" (que foi incluída depois em uma segunda tiragem do disco), "Over and Over","Shoo-Bee-Doo" e "Dress You Up". Essas faixas tocavam o tempo todo, em todas as rádios, o dia inteiro. É literalmente impossível alguém que tenha vivido na década de 80 que não conheça todas elas."Material Girl" e "Like a Virgin" trazem a essência de Madonna. As letras falam de uma nova mulher, mais livre, dona de si, que deixa as amarras moralistas de lado para assumir um lado mais feminino, mais despudorado até. A própria Madonna usava "Like a Virgin" como uma paródia para os costumes e tabus sexuais da época. A virgindade, a suposta pureza que a sociedade exigia das mulheres, tudo isso era satirizado pela cantora. Nem preciso dizer que esse tipo de mensagem, aliada a um visual ousado e uma campanha muito bem pensada de marketing por parte da Warner, transformaram Madonna em um sucesso musical só comparado na época a Michael Jackson, que vinha de seu ultra sucesso "Thriller" (falaremos sobre ele em breve aqui no blog). O curioso é que muitos diziam que Madonna definitivamente não iria durar muito, que era uma estrela juvenil que logo seria esquecida. O tempo provou que ela tem uma forte resistência aos modismos e às modas musicais que vão e vem. De fato Madonna sobrevive. Hoje em dia ainda é considerada uma estrela, mesmo após tantos anos desse seu "Like a Virgin".  Por essa razão se você estiver mesmo a fim de entender Madonna em sua mais pura essência não deixe de ouvir Like a Virgin. Um disco fundamental nesse aspecto.

Madonna - Like a Virgin (1984)
Material Girl 
Angel 
Like a Virgin 
Over and Over 
Love Don't Live Here Anymore 
Into the Groove 
Dress You Up 
Shoo-Bee-Doo 
Pretender 
Stay.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Michael Jackson - Thriller

Só quem viveu os anos 80 consegue ter uma noção completa do impacto que Thriller teve no mundo musical. Esse é um álbum que realmente merece o rótulo de fenomenal. É incrível que um artista como Michael Jackson – que mesmo após o lançamento de seu disco de estréia ainda tentava se desvincular de seu passado no Jackson Five – tenha conseguido atingir tamanho êxito. E não estou falando apenas em sucesso de vendas, já que Thriller foi o álbum mais vendido de todos os tempos, mas sim de sucesso do ponto de vista artístico, musical. Mesmo que você não goste do cantor por causa de seus inúmeros problemas pessoais que o atingiram depois, é quase impossível negar a importância que Thriller teve para o mundo da música nos anos 80. Fruto do trabalho de Michael com o produtor Quincy Jones, Thriller tem um ar de jovialidade e originalidade que até hoje impressiona quem o ouve. Foi o auge de Michael Jackson, a sua obra prima, o pico – que nem ele mais conseguiria atingir depois!

Uma das características que sempre me chamaram atenção em “Thriller” era o incrível número de grandes sucessos presentes em sua seleção musical. Alíás todo o disco foi sucesso, da primeira à última faixa, sem exceções. Eu me recordo bem que nas festinhas de adolescentes da época Thriller era tocado na íntegra porque além de ser um disco extremamente popular não havia faixas ruins ou apagadas – que estavam ali apenas para completar o disco, por exemplo. Pelo contrário, Thriller só tinha sucesso, um atrás do outro, e todas as canções eram extremamente bem trabalhadas e produzidas, mostrando todo o perfeccionismo de Michael Jackson e Quincy Jones nos estúdios. Canções como “Billy Jean”, “Beat It” e a própria “Thriller” viraram verdadeiros hinos de uma geração. Para completar os videoclips (novidade para uma época ainda muito primitiva nesse aspecto) ajudaram a popularizar ainda mais as músicas. Olhando para trás podemos perceber que no fundo “Thriller” foi a glória e a desgraça de Michael Jackson. A glória porque nenhum outro artista conseguiu superá-lo nos números absurdos de cópias vendidas que esse álbum conseguiu alcançar e desgraça porque depois desse avassalador sucesso Michael Jackson nunca mais conseguiu superar o fato dele ter sido literalmente esmagado por sua própria fama e sucesso.

Michael Jackson - Thriller (1982)
Wanna Be Startin' Somethin 
Baby Be Mine 
The Girl Is Mine 
Thriller 
Beat It
Billie Jean 
Human Nature 
P.Y.T. (Pretty Young Thing) 
The Lady in My Life.

Pablo Aluísio.