quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Gene Vincent And The Blue Caps - Hound Dog / Be-Bop-A-Lula

O Gene Vincent foi uma das figuras mais curiosas da história do rock americano. Era um autêntico Teddy Boy, sem preocupação nenhuma em parecer mais inteligente do que era. Não fazia média, não posava de intelectual e não estava nem aí para o que pensavam dele. Também não estava lá muito preocupado em ser original demais. Seu grande sucesso, "Be-Bop-A-Lula", era praticamente uma paródia do estilo de cantar de Elvis Presley (até a mãe do próprio Elvis o confundiu quando ouviu pela primeira vez a música no rádio). Ao lado dos Blue Caps (agora entendeu de onde vem o nome "Renato e Seus Blue Caps"?), o jovem cantor se tornou um grande sucesso no momento mais febril do nascimento do rock nos Estados Unidos. Suas perfomances também eram bem agitadas, sem regras, antecipando de certa forma a atitude que seria copiada anos depois pelo movimento punk na Inglaterra (aliás é bom salientar que os roqueiros americanos dos anos 50 eram ídolos da garotada punk que iria tentar ressuscitar o velho espírito rocker daquela época nos anos 70).

O que temos aqui nesse EP é um registro ao vivo de Gene Vincent se apresentando no programa de rádio do DJ Alan Freed em agosto de 1956. O que se ouve é um som sujo mesmo, praticamente trash, bem ao gosto dos roqueiros mais rebeldes e insanos dos anos 50. Gene Vincent ao lado de seus Blue Caps apresentam duas canções. A primeira, para surpresa geral, é o grande sucesso de Elvis Presley, a conhecida "Hound Dog". Escrita por Leiber e Stoller e imortalizada pelo Rei do Rock, aqui temos um som bem mais cru e visceral. Gene e seu grupo mais parece uma banda de garagem para falar a verdade (e isso não é nada mal, vamos esclarecer). Depois, no lado B, ele volta ao palco para estraçalhar com seu maior hit, a imortal "Be-Bop-A-Lula" que seria regravada por praticamente todos os grandes nomes do rock mundial nos anos que viriam (era inclusive uma das preferidas de John Lennon). Gene parece chutar algo no meio da faixa, provavelmente o microfone, só para você ter uma ideia do caos completo que eram seus shows! Mais punk rocker do que isso, impossível!

Pablo Aluísio.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Carl Perkins - Dance Album

Carl Perkins - Dance Album
Esse foi o primeiro álbum de Carl Perkins. Isso, por si só, já seria suficiente para colocá-lo em destaque em qualquer seleção de discos da história do rock. Entretanto há mais. É um LP lançado e produzido pela Sun Records. Uma raridade, já que a Sun não tinha estrutura e nem dinheiro suficientes para produzir e lançar um álbum completo como esse. A pequena gravadora de Sam Phillips lançava mesmo singles, compactos simples, que eram mais baratos e fáceis de vender no mercado. E para infelicidade de Phillips esse disco não conseguiu pagar seus custos porque Carl Perkins sofreu um acidente e ficou impedido de promover o álbum devidamente. Com isso o prejuízo veio certo para a pequena companhia de Sam. 

Por outro lado basta dar uma olhada na lista das músicas para bem entender a importância desse trabalho musical. Elvis Presley iria gravar "Blue Suede Shoes" transformando a canção em um dos maiores sucessos de sua carreira. Já os Beatles, nos anos 60, iriam gravar nada mais, nada menos, do que 3 músicas desse álbum em sua discografia oficial. Trata-se das canções Everybody's Trying To Be My Baby, Honey Don't (gravadas e lançadas no álbum "Beatles For Sale" de 1964) e Matchbox (lançada em um EP especial do grupo contendo apenas clássicos do rock). Sure To Fall também ganharia uma versão dos Beatles em seu programa na BBC de Londres, na primeira metade daquela década. Então é isso, mesmo não fazendo o sucesso que merecia, esse LP acabou consagrado com os anos, pois suas faixas foram imortalizadas por outros grandes nomes da história do rock. 

Carl Perkins - Dance Album (1956)
Blue Suede Shoes
Movie Magg
Sure To Fall
Gone, Gone, Gone
Honey Don't
Only You 3:16
Tennessee
Wrong Yo Yo
Everybody's Trying To Be My Baby
Matchbox
Your True Love
Boppin' The Blues

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Johnny Cash - The Fabulous Johnny Cash

Johnny Cash - The Fabulous Johnny Cash
Esse foi o segundo disco da carreira do Johnny Cash. Assim como Elvis Presley, ele havia começado na Sun Records de Sam Phillips. E assim como Elvis também largou o pequeno estúdio de Memphis para ir gravar em uma das grandes gravadoras da época, no caso aqui a Columbia, que tinha Sinatra em seu elenco. Muitos qualificam esse álbum como sendo de folk e rockabilly. Discordo completamente. Esse é um disco de country music, sem tirar e nem colocar nada em seu lugar. É um tipo de country que fugia um pouco do que era feito em Nashville, por causa das próprias peculiaridades do Cash, mas ainda assim Country em sua mais pura essência. 

As letras das músicas giravam em torno de um tema básico, onde o personagem principal poderia ser identificado como um homem pobre, trabalhador e honesto, do meio rural, vivendo no sul dos Estados Unidos, com dificuldades inerentes à sua condição social para dar uma certa segurança para sua família. O Cash retratava mesmo o homem simples do campo e seu ambiente familiar, lutando para viver dignamente. Um aspecto curioso é que Cash trouxe para esse disco o grupo vocal The Jordanaires, o mesmo que fazia o apoio vocal para os discos de Elvis. Não combinava muito com o estilo seco de Cash, mas funcionaram perfeitamente bem nas músicas em que atuaram. Estão presentes em apenas 5 faixas. Enfim, um retrato em crônicas musicais de Johnny Cash sobre o seu povo, seu tempo e suas amarguras. Muito bom de se ouvir. 

Johnny Cash - The Fabulous Johnny Cash (1958)

Lado A:
1. Run Softly, Blue River
2. Frankie’s Man, Johnny
3. That’s All Over
4. The Troubadour
5. One More Ride
6. That’s Enough

Lado B:
1. I Still Miss Someone
2. Don’t Take Your Guns to Town
3. I’d Rather Die Young
4. Pickin’ Time
5. Shepherd of My Heart
6. Supper-Time

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Chuck Berry - One Dozen Berrys

Segundo álbum da carreira de Chuck Berry e o primeiro a ser lançado oficialmente na Europa - uma prova de seu sucesso comercial. Esse disco tem alguns dos maiores clássicos da carreira do cantor e compositor. Duas delas são ícones absolutos que merecem estar em qualquer lista de melhores rocks de todos os tempos, são elas "Sweet Little Sixteen" que estouraria nas paradas assim que foi lançada e "Rock and Roll Music" que anos depois seria regravada pelos Beatles em seu disco "Beatles For Sale". Em tempos politicamente corretos em que vivemos uma letra como a de "Sweet Little Sixteen" certamente traria problemas para Berry, afinal imagine a paranoia que iria se formar ao se deparar com uma canção que falava de uma doce garota de dezesseis anos! Seria o caos em cima do pobre Chuck. Já "Rock and Roll Music" tem uma grande letra, algo bem típico de Chuck Berry pois ele usava de uma linguagem quase cinematográfica para passar seu recado. Obra Prima!

"One Dozen Berrys" faz parte da primeira fase da carreira do cantor. Por essa época ele ainda gravava seus álbuns em Chicago, sob supervisão dos próprios irmãos Chess (Leonard e Phil Chess) que dominavam todo o processo de gravação com mãos de ferro, algo que em pouco tempo os colocaria contra as ideias de Chuck Berry que não ficaria muito tempo no selo - ele saiu batendo a porta literalmente, dizendo que estava sendo roubado pelos donos da Chess na cara dura! De uma forma ou outra não há como negar que é um grande trabalho. Não importam muito as brigas de bastidores quando o ouvinte se delicia com esse repertório. Berry até procura inovar um pouco ao considerar gravar ousadias como "Rockin' at the Philharmonic", uma óbvia tirada de sarro dele para cima dos críticos do Rock ´n´ Roll que não paravam de qualificar as primeiras canções de rock como imbecis e destituídas de valor musical. O tempo, senhor de tudo, porém iria dar o devido reconhecimento para Berry e todos os pioneiros do rock uma vez que esse disco hoje é considerado um verdadeiro clássico! Nada mal...

Chuck Berry - One Dozen Berrys (1958)
Sweet Little Sixteen / Blue Feeling / La Jaunda / Rockin' at the Philharmonic / Oh Baby Doll / Guitar Boogie / Reelin' and Rockin / In-Go / Rock and Roll Music / How You've Changed / Low Feeling / It Don't Take But a Few Minutes.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Bill Haley & His Comets - Rockin' the Oldies

Mais um álbum do assim chamado "Glenn Miller do Rock". Gosto bastante desse disco, principalmente pela proposta de Haley de fazer releituras de antigas canções, em um processo que lembrava inclusive seus hits mais recentes como "Shake, Rattle and Roll" e "See You Later Alligator". Seria o primeiro de três lançamentos de Bill Haley que procuravam seguir temas ou conceitos na seleção musical. Seria uma espécie de predecessor dos famosos álbuns conceituais da década de 1960? Olhando sob um ponto de vista bem imparcial essa seria uma afirmação positiva, sim, Bill Haley foi o primeiro roqueiro da história a "amarrar" várias músicas sob um plano, um conceito de trabalho, podemos dizer assim. Curiosamente, apesar da temática inteligente e da ousadia do artista e do produtor (o ótimo Milt Gabler) o lançamento não foi muito bem acolhido pelo público. Também pudera, os garotos roqueiros da época, um monte de teddy boys, provavelmente não estavam interessados em canções antigas, mesmo que viessem sob um rótulo completamente novo e inovador.

Bobagem dos jovens, o disco é tão dançante como qualquer outro de Haley. A faixa que abre o disco, uma versão de um antigo clássico do  bandleader Larry Clinton chamada "The Dipsy Doodle", tem um balanço irresistível, com ótimo arranjo. As paradinhas e os ótimos solos de guitarra e sax são até hoje muito atuais e empolgantes. Rock ´n` Roll de primeira qualidade. "You Can't Stop Me From Dreaming" vai pelo mesmo caminho. Outra que usa e abusa das paradinhas típicas da primeira geração do rock americano. O piano se mostra mais presente, forte até! Grande arranjo em uma versão saborosa. Em "Apple Blossom Time" o destaque vai para o contrabaixo ao velho estilo (aqueles mesmo que você está pensando, enormes, pesadões, que tomavam quase todo o palco). A melodia é tão simpática que o ouvinte não pode deixar de se encantar. A fórmula "letra - solos de sax e guitarra - refrão pegajoso - e clímax para cima" se repete, o que não deixa de ser algo saborosamente nostálgico. O disco segue nesse esquema musical até se encerrar com a ótima "I'm Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter", muito embora aqui já sintamos um certo cansaço na interpretação do cantor. Se a intenção do velho Bill era demonstrar que o novo gênero chamado Rock ´n´ Roll poderia ser adaptado para qualquer tipo de standart da música americana, ele certamente comprovou seu ponto de vista.

Bill Haley & His Comets - Rockin' the Oldies (1957)
The Dipsy Doodle
You Can't Stop Me from Dreaming
Apple Blossom Time
Moon Over Miami
Is it True What They Say About Dixie?
Carolina in the Morning
Miss You
Please Don't Talk About Me When I'm Gone
Ain't Misbehavin'
One Sweet Letter from You
I'm Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter
Somebody Else is Taking My Place

Pablo Aluísioe.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Louis Armstrong - What a Wonderful World

Com os Estados Unidos afundando cada vez mais na lama da Guerra do Vietnã surgiu nas lojas em Outubro de 1968 esse modesto single do cantor Louis Armstrong. A letra de um lirismo e mensagem positiva fora do comum contrastava enormemente com o quadro político e social que a América vivia naquele momento conturbado de sua história. Havia a tensão racial latente, principalmente em estados sulistas, uma forte oposição à intervenção dos Estados Unidos no distante Vietnã, a morte de jovens soldados americanos nas selvas daquele país e um clima de que a democracia americana estava fraquejando diante dos interesses do complexo militar.

Diante de tudo isso não é de se admirar que o pessimismo tomasse conta de tantos setores. Para Louis Armstrong sua nação estava perdendo a esperança no futuro, na busca de um mundo melhor. Ele procurava por uma mensagem positiva, de fé e confiança de que as coisas iriam melhorar. Assim quando os autores Bob Thiele e George David Weiss lhe apresentaram a canção em uma mesa de bar em New Orleans, Armstrong se convenceu de que tinha encontrado o que tanto procurava.

"What a Wonderful World" é uma das mais belas canções da música americana de todos os tempos. Essa afirmação pode até soar um pouco banal para alguns mas não tenho receio de reforçar isso. O cantor com seu timbre de voz inconfundível dá um sabor todo especial ao resultado final. A letra, que naquela época foi inclusive acusada de ser pueril e ingênua demais, hoje em dia soa como um antídoto contra os pessimistas e alarmistas de plantão. Apesar de todas as ótimas intenções de Louis Armstrong em seu lançamento o fato é que o clima era tão pesado nos Estados Unidos naquela época que a canção foi praticamente ignorada nas paradas. O single vendeu uma quantidade de cópias irrisória e mesmo Louis Armstrong fazendo força para promovê-la as coisas comercialmente não foram bem nem para ele e nem para a canção.

Na Inglaterra e Austrália porém ela se tornou um sucesso. Os britânicos de uma maneira em geral conseguiram captar melhor a mensagem subliminar que a música trazia. De uma forma ou outra o tempo é senhor de tudo. Muitos anos depois da morte de Louis Armstrong a música finalmente encontraria o caminho da consagração em seu país natal. Ao ser colocada na trilha sonora do ótimo filme "Bom Dia Vietnã" a canção finalmente estourou nas paradas de sucesso americanas. Um reconhecimento tardio, é verdade, mas muito merecido. No final das contas o grande Louis Armstrong e sua sensibilidade sobre o mundo ao seu redor, tinha toda a razão.

What a Wonderful World (Thiele - Weiss) - I see trees of green... red roses too / I see em bloom... for me and for you / And I think to myself... what a wonderful world. / I see skies of blue... clouds of white / Bright blessed days... dark sacred nights /  And I think to myself...what a wonderful world /  The colors of a rainbow... so pretty ..in the sky / Are also on the faces... of people going by / I see friends shaking hands... sayin.. how do you do /  They're really sayin... I love you /  I hear babies cry... I watch them grow / They'll learn much more... than I'll never know / And I think to myself... what a wonderful world / The colors of a rainbow... so pretty in the sky / Are there on the faces... of people going by / I see friends shaking hands... sayin how do you do / They're really sayin... I love you / I hear babies cry... I watch them grow / you know their gonna learn / A whole lot more than I'll never know / And I think to myself...what a wonderful world / Yes I think to myself ... what a wonderful world.

Pablo Aluísio.

domingo, 12 de novembro de 2023

Bing Crosby - White Christmas

Época de natal! De repente você sente aquela vontade de ouvir músicas natalinas. Certo, muitas pessoas (com razão) não aguentam canções de natal por achar o material de maneira em geral muito brega e piegas. De certa forma praticamente noventa por cento é ruim de doer mesmo. Deixemos essa porcariada de lado. Vamos nos focar nos grandes clássicos de natal. Dentre eles talvez nenhuma música supere em importância e relevância a imortal "White Christmas". Essa canção é tão importante do ponto de vista cultural e comercial que é impossível não a ouvir sendo tocada em algum lugar durante esse período de festas. Do ponto de vista puramente musical ela tem um pedigree incrível pois foi escrita pelo genial Irving Berlin. Sua inspiração veio dos natais de sua infância, quando passou momentos inesquecíveis ao lado de seus pais. Aquele sentimento que provou quando era apenas um garoto jamais o abandonou. Curiosamente ele não tinha planos de compor a canção. Ele estava há dias compondo músicas para um editor de Nova Iorque quando parou para tomar um pouco de café. Entre um gole e outro, as notas foram surgindo em sua mente. Era época de natal então foi mesmo um encontro entre uma casualidade e uma época especial que acabou dando origem a uma obra prima.

A partitura acabou caindo nas mãos de Bing Crosby. Era 1942 e o mundo passava pelo trauma da II Guerra Mundial. Crosby queria gravar algo para os militares que estavam longe de casa, em trincheiras congeladas na Europa. Assim que ouviu "White Christmas" decidiu que aquela era a música que tanto procurava. No estúdio Crosby colocou o coração na ponta do microfone e criou um registro único e inesquecível. Ao seu lado músicos talentosos fizeram também sua parte. O acompanhamento vocal ficou com as delicadas garotas do Ken Darby Singers. E na parte instrumental brilhou o talento de todos os grandes músicos da John Scott Trotter and His Orchestra. Crosby acreditou que estava prestando uma singela homenagem aos soldados que estavam lutando na guerra e não tinha a menor ideia do que iria acontecer. O single com duas canções no lado B ("Let's Start the New Year Right" e "God Rest Ye Merry Gentlemen") pintou nas lojas americanas no natal do mesmo ano e foi um fenômeno de vendas. Pela primeira vez na história da indústria fonográfica dos Estados Unidos um disco conseguia vender mais de cinco milhões de cópias. Depois com as reedições a canção foi batendo recordes e mais recordes de vendagens, todos os anos, e hoje estima-se que no total "White Christmas" vendeu mais de cem milhões de cópias ao redor do mundo (sim, você não leu errado, cem milhões!!!). Uma linda música que merece servir de trilha sonora para a noite de natal de cada lar formado por pessoas de bom gosto musical.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Glenn Miller - In the Mood

Há quem ainda hoje desmereça o grande bandleader Glenn Miller. Na era das grandes Big Bands ele era acusado de ser comercial demais, de se vender para os interesses das grandes gravadoras. Uma visão cheia de preconceito e esnobismo. Na realidade Miller foi genial ao popularizar o som das grandes orquestras americanas. Um exemplo disso temos nesse single imortal de "In the Mood". Pare para pensar um pouco, essa gravação realizada há mais de 70 anos ainda soa completamente jovial e empolgante. Até nos dias de hoje seus acordes são facilmente reconhecidos por quem entenda minimamente de música.

Além disso se tivéssemos que eleger uma sonoridade que representasse toda aquela época, sem dúvida "In the Mood" seria a escolhida. Glenn Miller havia assinado um contrato com a RCA Victor e estava disposto a ter seu primeiro grande hit nas paradas. Depois de muito procurar acabou encontrando essa composição antiga, cujos primórdios eram creditados ao músico de jazz Wingy Manone. Ao lado de Joe Garland e Andy Razaf, Glenn Miller escreveu um arranjo mais empolgante, para levantar os ânimos nos salões de festa por onde sua big band se apresentasse. Uma vez arranjada ele a gravou em 1939 e o sucesso foi enorme!

Sob o selo da Bluebird, uma subsidiária da própria RCA, o disquinho 45RPM logo se tornou um dos primeiros da história da indústria fonográfica dos Estados Unidos a vender mais de um milhão de cópias, consolidando a banda de Glenn Miller como a mais popular da América. Depois disso o mundo ficou realmente pequeno e Miller e seus músicos tocaram pelos palcos internacionais, sucesso infelizmente interrompido pelo surgimento da Segunda Guerra Mundial na Europa. Por um desses caprichos trágicos do destino como todos sabemos a história de Glenn Miller não teve um final feliz. Mesmo já tendo passado da idade ele resolveu se alistar como homem patriótica que era.

Entrou para o esforço de guerra, tocando para os soldados americanos no exterior. Em uma dessas viagens de avião, no dia 15 de dezembro de 1944 sua aeronave sumiu dos radares e nunca mais foi encontrada. O desaparecimento de Miller e toda sua tripulação acabaram dando origem a estórias bizarras ao longo do tempo, como a que ele teria sido sequestrado por UFOs e coisas do tipo. De uma forma ou outra é de fato uma pena que um gênio da música como ele tenha saído de cena, tão cedo, com apenas 40 anos de idade. Sua música porém viverá eternamente nos corações daqueles que amam uma bela melodia.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Dean Martin - Dream with Dean: The Intimate Dean Martin

Dean Martin - Dream with Dean: The Intimate Dean Martin
Dean Martin tinha uma voz maravilhosa. Aqui o cantor resolveu apostar em algo bem intimista. Ele gravou o álbum com apenas quatro  músicos ao seu lado, Ken Lane ao piano, Irv Cottler na bateria, Red Mitchell no baixo e Barney Kessel na guitarra (Kessel chegou a trabalhar com outros grandes nomes como Elvis Presley na década de 1960). Nada de orquestras e nada de arranjos mais sofisticados como era praxe em seus discos anteriores, já que Martin sempre seguiu os passos de Sinatra nesse aspecto. A ideia era mesmo mudar um pouco, produzindo algo bem intimista (o que fica bem claro na própria capa do álbum, com Martin ao lado da lareira com um cigarro em mãos, fazendo todo o charme possível, bem de acordo com sua imagem de Mr. Cool). Para produzir o disco na Capitol, Martin trouxe o produtor Jimmy Bowen, praticamente uma lenda do meio musical americano, tendo trabalhado com dezenas de cantores ao longo da carreira, entre eles o próprio Frank Sinatra, além de produzir grandes sucessos para Sammy Davis, Jr., Kenny Rogers, Hank Williams, Jr., The Oak Ridge Boys, Reba McEntire e George Strait. Era tão competente que Frank Sinatra o escalou para produzir os primeiros discos de sua filha, Nancy.

Esse álbum traz aquele que talvez seja o maior sucesso de toda a carreira de Dean Martin, a faixa "Everybody Loves Somebody". A história dessa canção é bem interessante pois quebrou a supremacia que os Beatles tinham nas paradas de sucesso da época. Foi uma das poucas canções americanas a tirarem do número 1 da Billboard gravações do grupo inglês que naquela época vivia a febre da Beatlemania. Reza a lenda que o próprio Dean Martin teria ligado para Elvis e dito em tom de piada que aquele era o jeito certo de enfrentar a invasão britânica nas rádios e paradas de sucesso. Tirando esses aspectos comerciais de lado, o que podemos dizer é que esse é certamente um disco maravilhoso, sob qualquer ângulo que se analise. A sonoridade em geral é de uma beleza ímpar, muito suave e delicada. O que sempre se sobressai é a excelente vocalização de Martin, com intervenções sutis da guitarra de Kessel, acompanhada da melodia do piano de Ken Lane, tudo intercalado por um baixo quase inaudível do talentoso Mitchell (que vinha do jazz). Nos Estados Unidos o álbum ganhou uma recente edição de luxo, simplesmente excepcional.

Dean Martin - Dream with Dean: The Intimate Dean Martin
1. I'm Confessin' (That I Love You) 
2. Fools Rush In 
3. I'll Buy That Dream 
4. If You Were The Only Girl 
5. Blue Moon 
6. Everybody Love Somebody 
7. I Don't Know Why (I Just Do) 
8. "Gimmie" A Little Kiss 
9. Hands Across The Table 
10. Smile 
11. My Melancholy Baby 
12. Baby Won't You Please Come Home.

Pablo Aluísio. 

sábado, 4 de novembro de 2023

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers
Esse foi o primeiro álbum de Sinatra na Capitol Records. Não era apenas uma mudança de gravadora, pois Sinatra havia deixado para trás um belo legado musical na Columbia. Era também uma mudança de ares importante para o cantor. Ele já não vinha se dando bem nos últimos anos na Columbia, por causa de brigas com certos executivos. Na Capitol haveria possibilidade dele recomeçar um novo caminho na sua carreira e foi justamente isso que aconteceu. Sinatra decidiu que iria basicamente gravar as músicas que apresentava no Cassino Sands em Las Vegas. O mesmo repertório, as mesmas músicas e a mesma orquestra que o acompanhava no palco. O tema das canções era geralmente o mesmo, o coração partido de jovens apaixonados. Então não foi mesmo muito complicado de se achar o título ideal para o álbum. 

O disco acabou sendo comercialmente muito bem sucedido se tornando um dos mais vendidos naquele ano. Foi também um dos últimos em que Sinatra não precisou enfrentar a concorrência do rock, que estava prestes a explodir nas paradas musicais. A partir do surgimento da primeira geração do rock americano Sinatra iria enfrentar dificuldades para alcançar as primeiras posições dos mais vendidos. De qualquer forma é um grande trabalho. E como curiosidade final esse era o disco preferido de James Dean, conforme ele mesmo confessou em uma entrevista poucos dias antes de morrer. Quem diria, com sua imagem tão identificada ao rock, James Dean curtia mesmo um belo disco romântico do bom e velho Sinatra. 

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers (1954)
My Funny Valentine (Richard Rodgers, Lorenz Hart)
The Girl Next Door (Ralph Blane, Hugh Martin)
A Foggy Day (George Gershwin, Ira Gershwin) 
Like Someone in Love (Jimmy Van Heusen, Johnny Burke)
I Get a Kick Out of You (Cole Porter) 
Little Girl Blue (Rodgers, Hart) 
They Can't Take That Away from Me (George Gershwin, Ira Gershwin) 
Violets for Your Furs (Tom Adair, Matt Dennis)

Pablo Aluísio.