sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Madonna - Erotica

Madonna - Erotica
Esse foi o álbum que mudou a carreira de Madonna para sempre! Também marcou de forma definitiva o final de sua primeira fase na carreira tanto do ponto de vista musical como também de imagem pública. Madonna deixava praticamente tudo para trás para navegar por novos mares musicais. Foi o primeiro disco conceitual da cantora. As músicas tinham como base a luxúria, a sedução e o sexo. Algumas letras também tratavam da liberdade feminina de viver sua própria sexualidade. O problema da AIDS também não ficou de fora. Foi um disco que levou Madonna definitivamente para o lado progressista, pois a cantora abraçou diversas bandeiras do movimento como o ferminíssimo e a luta pelos direitos da comunidade internacional LGBT. Depois desse disco Madonna virou mesmo a musa definitiva dos homossexuais pelo mundo.

Musicalmente falando é um disco muito ousado. Madonna deixou aquela sonoridade pop dos anos 80 no passado e abraçou outros estilos como a Dance, o House e até mesmo o Hip-hop, que tanto sucesso faziam nas boates e clubs mundo afora. O disco também foi lançado ao lado de um álbum de fotografias quase pornográficas chamado Sex. Foi o começo de uma nova maneira de colocar dois produtos no mercado, uma verdadeira manobra de marketing de mídia. Tanto o livro como o CD fizeram bastante sucesso comercial, sendo que esse último passou a marca dos seis milhões de cópias vendidas. Madonna havia mudado e o seu público havia recebido muito bem todas essas mudanças. Uma nova artista nasceu com esse álbum.

Madonna - Erotica (1992)
Erotica
Fever
Bye Bye Baby
Deeper and Deeper
Where Life Begins
Bad Girl
Waiting
Thief of Hearts
Words
Rain
Why's It So Hard?
In This Life
Did You Do It?
Secret Garden 

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Michael Jackson - HIStory

Michael Jackson foi um grande artista de nosso tempo. Era ótimo cantor, dançarino e compositor. Certamente sua imensa popularidade é plenamente justificada pelo grande talento que tinha. Sobre isso acredito que não haja grandes controvérsias. Infelizmente isso não bastava ao cantor e ele se envolveu em uma enorme quantidade de confusões ao longo da vida, fatos esses que nem preciso aqui entrar em detalhes pois já é demais sabido por todos, ainda mais depois de sua morte quando somos bombardeados diariamente com aspectos de sua vida pessoal. Michael Jackson não foi apenas um grande astro musical mas uma celebridade elevada à nona potência. Nesse ponto é que reside todo o problema. Como prestar atenção no artista Michael Jackson no meio de tanto barulho causado por sua persona sui generis? É algo complicado de se alcançar. Ainda mais agora, após sua morte. De repente Michael, que era mal visto por muita gente, virou uma espécie de santidade imaculada. Incrível como tantas pessoas mudaram de opinião tão rapidamente apenas pelo fato de seu falecimento. Certamente a mídia mostrou, como poucas vezes se viu, a sua enorme capacidade de mudar a opinião pública na direção de onde bem entender. O mesmo Michael que foi massacrado pela indústria de informação hoje é canonizado num evento sem proporções, mostrando realmente que a massa está totalmente nas mãos dos grandes meios de comunicação.

Mas isso é um assunto para se discutir com mais calma em outra ocasião. Como afirmei antes, se focar apenas no músico Michael Jackson nos dias de hoje é algo complicado. Esse CD, HIStory, lançado bem no meio das acusações de pedofilia, mostra como o lado musical de Michael foi soterrado pelas toneladas de tablóides sensacionalistas. Ouvir HIStory agora é algo revelador. Ao longo de suas várias faixas podemos tranquilamente notar o grande artista que o mundo perdeu recentemente. Na verdade o álbum, tal como foi concebido, vem fazer um levantamento sobre a trajetória de Michael ao longo dos anos. Assim no CD 1 temos seus maiores sucessos, com todos aqueles clássicos que tão bem conhecemos (e que por isso não vou tecer maiores comentários). Já o CD 2 traz material inédito gravado por ele naquele ano. O ponto alto é justamente o CD2 de inéditas. Nessas quinze faixas facilmente reconhecemos o que de melhor (e pior) existia na carreira de Jackson. De positivo temos ótimas baladas cantadas por Michael, mostrando mais uma vez o ponto forte de sua voz. "Stranger In Moscow", uma faixa estranhamente intimista mostra esse seu lado vocal, que depois é confirmada na bela "You Are Not Alone" (feita em homenagem a sua esposa de então, a filha de Elvis, Lisa Marie Presley). Para quem gosta do lado mais agitado do astro, duas faixas tentam, sem muito êxito é bom salientar, reviver os dias de Bad e Thriller. Em Scream temos um dueto pouco inspirado ao lado de sua irmã Janet e em 2 Bad constatamos que a velha fórmula havia se desgastado um pouco.

Já "HIStory", a faixa que dá nome ao CD, é no mínimo curiosa, mas pelo sua própria estrutura dificilmente se destacaria nas paradas. O lado ruim do CD vem da regravação desnecessária de Come Together dos Beatles (afinal os direitos eram dele mesmo) e da constrangedora "Childhood" (depois de todas as acusações Michael deveria ter evitado o tema infantil no CD). "Money" tem uma estrutura rítmica muito rica, assim como o vocal de Michael, excelente. "Earth Song" por sua vez se destaca não só pela bonita melodia mas também pela mensagem de tenta passar (Pois é, até na terra do Peter Pan havia consciência com nosso meio ambiente). "Little Susie" é tão estranha quanto curiosa. Não sei onde ele estava com a cabeça ao se envolver com esse tipo de canção. Por fim temos "Smile", que era a sua canção preferida. Aqui temos o grande momento do CD pois não há como negar que se trata de uma das mais lindas releituras dp grande clássico de Charles Chaplin. É um momento primoroso, acima de qualquer crítica, que fez jus ao talento genial de seu criador. É isso, HIStory mostra as facetas de um ser humano complexo, difícil de entender e compreender, mas que no final deixou uma grande obra, essa sim, imortal.

Michael Jackson - HIStory (1995)
HIStory Begins (Disc 1): 01. Billie Jean 02. The Way You Make Me Feel 03. Black Or White" 04. Rock With You 05. She's Out Of My Life 06. Bad 07. I Just Can't Stop Loving You 08. Man In The Mirror 09. Thriller 10. Beat It 11. The Girl Is Mine 12. Remember The Time 13. Don't Stop 'Til You Get Enough 14. Wanna Be Startin' Somethin' 15. Heal The World.

HIStory Continues (Disc 2): 01. Scream 02. They Don't Care About Us 03. Stranger In Moscow 04. This Time Around 05. Earth Song 06. D.S. 07. Money 08. Come Together 09. You Are Not Alone 10. Childhood (Theme from Free Willy 2) 11. Tabloid Junkie 12. 2 Bad 13. HIStory 14. Little Susie.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de julho de 2024

Raul Seixas - Novo Aeon

Esse disco pode ser considerado o terceiro álbum solo do cantor e compositor em sua nova fase na carreira. Não mais o produtor, mas sim o artista, se assumindo completamente. Foi o disco que também herdou a pressão de fazer o mesmo sucesso do álbum anterior, "Gita". O próprio Raul admitiu isso em entrevistas. A gravadora esperava a venda de um grande número de cópias, mas isso não aconteceu. As vendas foram fracas e a crítica especializada caiu em cima, malhando o disco de forma impiedosa. Com isso as relações de Raul Seixas com a gravadora Phillips, que já não eram boas, acabaram levando ao rompimento.

A dupla formada por Paulo Coelho e Raul Seixas retornou com novas músicas, mas sem o mesmo brilho de antes. Raul costumava dizer que eles tinham entre si uma "inimizade íntima" e essa tensão acabou se refletindo no disco. Pelo menos há alguns clássicos no repertório do álbum. O maior sucesso veio com a excelente "Tente Outra Vez", uma injeção de ânimo e otimismo perante o fracasso. Uma bela letra, bem positiva. "A Maçã" também se tornou um sucesso, no ritmo de balada romântica despudorada. Já "Rock do Diabo"  mais parecia uma brincadeira de Raul em cima da velha ideia dos conservadores quadradões de que "o rock era coisa do Diabo". Para Raul Seixas era isso mesmo, eles estavam cobertos de razão! O Diabo era o pai do Rock!

Raul Seixas - Novo Aeon (1975)
Tente Outra Vez
Rock do Diabo
A Maçã
Eu Sou Egoísta
Caminhos
Tu És o MDC da Minha Vida
A Verdade Sobre a Nostalgia
Para Noia
Peixuxa (O Amiguinho dos Peixes)
É Fim de Mês
Sunseed
Caminhos II
Novo Aeon

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de julho de 2024

Pink Floyd - Wish You Were Here

Wish You Were Here foi o disco sucessor do grande sucesso do Pink Floyd, The Dark Side Of The Moon. Por essa razão as expectativas em torno de seu lançamento eram enormes. De qualquer forma havia por parte da banda e público uma certa confiança que o fantástico trabalho desenvolvido em Dark Side teria um sucessor à altura. Realmente era consenso entre todos que o Pink Floyd havia finalmente encontrado seu caminho. Depois da saída do líder Syd Barrett o grupo ficou meio perdido, sem saber que rumo tomar. Em razão disso participou de projetos experimentais, compôs trilhas sonoras para filmes etc, mas depois do grande sucesso do álbum The Dark Side Of The Moon o caminho estava definido. Foi justamente na década de 70 em que o Pink Floyd finalmente entrou na galeria das grandes bandas de rock. Abraçando o Rock Progressivo definitivamente (embora alguns neguem que o Pink Floyd seja na essência um grupo dessa vertente do rock), o Floyd iria seguir uma linha de trabalho nesses anos que era de certo modo à prova de falhas, tanto do ponto de vista comercial como artístico. O álbum da virada talvez tenha sido Atom Heart Mother, ainda um tanto experimental, mas mostrando claramente uma coerência de estilo. O disco fez sucesso, embora hoje Roger Waters e David Gilmour não o considere isento de críticas. Depois dele Meddle consolidou esse novo estilo musical do grupo o que desembocaria na consagração com Dark Side.

Com Wish You Were Here o grupo deu continuidade aos trabalhos. O álbum só possui 5 faixas, o que era o número médio de músicas utilizadas em EPs (compactos duplos) na época. Além dessa singularidade as canções eram de longa duração, o que para o convencionalismo reinante naqueles anos era sinal de morte nas paradas, pois nenhuma rádio iria tocar canções tão longas como aquelas em sua programação. Para bandas comerciais todas essas regras eram seguidas à risca, mas não para o Pink Floyd, que já trazia há tempos em seus discos faixas nesse estilo. Afinal ser Progressivo era prezar pela virtuose, pela minuciosa elaboração de arranjos, numa simbiose bem próxima ao gênero erudito e clássico. O grande destaque do disco é a canção Shine On You Crazy Diamond, que abre e fecha o álbum. Dividido em partes, tal como acontece nas músicas e peças eruditas, a música virou símbolo da melhor fase do grupo. A canção havia sido composta em homenagem a Syd Barrett, naquela altura completamente entregue à doença mental que o levou a sair da banda. Reza a lenda que Syd chegou a aparecer nos estúdios durante a gravação de um dos álbuns do Pink Floyd, completamente careca e fora de si. O fato chocou tanto os membros do grupo que eles resolveram homenagear seu antigo líder com essa faixa.

Já a canção título do álbum não foi, como alguns pensam, também composta para Syd. O próprio Roger Waters esclareceu que Wish You Were Here foi na realidade composta em homenagem a seu pai, morto em combate. Embora esse fato tenha dado origem a um dos mais fracos trabalhos do grupo, com The Final Cut, aqui tudo soa maravilhosamente bem e coeso. Sem dúvida a canção é um dos clássicos absolutos da banda britânica. O álbum fecha seu ciclo com duas outras ótimas canções, Welcome To The Machine (uma crítica à indústria musical e à sociedade industrial como um todo) e Have a Cigar (outra canção com temática crítica em relação ao chamado Show Business). Embora tenha sido rotulado como um álbum conceitual baseado em perda e saudade, Wish é muito mais do que isso. É um trabalho complexo, extremamente rico do ponto de vista musical e que deve ser conhecido por quem gosta de boa música. Um sucessor digno da grandiosidade de The Dark Side of The Moon.

Wish You Were Here (1975)
1. Shine On You Crazy Diamond (Parts I–V)
2. Welcome to the Machine
3. Have a Cigar
4. Wish You Were Here
5. Shine On You Crazy Diamond (Parts VI–IX)

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de julho de 2024

George Harrison - Living in the Material World

George Harrison - Living in the Material World
Depois do fim dos Beatles, George lançou um ótimo álbum triplo chamado "All Things Must Pass". Sucesso de público e crítica, esse disco foi mesmo uma explosão de criatividade para ele, com muitas músicas que tinham sido compostas na época dos Beatles, mas que não tinham encontrado espaço na discografia do famoso grupo. Então quando os Beatles acabaram, George deu início em sua carreira solo. Esse foi o seu segundo disco. Curiosamente ele levaria três anos sem lançar algo de novo no mercado. Parecia exausto depois dos Beatles e do lançamento de seu primeiro álbum solo nessa nova fase. 

Esse "Living in the Material World" trazia muitas letras de natureza espiritualista. O próprio nome do disco, "Vivendo no Mundo Material" dava pistas sobre isso. George nunca perdeu seu fascínio pelas religiões orientais e sua filosofia. Por essa razão quando se viu livre do controle de Paul e John, ele passou a desenvolver melhor seu trabalho como letrista, trazendo aspirações e pensamentos bem pessoais. E talvez esse excesso de religiosidade também tenha atrapalhado as vendas desse segundo disco. As pessoas em geral não tinham mais muito interesse nesse tipo de material. Muitos achavam coisa de hippie velho! No final das contas esse repertório não fez sucesso. Até mesmo a música mais trabalhada pela gravadora,  "Give Me Love (Give Me Peace on Earth)", teve pouca repercussão nas rádios. Assim George acabou experimentando o primeiro disco mal sucedido em vendas de sua carreira. 

George Harrison - Living in the Material World (1973)
Give Me Love (Give Me Peace on Earth)
Sue Me, Sue You Blues
The Light That Has Lighted the World
Don't Let Me Wait Too Long
Who Can See It
Living in the Material World
The Lord Loves the One (That Loves the Lord)
Be Here Now
Try Some, Buy Some"
The Day the World Gets 'Round
That Is All

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 5 de julho de 2024

John Lennon - Unfinished Music No. 2: Life with the Lions

Segundo álbum de sons experimentais de John Lennon e Yoko Ono. Esse disco nasceu de uma fase bem conturbada na vida do casal. Eles queriam ter um filho para concretizar de vez seu relacionamento mas para Yoko isso estava cada vez mais se tornando distante, principalmente por causa de sua idade. Qualquer gravidez seria de risco por causa disso. Após várias tentativas finalmente Yoko ficou grávida, o que gerou um grande entusiasmo em John.

Infelizmente depois de algumas semanas de gestação ela foi internada às pressas em um hospital de Nova Iorque com problemas sérios que acabaram a levando a um aborto. Lennon obviamente ficou bastante arrasado com o fato mas como sempre acontecia resolveu levar sua dor para sua obra. Ao saber que seu filho teria poucas horas de vida, John pediu à equipe de cirurgiões do hospital que gravassem os últimos batimentos cardíacos dele antes de falecer. Essa gravação ele acabou usando justamente aqui nesse disco “Unfinished Music No. 2: Life with the Lions”.

A foto da capa também registrava esse terrível momento com Lennon sentado no chão ao lado de Yoko na cama do hospital. No meio da emergência da situação não havia uma cama para Lennon no leito de Yoko mas ele nem se importou, ficou no chão mesmo, esperando ela se recuperar da cirurgia. Em uma entrevista recordou depois: “Não havia uma cama para o beatle John. Afinal de contas quem precisa de um beatle?”. Esse é um trabalho que segue a filosofia do disco anterior, ou seja, é um tipo muito especifico de proposta que provavelmente só vai interessar mesmo os mais fanáticos fãs de John Lennon e Yoko Ono.

Não tem nada a ver com os discos comerciais de John ao lado dos Beatles. Analisando bem esse tipo de gravação sempre teve muito mais a ver com a arte de Yoko do que a de John. São apenas sons experimentais, sonoridades ao acaso, unidas sem que necessariamente façam algum sentido. Não deixa de ser interessante, temos que reconhecer, mas dificilmente convida o ouvinte a mais de uma audição. O fã de Lennon conhece esse tipo de álbum mais para matar a curiosidade do que por qualquer outra coisa. Tudo soa como alternativo ao extremo. De qualquer maneira fica aqui o registro para os admiradores do membro mais radical dos Beatles. 

John Lennon - Unfinished Music No. 2: Life with the Lions (1969)
Cambridge 1969
No Bed for Beatle John
Baby's Heartbeat
Two Minutes Silence
Radio Play

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de julho de 2024

Paul McCartney - Ram

Enquanto Paul brigava na justiça contra seus ex-colegas de banda, o selo Apple colocou no mercado o novo trabalho de McCartney. O título era bem diferente e a capa idem, com Paul segurando os chifres de um de seus carneiros na sua fazenda na Escócia. A razão de ser era que Paul havia composto a grande maioria das canções enquanto tirava férias nessa propriedade rural. Então para preservar o clima em que elas foram criadas ele resolveu trazer todo o conceito para dar nome ao álbum. Por essa época Paul já tinha o projeto de formar uma nova banda mas ainda não tinha decidido como isso seria feito, assim resolveu creditar o disco como sendo de Paul e Linda McCartney.

Embora as músicas tenham sido criadas no meio rural, bem no meio do campo, Paul resolve dar uma caprichada dessa vez em termos de estúdio. Resolveu que iria gravar tudo em Nova Iorque nos estúdios da Columbia, que naquela época oferecia o que havia de melhor em termos tecnológicos. A presença de Paul em Nova Iorque aliás parece ter incomodado John que passou a soltar farpas pela imprensa contra o ex amigo dos Beatles. Embora ainda não tivesse conseguido o tão cobiçado green card que lhe dava direito de viver e trabalhar nos Estados Unidos, Lennon considerava já naquela época a cidade como seu lar definitivo. De repente ter Paul McCartney rondando por lá parece ter incomodado bastante John.

Como os processos ainda estavam todos pendentes John começou a soltar indiretas em direção a McCartney nas letras de suas próprias canções. Paul ficou surpreso mas topou a provocação e também começou a mandar sutis ataques contra Lennon. A imprensa obviamente se esbaldou ao ver aqueles dois ídolos brigando publicamente e acirrou os ânimos em relação a eles. Apesar de ter levado na esportiva por um tempo Paul começou realmente a se incomodar e resolveu terminar as gravações de Ram, levando os tapes para Londres para que recebessem a mixagem final.

Ram chegou nas lojas em maio de 1971. Logo na primeira semana mostrou-se um verdadeiro sucesso de vendas mas a crítica torceu o nariz. Os americanos principalmente não conseguiram captar direito a mensagem de Paul e desmereceram seu disco como um todo, embora sobrassem elogios para uma ou outra faixa. Paul ficou meio decepcionado com a reação fria dos especialistas, o que talvez tenha aumentado sua vontade de formar um novo grupo que iria ser os Wings. De fato esse seria o último disco de Paul assinado apenas por ele mesmo por um longo período de tempo.

Também foi um dos raros em que resolveu gravar nos Estados Unidos já que preferia mesmo trabalhar em Londres. Paul também chegou na conclusão que produzir seus discos também não era uma boa ideia pois ele gostava de trocar opiniões sobre isso enquanto estava gravando. Assim começou a sentir a falta de George Martin, o maravilhoso produtor dos Beatles. Ele queria voltar a trabalhar com Martin mais cedo ou mais tarde. Em breve ele estaria com novo grupo musical no mercado e desejava que seus discos apresentassem uma sonoridade de primeira linha, tal como os álbuns maravilhosos que gravou com os Beatles. Os fãs não perdiam por esperar...

Vamos tecer alguns comentários sobre as músicas do álbum "Ram", começando pelo antigo Lado A do vinil (para matar as saudades dos nostálgicos em geral).

Too Many People (Paul McCartney) - Em entrevista John Lennon não perdoou Paul McCartney por essa música. Na visão de Lennon a letra da canção era uma provocação direta a ele! Será mesmo? Não penso que seja tão direta assim. Na canção Paul fala sobre pessoas que perdem a grande chance de suas vidas, a "quebrando em dois", ou em outras palavras, jogando fora aquele grande lance de sorte que acaba mudando a vida de uma pessoa (no caso John). Estaria mesmo Paul falando de John dizendo que ele jogara a grande chance de sua vida (os Beatles) fora? Vai da cabeça de cada um, Lennon se convenceu que sim mas Paul sempre negou qualquer ligação entre a letra, John e o fim dos Beatles. Para ele é apenas uma boa canção e nada mais.

3 Legs (Paul McCartney) - Se a música anterior dava tanta margem para interpretações diversas o que dizer de uma canção chamada "3 Pernas"? A letra chega a ser bucólica, sob uma viés de humor negro. Paul cita seu cachorro que só tem três pernas, coitado! E de se perguntar onde entraria a querida cadela Martha no meio disso tudo! A sensação mesmo é de estar no meio da fazenda de Paul na Escócia, o que aliás é bem adequado já que ele mesmo sempre disse que essas canções foram escritas enquanto estava de férias em sua propriedade rural por lá.

Ram On (Paul McCartney) - No começo mais parece uma gravação informal, um take alternativo qualquer, mas depois Paul entra com um arranjo bem rústico mas simpático. A letra é mínima, poucos versos. Parece uma daquelas musiquinhas compostas para cantar com a família depois do almoço de domingão. Sim, divertida.

Dear Boy (Paul McCartney / Linda McCartney) - Outra canção que John Lennon levou para o lado pessoal. No caso o tal "Dear Boy" seria ele mesmo! Como? John achava que os versos "Eu acho que você nunca soube, meu caro, o que você encontrou" e "Eu espero que você nunca saiba o quanto você perdeu" eram recados diretos a ele. No caso Paul estaria dizendo a John que ele nunca conseguiu entender o quanto os Beatles significavam não apenas para eles, mas também para o mundo inteiro. Nem ele tinha consciência do que teria encontrado ao entrar nos Beatles e nem o que havia perdido ao sair do grupo. Essa letra, ao contrário da outra, faz mais sentido sob o ponto de vista de Lennon.

Uncle Albert / Admiral Halsey (Paul McCartney / Linda McCartney) - Essa faixa foi composta em "homenagem" a um tio de Paul chamado Albert. O próprio Paul relembrou ele em uma entrevista dizendo: "Tio Albert era um bom homem. Nas reuniões de família ele sempre ficava caindo de bêbado e então começava a citar trechos da bíblia - todos errados! Era muito divertido". Talvez por ser tão pessoal acabou caindo nas graças do público inglês e virou o maior sucesso do álbum na Inglaterra. No resto do mundo não teve maior repercussão, apesar de seu belo arranjo e melodia.

Smile Away (Paul McCartney) - Em minha opinião a primeira faixa realmente forte do disco, com ótimo arranjo de guitarras e uma vocalização que chega até mesmo a me lembrar do Beach Boys em seus bons tempos. Um rock de primeira, sem dúvida. A letra é até bem trabalhada para um autêntico momento rocker do disco como esse. Gosto bastante dos solos de guitarra, do vocal de Paul, de seu grupo de apoio e dos arranjos em geral. Uma beleza.

Heart of the Country (Paul McCartney) - Faixa que abria o lado B do antigo vinil. Esse lado, temos que admitir, não é tão bom quanto o lado A. Isso se deve a uma certa dificuldade por parte de Paul em arrumar melhor a estrutura do disco - algo comum em artistas que começam uma carreira solo como ele naquele momento de sua vida. Essa música tem uma melodia engraçadinha, bem bucólica, que aliás combina muito bem com o clipe, onde Paul e Linda passeiam a cavalo, namoram na praia e brincam com Martha, a famosa cadela de Paul. Não gosto muito, mas confesso que é um momento simpático (embora inofensivo) do disco.

Monkberry Moon Delight (Paul McCartney) - Paul, com vocalização visceral, tenta trazer algum interesse nessa música obscura que hoje em dia está completamente esquecida. Os arranjos circenses me lembram vagamente dos dias de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" mas claro que vai um abismo de diferença entre os dois trabalhos. O refrão se torna um pouco cansativo depois de alguns minutos (a canção é extensa, uma das mais longas do disco). Não está entre os grandes momentos do álbum.

Eat at Home (Paul McCartney) - Gosto bastante do arranjo forte dessa faixa. O dueto entre guitarras ao fundo é seu ponto de interesse. A melodia também não aborrece, pelo contrário, me soa como uma das mais agradáveis de todo o disco - principalmente pelo pegajoso refrão. Essa foi gravada em Nova Iorque e nela podemos sentir a diferença que faz uma boa produção em uma gravação. O solo de Paul também faz toda a diferença do mundo. Deu origem a um single que só foi lançado no mercado inglês em setembro de 1971. Provavelmente a melhor canção do Lado B.

Long Haired Lady (Paul McCartney) - Mais um canção que mostra Paul em busca de uma sonoridade própria, longe dos Beatles. Aqui ele destaca mais uma vez os backing vocais de Linda (algo que em excesso enche um pouco a paciência, tenho que admitir). A garota da letra inclusive é Linda, obviamente.

Ram On (Paul McCartney) - É praticamente a mesma musiquinha do Lado A, com arranjo levemente diferenciado, mas com o mesmo Paul mandando ver no ukelele. Sem maior interesse.

The Back Seat of My Car (Paul McCartney) - Paul encerra "Ram" com essa interessante canção, muito bem arranjada e produzida. Muitos não gostam, acham a faixa excessiva, com arroubos melódicos por parte dele, mas não vejo assim. Não é das minhas melodias preferidas do disco mas mantém um desenvolvimento que de certa forma me lembra de gravações que Paul faria anos depois, como por exemplo, do disco "London Town". Aqui Paul contou com a participação da filarmônica de Nova Iorque, mostrando que ele estava disposto a caprichar na faixa. "The Back Seat of My Car" inclusive foi lançada em um single promocional em agosto daquele ano. Fecha bem o disco que é marcado por apresentar realmente altos e baixos em sua seleção musical.

Ram - Paul McCartney (1971) - Paul McCartney (vocais, baixo, piano, teclados, guitarra e ukelele) / Linda McCartney (Backing vocais) / David Spinozza (guitarra) / Hugh McCracken (guitarra) / Denny Seiwell (bateria) / Heather McCartney (Backing vocais) / Marvin Stamm (flugelhorn) / New York Philharmonic / Produzido e arranjado por Paul McCartney / Data de gravação: janeiro de 1970 - janeiro, fevereiro e abril de 1971 / Data de Lançamento: maio de 1971 / Melhor posição nas charts: # 2 (Billboard EUA) e # 1 (Inglaterra).

Pablo Aluísio.