sábado, 29 de junho de 2024

Roy Orbison - Only the Lonely

Viver na década de 1960 deveria ser uma maravilha. Você ligava o rádio de seu carrão rabo de peixe e de repente surgia o Roy Orbison cantando "Only the Lonely" na programação, música que estava em primeiro lugar entre as mais vendidas da quente lista Billboard Hot 100. Olhando para trás podemos perceber bem que Roy Orbison foi um herói improvável. Míope, com visual careta (até para aquela época), de uma timidez incrível, o cantor e compositor superou todos esses problemas para se tornar um dos mais admirados músicos da história americana. Tudo o que lhe faltava em termos de visual lhe sobrava em talento. Quando Roy Orbison abria a boca para cantar não havia mais como lhe ignorar. Era aquele tipo de melodia que tocava fundo na alma. Roy sempre foi considerado um dos mais sentimentais e profundos intérpretes da música daquele país. Suas letras também tinham um sentimento único, quase insuportável para quem estava passando por alguma crise amorosa.

Esse single "Only the Lonely" foi um de seus grande hits. A letra é incrível pois consegue passar uma bela mensagem mesmo usando uma poesia das mais simples. A canção quase foi gravada por Elvis Presley. A RCA apostava que ela poderia ser gravada por Elvis em suas primeiras sessões depois de voltar do exército mas por um motivo ou outro o astro não as gravou. Em compensação quando Roy Orbison finalmente resolveu gravá-la acabou levando para a sessão vários músicos que tocavam com Elvis, como por exemplo o baixista Bob Moore, o pianista Floyd Cramer e a dupla de guitarristas preferida do rei, Hank Garland e Harold Bradley. Com tantos feras ao seu lado nem é preciso dizer que a gravação ficou ótima, maravilhosa até! O próprio Roy Orbison reconheceria isso anos depois a citando em uma entrevista como um de seus melhores trabalhos de estúdio. Se a balada romântica dos 60´s teve um nome ela certamente foi "Only the Lonely"! Uma canção que marcou época!

Roy Orbison - Only the Lonely (1960)
Categoria: Single
Lado A: Only the Lonely / Lado B: Here Comes That Song Again
Selo: Monument Records 
Autores: Roy Orbison, Joe Melson
Data de Lançamento: Maio de 1960.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

The Beach Boys - All Summer Long

A grande resposta comercial da indústria fonográfica americana contra a chamada invasão britânica não foi Elvis Presley como muitos pensam. Foi o grupo The Beach Boys. Por isso sempre considerei muito subestimado o papel que esse grupo ocupa nos dias de hoje quando se olha para trás na história da música popular mundial. Eles quase sempre são encarados como surfistas despreocupados que faziam um som de praia, para a moçada da época se divertir nas areias em noites de luar. Uma visão simplista.

Esse álbum foi lançado no auge da Beatlemania, quando o grupo inglês conseguia ocupar praticamente todos os primeiros lugares da parada. Era um fenômeno sem precedentes dentro da indústria. Para combater os cabeludos de terninho a gravadora Capital (ironicamente a mesma que lançava os discos dos Beatles nos Estados Unidos) investiu pesado na panelinha da casa. E onde estava Elvis, o Rei do Rock nesse mesmo período? Ora, estava afundando em Hollywood, estrelando coisas como "Kissin Cousins", filmes ruins que não conseguiam mais chamar a atenção dos jovens. Por isso grupos mais antenados com eles, como o próprio Beach Boys, ocupavam cada vez mais espaço, crescendo no vácuo real deixado por Presley.

O disco é inegavelmente divertido, agradável e com ótima sonoridade. A capa é uma das mais simpáticas da história de rock, como se fosse um recorte de memórias das férias de verão. Assim que se coloca para rodar o ouvinte se depara logo com um dos maiores sucessos do grupo, o clássico "I Get Around", uma faixa que fez muito bonito nas paradas de 64. É sem dúvida uma vocalização perfeita, com uma melodia que lembra um carrossel sonoro. Impecável. Depois dela não temos nada tão talentoso e inspirador. A música que dá nome ao álbum até que é bonitinha, mas nada demais. Sempre implico com seu arranjo que mais parece de canções infantis. Coisas dos garotos da praia. Se você ainda não sabe direito o que é uma beach music sugiro que ouça com atenção a terceira música do disco, "Hushabye". É uma bobagem sentimental que quase sem letra ainda consegue criar um clima de nostalgia no ouvinte. Realmente impressiona pelo clima, nos levando mentalmente a ver um casal de namorados adolescentes passeando pela praia à noite, trocando juras de amor!

"Little Honda" que vem depois foi muito promovida nas rádios, apresentando duas ousadias em se tratando de Beach Boys: tinha um ritmo realmente cortante, de puro rock dos anos 50 e uma duração que era uma verdadeira eternidade para os padrões do grupo: quase sete minutos de duração! Não era assim um Pink Floyd, mas impressionava os brotos dos anos 60. O resto do disco infelizmente é apenas uma repetição de fórmulas, com nenhum momento marcante. Apenas "Drive-In" conseguiu me chamar a atenção, com um bom arranjo e uma letra pra lá de divertida. Enfim é isso. Tudo tão descontraído e descompromissado como um grupo como esse poderia soar naqueles tempos, apesar da grande responsabilidade de ter que encarar o maior conjunto de rock da história nas paradas de sucesso.

The Beach Boys - All Summer Long (1964)
1) I Get Around
2) All Summer Long
3) Hushabye
4) Little Honda
5) We'll Run Away
6) Carl's Big Chance
7) Wendy
8) Do You Remember?
9) Girls On The Beach
10) Drive-In
11) Our Favorite Recording Sessions
12) Don't Back Down

Pablo Aluísio.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Rolling Stones - Gimme Shelter

Documentário musical que deveria celebrar mais uma turnê americana dos Rolling Stones, mas que acabou terminando em tragédia. Acontece que durante um dos concertos do grupo o vocalista Mick Jagger teve a péssima ideia de dispensar o uso de seguranças profissionais, contratando ao invés disso membros dos Hells Angels para fazer esse serviço. Talvez querendo dar uma de deslocado ou de hippie paz e amor, Jagger cometeu o maior erro de sua carreira. Não demorou nada para que os motoqueiros começassem a sair na porrada com o público. Pior do que isso, um rapaz foi morto durante a confusão. 

Isso obviamente mancharia para sempre os Stones, até porque a imprensa não deixou barato, culpando os membros do grupo pela morte do jovem. E de certa maneira eles eram mesmo culpados. Esse documentário ficou bastante tempo arquivado, justamente pela imagem do assassinato, mas depois acabou sendo lançado. Um registro triste da história do rock. Fica pelo menos como lição. Afinal organizar concertos de rock exige um profissionalismo completo. Não adianta ter ideias estúpidas achando que elas são revolucionárias ou inovadoras. Não são, são apenas estúpidas mesmo. 

Rolling Stones - Gimme Shelter (Gimme Shelter, Estados Unidos, 1970) Direção: Albert Maysles, David Maysles / Roteiro: Albert Maysles, David Maysles / Elenco: Mick Jagger, Keith Richards, Mick Taylor, demais membros dos Stones e a gangue de motoqueiros Hells Angels / Sinopse: Documentário sobre a maior tragédia da banda Rolling Stones, quando Mick Jagger resolveu contratar como seguranças os membros da gangue de motoqueiros Hells Angels. No meio da confusão que cerca o concerto um jovem rapaz acabou sendo morto pelos membros do motoclube.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

The Doors - Absolutely Live

Esse foi o único álbum ao vivo lançado pelos Doors em sua carreira. Obviamente que depois do fim do conjunto outros títulos foram lançados mas “Absolutey Live” segue sendo o único lançado pelos próprios Doors. Isso é de se admirar pois uma das maiores forças do grupo vinha justamente de seus concertos. Jim Morrison não se contentava em apenas subir no palco, cantar algumas músicas e ir embora. Quem acompanhou a história dos Doors sabe que um show deles era uma verdadeira roleta russa musical e social. Morrison poderia fazer um show preguiçoso ou então incendiar com tudo ao redor. Em certos aspectos não havia meio termo, basta lembrar que ele foi o primeiro rockstar a ser preso duas vezes em pleno palco, bem no meio de suas apresentações. Por causa de suas performances lisérgicas, Jim Morrison foi chamado de tudo, louco, maníaco, Rasputin! Infelizmente a grande maioria dos shows que o Doors fez no auge de seu sucesso não foi gravada. Nem mesmo os mais polêmicos como o de Miami onde ele foi preso por causar um tumulto épico.

Esse “Absolutely Live” foi gravado na turnê dos Doors em 1970. Por essa época Jim Morrison estava em uma verdadeira maratona jurídica, sendo processado por todos os lados, justamente pelas coisas que fazia ao vivo. Por essa razão são shows em que ele está bem mais contido, tentando provar que poderia fazer uma apresentação sem causar tantos problemas. Com uma barba messiânica, com muitos quilos acima do peso, olhar vidrado, fruto obviamente de seus excessos, Jim em pouco lembrava o jovem alucinado e sem freios dos anos anteriores. Isso porém não significa que o álbum seja ruim, longe disso, mas também não retrata o incendiário Jim Morrison que causou tanta polêmica nos anos 60. Os problemas com álcool e drogas obviamente continuavam mas Jim era pressionado a não dar vexames do tipo baixar as calças para o público como fez nos anos anteriores. Em algumas faixas Morrison mostra estar aparentemente embriagado e em outros lhe falta fôlego. Mesmo assim, por sua importância histórica, não deixa de ser um disco essencial na discografia de todo e bom roqueiro. Uma chance única de conhecer os Doors em seus shows ao vivo.

The Doors – Absolutely Live (1970)
House Announcer
Who Do You Love?
Alabama Song (Whisky Bar)
Back Door Man
Love Hides
Five to One
Build Me a Woman
When the Music's Over
Close to You
Universal Mind
Petition the Lord with Prayer
Dead Cats, Dead Rats
Break On Through (to the Other Side)
Celebration of the Lizard
Lions in the Street
Wake Up
A Little Game
The Hill Dwellers
Not To Touch The Earth
Names of the Kingdom
The Palace of Exile
Soul Kitchen

Pablo Aluísio.

terça-feira, 18 de junho de 2024

The Beatles – Yellow Submarine

Os Beatles  tinham de realizar mais um filme por obrigação contratual. Depois de “A Hard Day´s Night” e “Help” era pouco provável que naquela altura de suas carreiras eles voltassem para fazer mais uma produção daquelas. O próprio John Lennon já havia dito publicamente que os Beatles não eram atores e nem tinham o menor interesse nisso (bem ao contrário de Elvis Presley que tentou emplacar uma carreira no cinema americano por anos). Assim embora estivessem obrigados por contrato a fazer mais um filme não tinham a menor intenção de atuar novamente.

Para resolver o impasse surgiu uma ideia original e salvadora: se não havia obrigação de ser um filme convencional por que não realizar uma animação, um desenho animado? Assim os Beatles cumpriam seu contrato e não precisavam dar duro dentro do novo projeto. Assim que a ideia surgiu, John, Paul, George e Ringo a abraçaram instantaneamente. Um desenho animado com os Beatles para o cinema parecia ser uma grande sacada! Um estúdio de animação foi contratado e os trabalhos começaram. Em relação a trilha sonora ficou decidido que seriam aproveitadas canções já gravadas pelos Beatles, incluindo a música título, “Yellow Submarine” do álbum Revolver. A EMI porém não ficou muito contente com a solução. Uma trilha sonora seria obviamente lançada mas sem material novo suas chances de vender bem caíam consideravelmente.

Para contornar mais uma vez o impasse os Beatles concordaram em gravar algumas canções inéditas – não a ponto de completar um disco inteiro mas como forma de atrair os fãs dos Beatles nas lojas, comprando o álbum. Paul então compôs uma música infantil muito bonitinha e carismática chamada “All Together Now”, que imitava o estilo de aprender cantando das canções dos canais educativos ingleses. John, imerso em uma rotina pesada de uso de drogas, se virou como foi possível e trouxe "Hey Bulldog" para a gravação. Tudo foi meio mal gravado, com muita zoação dentro do estúdio mas George Martin decidiu lançar assim mesmo. Para completar Harrison trouxe a estranha "It´s All Too Much" que longa demais logo se tornava maçante.

O Lado B do vinil original seria completado com as canções incidentais compostas por George Martin. Paul e John ainda ajudaram na faixa instrumental "Yellow Submarine in Pepperland" e por essa razão foram creditados. Quando o filme foi lançado a crítica de forma em geral elogiou bastante. Já a trilha recebeu sua dose de resenhas desfavoráveis. O grupo chegou ao ponto de ser chamado de “preguiçoso” por não ter se esforçado mais na gravação de material inédito para o disco. Embora a parte de George Martin tenha sido elogiada os Beatles foram criticados por não terem composto mais canções para a animação. No final os Beatles ficaram tão satisfeitos com o desenho que resolveram gravar uma pequena participação para ser usada na cena final do filme. Hoje "Yellow Submarine" é considerado uma pequena obra prima do cinema, isso apesar de todos os problemas enfrentados em sua produção. Um final feliz para um projeto que nasceu da conveniência mas que se superou por suas próprias qualidades cinematográficas.

The Beatles - Yellow Submarine (1968)
Yellow Submarine
Only a Northern Song
All Together Now
Hey Bulldog
It's All Too Much
All You Need Is Love
Pepperland
Sea of Time
Sea of Holes
Sea of Monsters
March of the Meanies
Pepperland Laid Waste
Yellow Submarine in Pepperland

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Chuck Berry - Chuck Berry Blues

Há um certo consenso sobre a carreira de Chuck Berry sobre o fato dele ser muito mais do que apenas um roqueiro celebrado pelos anos pioneiros do surgimento do Rock americano, lá nos distantes anos 50. Na verdade Chuck deve ser celebrado também como um talentoso intérprete de blues. Até porque não há como separar o rock original de todos aqueles gêneros que lhe deram origem com especial destaque para o próprio blues, o gospel e até mesmo o jazz. Cada um desses estilos deram sua contribuição para o surgimento daquele novo idioma musical que ficaria conhecido popularmente como Rock ´n´ Roll.

Uma boa oportunidade para conhecer o blueseiro Berry vem justamente desse álbum chamado muito apropriadamente de "Chuck Berry Blues". A edição em CD vem com 16 faixas, quatro a mais do que o LP original. No repertório vemos o cantor tentando resgatar suas origens. Berry não se sai mal em nenhuma das gravações, mas temos que reconhecer que ele não também não consegue ser tão brilhante como em seu lado rocker, já que como roqueiro ele foi um dos mais importantes da história. Como blueseiro, devo dizer, ele é apenas um músico esforçado, embora como eu escrevi, talentoso. Berry chega a até mesmo, em momentos ocasionais, a brilhar como em "I Just Want To Make Love To You", "The Things I Used To Do" e principalmente "St. Louis Blues". Mesmo assim há momentos que deixam a desejar como na preguiçosa "Still Got The Blues", onde Berry parece se contentar em ficar no piloto automático, apelando para clichês. Dentro do blues o grande mentor de Berry, como ele sempre admitiu, sempre foi Willie Dixon. Na prática porém Berry chega mais próximo do estilo de Muddy Waters, o que convenhamos também não é nada mal.

Chuck Berry - Chuck Berry Blues
House Of Blue Lights 
Wee Wee Hours 
Deep Feeling 
I Just Want To Make Love To You 
How You've Changed 
Down The Road Apiece 
Worried Life Blues 
Confessin' The Blues 
Still Got The Blues
Driftin' Blues 
Run Around 
Route 66 
Sweet Sixteen 
All Aboard 
The Things I Used To Do 
St. Louis Blues.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Little Richard - The Wild and Frantic Little Richard

Esse foi o único vinil que tive em minha coleção do grande Little Richard. Eu o comprei ao vê-lo na sessão de promoções em uma loja de discos (nos tempos em que ainda existiam lojas de discos!). Claro que após alguns anos comprei CDs do Richard, mas em vinil, LP, esse foi realmente o único que tive do artista. E, ao que me lembre, era uma edição nacional, o que realmente é algo surpreendente. Pensar que um álbum de 1967, do Little Richard, que nunca foi popular no Brasil, ter um disco lançado em selo nacional, realmente é algo fora dos padrões.

A sonoridade não era muito boa. Esse disco na realidade foi um trabalho de fim de festa para Little Richard. Seu contrato com  Modern Records havia chegado ao final e eles não queriam mais renovar com ele. Assim Littler Richard acabou gravando poucas músicas. A gravadora acabou completando com a inclusão de faixas diversas que tinha em arquivo, algumas delas gravadas ao vivo. Por isso não espere por nada muito caprichado ou bem gravado. A tônica é outra. O que vale é a importância histórica, desse grande nome da história do rock americano. Qualquer tentativa de desvalorizar esse disco, por mais simples que ele tenha sido, será, por isso, em vão.

Little Richard - The Wild and Frantic Little Richard (1967)
Baby What You Want Me to Do (live)
Do the Jerk
Directly From My Heart
I'm Back
Holy Mackerel
Good Golly, Miss Molly (live)
Send Me Some Lovin  (live)
Groovy Little Suzy
Baby Don't You Want a Man Like Me
Miss Ann (live)

Pablo Aluísio.